no meu país
Só o meu
jornalista “predilecto”, Ferreira Fernandes, poderia ter escrito o que escreveu
hoje no DN:
- Ontem, Cavaco tomou posse da sua ida embora.
Há quem afirme,
erradamente, que Cavaco é um equívoco o que é perfeitamente falso. Nada tem de
equívoco, embora tivéssemos tido muitos, políticos e políticas equívocas, de que fomos vítimas, Cavaco, sempre foi coerente, igual a si próprio na sua identidade que
nunca procurou esconder.
Nas duas últimas semanas
e no discurso de ontem limitou-se, apenas, a ser ainda mais igual a si próprio,
isto para aqueles que andaram distraídos nos últimos anos com a
benignidade do nosso clima.
Não, para mim, e não
só, Cavaco foi um persistente erro de casting, exactamente por causa da sua
coerência, diria mesmo, um grosseiro erro de casting, o que é diferente, “um velho do Restelo
moderno, de medo e receio, um mestre de escola antigo, sem uma palavra de
esperança”, como se lhe referiu Lídia Jorge.
De tal forma, que
agora já se ouvem vozes a dizer, que no futuro temos de ter mais cuidado quando
escolhemos a pessoa para colocar neste lugar.
Cavaco é um
Presidente de um sector, estreito, da sociedade portuguesa, um homem de facção
que, por isso mesmo, nunca poderia ser Presidente de um país.
Quem ouviu ontem os
discursos de Cavaco e Costa percebeu, perfeitamente, que alguém estava errado
no seu lugar e não era Costa com as suas palavras apaziguadoras, tranqui las e abrangentes, enquanto que o primeiro se
preparava para nos deixar num beco sem saída, num tom intratável, cujas
palavras eram proferidas por uma autentica “cara de pau”.
Porque não marcou
ele as eleições legislativas para mais cedo de forma a ficar com campo de
manobra e poder marcar novas eleições depois de dissolver a Assembleia?
- Então, não era
perfeitamente previsível que nenhum dos candidatos a 1º Ministro – porque foi
nisto que, erradamente, se transformaram as eleições legislativas – não iria
ter maioria absoluta e só poderia governar com estabilidade no apoio maioritário
do Parlamento?
- Quem é o político bom? – O que não é capaz de perspectivar o futuro ou aquele que vê à distancia
as soluções e acredita na sua capacidade dialogante, de entendimento com os
outros, para as atingir?
- E então, aqui lo que é constitucional não é legítimo?
Tantos elogios que
ao longo dos anos ouvi à nossa Constituição, revista em 1982, e afinal ela
alberga ilegitimidades?...
Cavaco, e a sua
direita foram surpreendidos e a uma surpresa chamaram ilegitimidade.
Também eu fui
surpreendido e a maioria dos portugueses igualmente. Para mim e para a maioria
dessas pessoas de esquerda foi uma agradável surpresa dar voz que não fosse de simples protesto, a 996.872 votos,
quase um milhão de portugueses, que nunca tinham entrado na zona do poder.
Uma surpresa
explicada pela história e características do nosso leque partidário e que era
preciso ultrapassar.
Sendo de direita e
ferrenho, Cavaco não aceitou essa ultrapassagem pela esquerda e ter-lhe dado
corporização no governo a que ontem deu posse foi, sem dúvida, o seu maior
amargo de boca.
É com alívio que o verei
pelas costas no dia 9 de Março do próximo ano para bem do arejamento
democrático neste país.
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