sábado, dezembro 05, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 127




















- Se isto não resultar – acrescentou o príncipe – passamos ao afrontamento.

Ao princípio não percebi o que ele queria dizer, mas tudo se tornaria mais claro no dia de Pentecostes, semanas depois. Assim, e embora ainda ligeiramente receoso, avancei para o castelo da Maia e juntei-me à ceia que por lá decorria.

Conversei com naturalidade com os presentes, incluindo o noivo, e até troquei algumas palavras com o Trava, que ainda me tentou aliciar, elogiando as minhas qualidades guerreiras.

Insinuou que eu daria um bom alferes da rainha, mas tal não me agradou, pois jamais trairia o meu melhor amigo.

No final do repasto, aproximei-me de Maria e de Chamoa, reparando que esta estava sorumbática, o que não era seu costume.

Com cautela conduzi-as para um canto da sala, onde lhes revelei que Afonso Henriques estava escondido na vila e que desejava raptar Chamoa na noite seguinte.

Os olhos dela brilharam de entusiasmo e até de orgulho. O seu adorado príncipe vinha buscá-la, amava-a a esse ponto, e de pronto afirmou que iria preparar-se.

Porém minha futura esposa alertou-a para os perigos, havia guardas por todo o lado, o Trava trouxera muitas tropas, talvez temendo um golpe destes.

Maria, não quereis que fuja? – perguntou Chamoa.

A irmã mostrou-se preocupada. Temia aquela arriscada operação, que corresse mal, que fôssemos descobertos, que alguém se ferisse.

Embora estivesse do nosso lado, e compreendesse o enamoramento de Chamoa e do príncipe, sabia que aquele era um agravo sério, capaz de provocar um conflito grave.

Paio Soares e Dona Teresa, bem como o nosso tio Fernão, irão perseguir-vos até Guimarães, e não descansarão enquanto não se vingarem do príncipe! – avisou.

Todos sabíamos que assim seria, mas a nossa lealdade estava com Afonso Henriques, e por isso declarei:

 - Lutaremos por ele e por Chamoa.

Embora aflita a minha futura cunhada abraçou-me e depois as irmãs retiraram-se para os seus aposentos.

Sorrateiramente saí dali e desci para a povoação ao encontro de Afonso Henriques e Gonçalo que se haviam refugiado num casarão agrícola abandonado, já dentro das muralhas de Maia.

Depois de revermos os nossos planos, regressei ao castelo e recolhi-me nos aposentos que me estavam destinados.

Ao final da manhã seguinte, reencontrei Chamoa e Maria e a primeira, muito agitada, revelou o que lhe ia na alma:

- Desejo que a noite de hoje chegue o mais depressa. Minha futura esposa manteve o seu ar atormentado, e logo nos calámos, pois Nunes gomes e Elvira aproximaram-se, tendo esta última revelado a sua surpresa e até ofensa, com a antipatia com que tinha sido cumprimentada pelo arcebispo Paio Mendes.

Parece que me odeia e não quer este casamento! Exclamou a mãe das raparigas, o que me fez baixar os olhos.

Já Gomes Nunes mostrou-se menos incomodado, apenas dizendo:

 - Não me interessa o que pensa o arcebispo.

                                                                                   

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