A morte caiu à rua do 5º andar do meu prédio na pessoa da filha do meu vizinho, o Sr. Óscar. Baque violento, brutal, chocante, ensurdecedor.
Ouvimos a morte, o enorme barulho que ela
fez, diferente de todos os outros, igual apenas ao da morte.
Não podia crer, mesmo por baixo da janela do
quarto voltado para as traseiras, junto à parede, esparramada no chão.
Olhei de relance, não qui s
ver, não sabia ainda quem era, mas de certeza que iria adormecer tarde e más
horas e sonharia com ele.
Não morava no prédio, mas aqui vinha diariamente para dar apoio ao pai, viúvo,
velho e com um coração muito doente.
Era, para mim, a pessoa mais simpática que aqui entrava, sempre com piropos... “está muito
bem...” “não envelhece...”, “mas que boa cara que trás hoje...”
Mesmo quando há dias tropecei numa pedra do
passeio e fui com as mãos ao chão, foi ela, que ia a passar, prestimosa, me
ajudou a levantar.
Era assim, bem disposta e sorridente... na
aparência. Na realidade, era doente, dentro de si escondia tendências suicidas.
Andava em tratamento, segundo me disseram depois.
Infelizmente, tenho uma experiência triste
desta doença na pessoa da minha mãe que tantas vezes foi ao hospital fazer
lavagens ao estômago para não morrer com os frascos de comprimidos que tomava,
até que um dia terá chegado demasiado tarde.
O nosso espírito, sendo que existe num
qualquer espaço do nosso cérebro, pode adoecer fortemente chegando ao ponto de
rejeitar o corpo e a vida, numa revolta contra o mais forte instinto da
natureza humana e animal, o da sobrevivência e que, parece, cada vez mais
frequente.
Dos jornais, nos últimos tempos, cinco
polícias puseram termo à vida, provavelmente utilizando a arma que faz parte do
seu equi pamento.
Também eu, em rapaz, pensei em matar-me,
então, atirando-me para debaixo de um auto-carro, depois, uns anos mais
tarde, guiando o meu carro para o rio, da ponte abaixo...
... Sempre por desgostos de amor... Quem, por
eles, não pensou alguma vez em morrer?...
Mas pensar em morrer não é ter tendências
suicidas.
A morte surge como um refúgio, uma fuga, um
grito de revolta contra a impotência de vencer e ultrapassar os nossos
sentimentos.
De tanto querermos viver acabamos a
desejar a morte... é este, por vezes, o grande paradoxo!
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