(Domingos Amaral)
Episódio Nº 120
As pessoas começaram a chamar-lhes haschischins ou assasins, pois eram certeiros e letais. Quem Hassan-ibn-Sabbath declarasse que devia morrer era morto por um seu leal servidor. Depois, o assassino matava-se para não ser preso.
Taxfin mantinha-se em silêncio. A morte com
duas pernas nunca deixara ninguém com vida, degolava todos os seus opositores.
Contudo, nunca se matara, ao
contrário do que dizia ter acontecido aos seus colegas de Alamut.
Um dia fui escolhido por
Hassan – Ibn – Sabbath para uma missão muito perigosa e longínqua, no Egipt o. E cumpri-a, matando quem ele me ordenara. Mas
não me matei como outros fedayn.
O homem riu-se para si
próprio emitindo um som maligno como se estivesse possuído por um demónio.
Depois acrescentou.:
- Já sabia o que ia
acontecer em Alamut.
Nem um homem santo e
glorioso consegue enganar a morte explicou o fedayn. Nenhum dos seguidores e sucessores de Hassan-Ibn- Sabbath
conseguiu manter a união e, pouco a pouco, os valorosos fedayn foram partindo.
Apesar de bons religiosos e
bons guerreiros, muitos perderam a fé, outros a capacidade de lutar. Sem
Hassan-Ibn-Sabbath para iluminar as suas almas, apagaram-se na escuridão dos
tempos.
Fui o único que prossegui o
destino em que me iniciaram.
Do Egipt o
partira à procura de quem pagasse os seus serviços.
Sabia matar muito bem, mas
só no califado Almorávida encontrara alguém que o compreendera.
- Ali Yusuf acolheu-me –
disse o fedayn.
Há quase uma década que
aquele carniceiro matava para o califa de Marraquexe, e Taxfin suspirou de
novo. A perna doía-lhe, mexeu-se um pouco na cama. Depois perguntou:
- É verdade o que dizem dos fedayn que fumam muito haxixe antes de matarem, para terem mais
coragem?
O outro respondeu a Taxfin
com uma pergunta:
- Queres fumar haxixe antes
de morrer?
O marido de Zulmira disse
que sim e então o persa atirou-lhe um saco e um cachimbo e Taxfin encheu-o.
Depois perguntou:
- Como o acendo?
Pela primeira vez o homem
mexeu-se e dirigiu-se à lareira. Taxfim viu-o apanhar carvão em brasa com uma
pinça de ferro.
Depois, aproximou-se da cama
e estendeu-lhe a pinça, e Taxfin acendeu o cachimbo nela. Deu umas passas
saboreando o fumo.
Sabia bem, era haxixe de
Marrocos. Uma onda de nostalgia invadiu-o.
- Sabes, disse ao homem –
fumei muito haxixe aqui , em Hisn Abi Cherif com alguns dos
maiores poetas da Andaluzia a declamarem os seus versos à Zulmira.
É disso que vou ter
saudades. Não é de ter sido governador, ou de ter morto tantos cristãos. Vou é
sentir saudades deste castelo de arenito vermelho, e da minha Zulmira a passear
no jardim, entre as margaridas e as rosas.
Deu uma nova passa no
cachimbo e depois cerrou os dentes e disse:
- Abu Zhakaria vai matar-vos.
Ignorando-o o outro
declarou:
- São as ordens do califa: matar-vos, matar a
vossa mulher e matar as filhas dela e de Hixam de Hisn Abi Cherif.
Tranqui lo.
Taxfin apenas perguntou ao seu carrasco:
- Porque não vos matais depois, como mandava o
“Velho da Montanha”?
O alfange ergueu-se e caiu
sobre ele com violência, degolando-o num só golpe.
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