segunda-feira, outubro 19, 2015

Um bonsai
O País

Bonsai





















Um bonsai não serve para mais nada que não seja para a contemplação. De um bonsai não se extrai madeira, nem fruto. Apenas se extrai prazer contemplando-o. O que já não é pouco.

Portugal é um país bonsai. O nosso território é apenas um pequeno tabuleiro. É pouco território para grandes crescimentos. É pouco território para grande economia. É pouco território para grande riqueza. (Há o mar, claro, mas nada lá se faz).

Portugal é apenas uma miniatura que se parece com um país, embora uma miniatura bem feitinha, uma gracinha, como diria um brasileiro.

Portugal está organizado, tem infra-estruturas de primeiro mundo, tem cidades limpas e sinalizadas, tem restaurantes bons, tem aeroportos, tem auto-estradas, tem bons carros, tem rede de fibra e wi-fi  por todo o lado, é seguro, as pessoas vestem-se bem, as raças convivem umas com as outras (desde que tenham dinheiro, claro), as praias são do mais civilizado e prazenteiro que há, a gastronomia é descomplicada, o vinho é bom, o peixe e o marisco são ainda melhores, as farmácias funcionam, os hospitais têm boas máquinas e bons médicos, as lojas e lojinhas são simpáticas e falam-se línguas.

Claro que há limitações, como seria de esperar de uma miniatura: a justiça apenas se parece com justiça, a cultura apenas se parece com cultura, os gestores apenas se parecem com gstores...

Enfim, é um bonsai, algumas coisas serão sempre miniaturas. Mas ainda assim, Portugal, com mais ou menos dificuldade, podando aqui e ali, regando e adubando regularmente, tem cumprido o sonho de se parecer com os grandes países modernos.

Somos, apesar de todos os problemas recentes, um bonsai bem conseguido, daqueles que lembram mesmo a coisa que imitam.

Mas somos apenas um bonsai, e às vezes esquecemo-nos de que vivemos numa árvore de contemplar e desatamos a exigir demais desta pobre miniatura.

Uns querem mais ramos e mais firmes, outros prometem maior copa para fazer mais sombra.

Chegamos mesmo a querer que dê flor e fruto como as árvores grandes. Mas não dá.

Dá a ocasional bolota e nada mais. O destino do bonsai está limitado pelo tabuleiro onde vive e aquilo a que melhor pode aspirar é a miniatura.

Claro que para nós, os habitantes, a árvore é do tamanho dos nossos sonhos, do tamanho dos países com que gostamos de nos comparar e a cujas alturas aspiramos ascender: as Américas, as Inglaterras, as Alemanhas, as Franças; é lá que vamos buscar os modelos.

Acontece, como é lógico e de bom senso, que o tratamento não pode ser o mesmo. Não se pode deixar crescer livremente um bonsai esperando que a natureza siga o seu curso.

Se o fizermos, acabaremos apenas com uma arvorezinha defeituosa, mal nutrida, raquítica. É esse o perigo.

Para parecer uma árvore como as outras, um bonsai tem de ter muito mais cuidados, tem de ser especialmente nutrido, com receitas que não são as que a natureza usa nas grandes árvores – que na prática é o laissez faire, o deixar o mercado funcionar – tem de ser especialmente podado, tem de ser regado com frequência.

Um bonsai dá muito mais trabalho do que uma árvore grande, e dá muito menos de tudo.

Na verdade, não dá nada a não ser dispêndio de tempo e, no fim, prazer quando se contempla. É um hobby.

Até agora este nosso bonsai tem sido razoavelmente bem tratado e ainda é um prazer de contemplar – que o digam os milhares de turistas e estrangeiros que por cá passam e os que por cá ficam depois de comprarem o seu pied-à-terre.

Seria uma pena se o proselitismo financeiro e os seus modelos condenassem como irrelevante, improdutivo e dispensável este maravilhoso hobby que é o pequenino país.

Como seria uma pena que uns e outros, por cá, lhes dessem ideias, desatando a estragar tudo.

Pedro Bidarra

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