Afonso Henriques passou por aqui |
Hoje é Domingo
(Na minha cidade de Santartém em 10/01/16)
O
silêncio final...
Há 13,8 mil milhões de anos foi um
estrondo brutal, chamaram-lhe o Big Bang, porque foi mesmo muito grande!...
Felizmente, não estava lá ninguém para
o ouvir, aquela matéria toda que haveria de se espraiar pelo Universo,
irrompendo assim de repente, sem sabermos de onde veio e porque rebentou... e
nunca mais parou de se expandir até que um dia sairá para fora do universo e
não mais saberemos dela...
Restará o silêncio final mantendo-se o
princípio de que aqui lo que um dia
começa num outro dia findará. Assim mesmo, até não existir nada, mas mesmo
reconhecendo a nossa insignificância, o simples facto de sermos capazes de
pensar isto, deveria deixar-nos orgulhosos da nossa mente.
Somos feitos desse material que
rebentou e que fez aquele enorme estrondo do Big Bang para depois começar a
expandir-se por esse universo fora antes de um dia desaparecer completamente.
É uma pena pensarmos que nada restará
para além do tal silêncio final... é um desperdício depois de termos conseguido
pensar uma coisa destas.
Ainda julgámos que as forças da
gravidade fossem suficientes para nos deixar agarrados ao céu, da mesma forma
que conseguimos segurar a lua junto de nós e nós, sempre à volta do Sol... mas
não!
As forças anti gravitacionais são mais
poderosas e tudo por causa daquele estrondo enorme em que a matéria saíu
disparada para não mais parar...
Vivemos angustiados por não sabermos se
mais alguém, morando em qualquer outro ponto do céu, terá pensado nisto ou se
somos os únicos que conseguimos fabricar dentro de nós uma mente capaz de
pensar nestas coisas...
No princípio, foram fundamentalmente o
hélio e o hidrogénio, depois veio o carbono, azoto, oxigénio e os restantes...
e quatro destes elementos, apenas quatro, constituem 96% do nosso corpo.
Que grande caminhada, extraordinária
caminhada para um dia ser despejada fora do universo, como a água suja da
banheira onde se lavou o bebé... e com o bebé e tudo!
Neste momento, nas partes mais
longínquas deste conjunto de corpos, há uns que se afastam de nós a uma velocidade
superior à da luz, que já não voltarão mais, o que significa que a banheira já
começou a despejar...
Guerre Gilmore, veio a Lisboa dar uma
palestra na Fundação Champalimaud e disse-nos coisas que hoje já são
conhecidas mas ele, com aquele humor britânico, torna tudo mais ligeirinho e
depois deixa-nos a pensar que talvez estivesse só a brincar...
Ele interessa-se pela cosmologia,
formação das estrelas e galáxias e terminou a Conferência com uma ideia muito
perturbadora:
- “Tudo terminará numa única partícula, a solidão extrema”
O silêncio total... depois daquele grande
estrondo do Big Bang inicial e de outros big-bangs, mais pequenos, que ocorrem sempre que uma
estrela explode e se transforma numa Super Nova, espalhando pelo espaço poeiras,
que são metais, material para os nossos corpos, e que só a força de uma explosão,
os conseguiria fabricar.
É de noite, vou até à janela e tento ver
o céu. Não é fácil, vivo numa cidade e o meu prédio está rodeado de outros prédios
que o ocultam, com a agravante de que moro no 1º andar.
A custo, consegui vislumbrar um pequeno
sector e lá estava ele, polvilhado de pequenos pontos luminosos, mas, o que eu
recordo bem, é o céu da aldeia dos meus avós, quando, nas noites de verão, me
deitava na eira a guardar o milho e ele se apresentava em todo o seu esplendor.
Estava então longe de saber que os
cientistas haveriam de me dizer um dia que todos esses pequeninos corpos
brilhantes que emolduram o céu como as luzinhas enfeitam as árvores de Natal,
haveriam de desaparecer empurradas para fora do céu.
A ideia da banheira a despejar corpos
celestes como se fossem a água suja de um banho deixando atrás de si um espaço
negro e vazio, arrepia-me!...
Refugiu-me na esperança de que, afinal,
são tudo Teorias que resultam da intuição inspirada de cientistas, intuição
essa sem a qual não haveria ciência, nem arte e que é exclusiva dessa máqui na única, extraordinária, feita da poeira das estrelas, que é a nossa mente.
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