(Domingos Amaral)
Episódio Nº 79
Era o velho cavaleiro
Gondomar, envolto no seu manto branco.
Já o tínhamos visto na
igreja, na véspera, e Afonso Henriques saudou-o:
- Bem-vindo Gondomar da Ordem dos Pobres
Cavaleiros de Cristo.
O visado, enquanto pegava
num pão quente, murmurou:
- Em Jerusalém, de início, nem pão havia.
A padeira incentivou-o a
tirar mais e depois olhou para trás dele, onde outro vulto surgira e exclamou:
- Meu senhor, pareceis doente, comei também!
Era Ramiro, com os olhos
raiados de sangue, pálido e cabisbaixo. Retirou um pequeno pão da bandeja mas
não o levou à boca.
- Posso trazer-vos uma
fogaça ou uma broa – sugeriu a padeira.
Apesar de o notar ainda
transtornado, Afonso Henriques comentou:
- Vejo que estais melhor.
Ramiro encolheu os ombros
mas agradeceu ao príncipe:
- Obrigado pelas vossas palavras, ontem à
noite.
Ao escuta-lo, Gonçalo
barafustou:
- Devíeis era ter-me ajudado a mim! Sois uns
traidores: levo-vos à estalagem e fogem como meninas! Tive de arrasar a pipa
sozinho!
Nós rimo-nos mas Gondomar
fixou-o, preocupado.
- Assim perdei-vos de Deus. Por que não vos
juntais a nós?
Gonçalo observou-o com
desdém.
- Não vejo ninguém convosco. A não ser o
Ramiro, mas, pelo que sei de ontem, esse vai a caminho de
Satanás!
O ancião, desiludido,
confessou:
- Por cá, ainda somos poucos.
Enquanto comia o seu pão,
Gondomar contou-lhes a história dos Pobres Cavaleiros de Cristo. A princípio
haviam sido apenas nove, liderados por Hugo de Payins, um francês.
Chegados a Jerusalém com a
Primeira Cruzada, haviam decidido ficar, pois a vitoriosa demanda da Terra
Santa gerara uma comoção generalizada nos reinos cristãos da Europa, e de toda
a parte tinham avançado os peregrinos.
Depois de longas viagens a
pé, atravessando montanhas, vales e mares, os que não morriam pelo caminho
aportavam a Java, e de lá seguiam, de novo a pé, pela estrada que se dirigia a
Jerusalém.
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