Tieta e os seus projectos para Santana do Agreste |
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)
EPISÓDIO Nº 42
DE VISITAS E CONVERSAS, ONDE LEONORA EXPRIME INESPERADO DESEJO
A sala de visitas cheia, à noite. A pedido de Tieta, Peto encomendara no bar volumoso carregamento de cerveja, guaraná, coca-cola.
A sala de visitas cheia, à noite. A pedido de Tieta, Peto encomendara no bar volumoso carregamento de cerveja, guaraná, coca-cola.
A tia Antonieta é o novo
ídolo de Peto, desbancou os mocinhos do cinema, os heróis da histórias de
quadradinhos. Sabino quebra uma pedra de gelo no qui ntal,
enviada por Modesto Pires, do curtume.
Na beira do rio, o moleque Sabino foi o
único que conseguiu pescar com a vara nova, utilizando o molinete. Trouxe os
peixes para Tieta e lhe pediu a bênção. Cardo e Peto vieram carregados de
pitus.
A prosa se estende sem compromisso ao sabor dos assuntos mais diversos, a
partir da sensação causada pelas modas de São Paulo, as perucas, a
transparência dos tecidos, as calças justas, as sandálias.
Perpétua é contra as cafetãs transparentes, calças coladas modelando bundas,
comprimindo ancas, shortes exibindo coxas, blusas amarradas sob os peitos,
umbigos de fora, condena a devassidão que vai pelo mundo:
- Podem me chamar de atrasada. Moça solteira, moderninha, vá lá que use… –
extrema concessão a Leonora. – Mas mulher casada, não acho decente. Viúva muito
menos, Antonieta que me desculpe. Se eu fosse Astério não ia deixar não ia
deixar Elisa usar a tal mini-saia que você deu a ela.
- Você encruou no passado, mana, - Antonieta desata em riso.
Quando eu falo em turismo para reerguer
a economia do município, ele fecha a cara.
- Contra o progresso, amigo Ascânio. Não confunda as coisas.
Sou a favor de
tudo quanto seja útil a Agreste mas sou contra tudo o que venha roubar nossa
tranqui lidade, essa paz que não tem
preço que pague. Não tenho nada contra a mini-saia desde que a pessoa a usá-la
tenha condições para isso. Numa mulher de certa idade já não cai bem.
Por exemplo? – Desafia dona Carmosina.
- Cito o exemplo de duas lindas senhoras aqui
presente: Laura e Antonieta. No meu entender, já passaram da idade.
Dona Laura nunca pensou em mini saias mas ameaça o marido, bem-humorado:
- Não sabia que você era tão entendido em mini-saia, Dário! Até parece que já
viu muitas… Pois eu vou tomar a de Elisa emprestada e saio desfilando por aí,
você vai ver.
- Para mim não é uma questão de idade e, sim, de físico. Mini-saia não vai com
o meu corpo, com minhas abundâncias – lastima-se Tieta.
Barbozinha, a fumar literário cachimbo, quase sempre apagado, consola:
- Tens o tipo clássico, Tieta. A beleza suprema, Vénus, era assim. Não suporto
esses esqueletos que andam exibindo os ossos. Não me refiro a você Leonora.
Você é uma sílfide.
- Obrigado, seu Barbozinha.
- Infelizmente, meu poeta, ninguém pensa mais como você. És meu único eleitor,
- Tieta volta-se para Ascânio – Turismo em Agreste? Acha possível?
- E porque não? A água é medicinal, os exames já foram feitos, Modesto Pires
mandou as amostras para o genro que é engenheiro da Petrobrás. Os resultados
foram formidáveis, tenho cópia na Prefeitura se qui ser
ver.
Modesto Pires está estudando a possibilidade de engarrafamento. O clima é
o que se vê, cura qualquer doença. Em matéria de praia, onde mais bonitas?
- Isso é verdade, praia igual à de Mangue Seco não vi em lugar nenhum.
Copacabana, as praias de Santos, nem chegam perto. Mas daí…Enfim, não digo
nada, não quero pôr água fria nas suas esperanças. É preciso, porém, muito
dinheiro, muito mesmo…
- Já disse a Ascânio: deixe Mangue Seco em paz enquanto a gente viver… - resume
o Comandante.
- Vou comprar um terreno lá, fazer uma casinha de veraneio.
Um dos motivos da
minha viagem foi esse: adqui rir um
terreno em Mangue Seco
e uma casa aqui na cidade, quero
terminar meus dias em
Agreste.
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