Era por aqui que se entrava em Santarém |
Hoje é Domingo
(Na minha cidade de Santarém em 25710/15)
Morreu Maurenn O´Hara e com ela
desapareceu do mundo dos vivos mais um personagem da minha juventude que há
muitos anos já só vivia na minha imaginação.
A diferença, na prática, não é grande
entre viver só na minha memória e morrer quando se trata de alguém que nunca
conhecemos pessoalmente mas, no entanto, é sempre um pequeno choque.
Ela tinha 95 anos, quase um recorde de
vivência mas, para mim, nunca terá deixado de ser uma jovem e bela mulher de
aspecto inconfundível envolta em aventuras.
No princípio dos anos sessenta tudo era
completamente diferente e essa diferença era tão grande que só se apercebe dela
completamente quem a viveu no esplendor da sua juventude e agora, mais de
cinquenta anos depois, assiste à definitiva saída de cena dos seus heróis
desse tempo.
Os filmes tinham então um papel muito
diferente, quando não havia ainda televisão e só o teatro, então mais divulgado
do que agora, especialmente o de Revista, se ofereciam para preencher os tempos
livres.
Hoje, para as pessoas da minha geração,
o cinema é quase já uma curiosidade, para matar saudades, para recordar o
ambiente de uma sala que nesse tempo estava normalmente cheia e agora quase
sempre vazia.
Não sei quantos filmes vi da Marinne Ó
Hara mas a sua imagem está na minha memória ligada a aventuras em que ela era a
fiel companheira de um dos meus heróis, fosse ele o Gary Cooper ou o John Waine
que, obrigatoriamente, tinha de beijar no fim para a história acabar em beleza.
Eu era, no princípio dos anos sessenta,
um jovem universitário a estudar em Lisboa vivendo com um orçamento muito
apertado em que, durante uns tempos, os tostões eram contados, literalmente
falando, e ir ao cinema, nessa altura, era fazer uma opção, prescindir de
qualquer coisa de que também gostava ou precisava.
Mergulhar, então, uma tarde, numa sala
de cinema para esquecer o mundo à minha volta tinha um duplo preço só possível
porque os meus heróis eram irresistíveis e absorventes.
Todos nós, jovens dessa época,
estudantes em Lisboa, que iam às matinés ficámos um pouco americanizados, como os nossos heróis o eram.
Morreu Marenn Ó Hara mas a sua figura de
loura arruivada, lábios pintados de encarnado vivo e lindos olhos azuis claros, vai continuar sendo, para mim, independentemente do facto de ter morrido agora, aos 95 anos, uma personagem viva do passado da minha memória e lá vai continuar até
chegar a minha vez.
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