(Domingos Amaral)
Episódio Nº 127
- Se isto não resultar –
acrescentou o príncipe – passamos ao afrontamento.
Ao princípio não percebi o
que ele queria dizer, mas tudo se tornaria mais claro no dia de Pentecostes,
semanas depois. Assim, e embora ainda ligeiramente receoso, avancei para o
castelo da Maia e juntei-me à ceia que por lá decorria.
Conversei com naturalidade
com os presentes, incluindo o noivo, e até troquei algumas palavras com o Trava,
que ainda me tentou aliciar, elogiando as minhas qualidades guerreiras.
Insinuou que eu daria um bom
alferes da rainha, mas tal não me agradou, pois jamais trairia o meu melhor
amigo.
No final do repasto,
aproximei-me de Maria e de Chamoa, reparando que esta estava sorumbática, o que
não era seu costume.
Com cautela conduzi-as para
um canto da sala, onde lhes revelei que Afonso Henriques estava escondido na
vila e que desejava rapt ar Chamoa na
noite seguinte.
Os olhos dela brilharam de
entusiasmo e até de orgulho. O seu adorado príncipe vinha buscá-la, amava-a a
esse ponto, e de pronto afirmou que iria preparar-se.
Porém minha futura esposa
alertou-a para os perigos, havia guardas por todo o lado, o Trava trouxera
muitas tropas, talvez temendo um golpe destes.
Maria, não quereis que fuja?
– perguntou Chamoa.
A irmã mostrou-se
preocupada. Temia aquela arriscada operação, que corresse mal, que fôssemos
descobertos, que alguém se ferisse.
Embora estivesse do nosso
lado, e compreendesse o enamoramento de Chamoa e do príncipe, sabia que aquele
era um agravo sério, capaz de provocar um conflito grave.
Paio Soares e Dona Teresa,
bem como o nosso tio Fernão, irão perseguir-vos até Guimarães, e não
descansarão enquanto não se vingarem do príncipe! – avisou.
Todos sabíamos que assim
seria, mas a nossa lealdade estava com Afonso Henriques, e por isso declarei:
- Lutaremos por ele e por Chamoa.
Embora aflita a minha futura
cunhada abraçou-me e depois as irmãs retiraram-se para os seus aposentos.
Sorrateiramente saí dali e
desci para a povoação ao encontro de Afonso Henriques e Gonçalo que se haviam
refugiado num casarão agrícola abandonado, já dentro das muralhas de Maia.
Depois de revermos os nossos
planos, regressei ao castelo e recolhi-me nos aposentos que me estavam
destinados.
Ao final da manhã seguinte,
reencontrei Chamoa e Maria e a primeira, muito agitada, revelou o que lhe ia na
alma:
- Desejo que a noite de hoje
chegue o mais depressa. Minha futura esposa manteve o seu ar atormentado, e
logo nos calámos, pois Nunes gomes e Elvira aproximaram-se, tendo esta última
revelado a sua surpresa e até ofensa, com a antipatia com que tinha sido
cumprimentada pelo arcebispo Paio Mendes.
Parece que me odeia e não
quer este casamento! Exclamou a mãe das raparigas, o que me fez baixar os
olhos.
Já Gomes Nunes mostrou-se
menos incomodado, apenas dizendo:
- Não me interessa o que pensa o arcebispo.
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