(Domingos Amaral)
Episódio Nº 165
A dado momento, viu luz à sua frente e parou. Ordenou que elas ficassem
Trinta metros à frente, o túnel terminava
numa gruta, e Mem viu uma pequena fogueira, junto da qual estava sentada uma
mulher vestida de negro, que imediatamente reconheceu.
_ Entra Mem e dizei-lhes que podem vir
também – disse ela.
O almocreve não se surpreendeu, aquela
mulher sabia sempre tudo.
Chamou as mouras, mas quando elas entraram
na gruta a bruxa tapou mais a cara com o capuz. Ao ver Zulmira murmurou uma
justificação:
-
Sois tão belas que me envergonho.
As outras nada disseram apenas se sentaram
à volta da fogueira, sem lhe conseguirem ver o rosto.
- Sei quem vós sois – afirmou a mulher. Os
cristãos virão procurar-vos, e Soure está cheia de cavaleiros, não vai ser
fácil passardes por lá.
Mem contou-lhe o que queria, e ela
suspirou, pensativa. Depois, disse:
-
Há uma atalaia aqui perto. Posso
enviar um dos meus corvos com uma mensagem. Conheço gente em Santarém.
Mexeu no fogo, ateando a fogueira um pouco
mais.
Abu Zakaria, virá pela floresta, e teremos
de voltar por lá, caso contrário sereis apanhadas.
Ouviu-se uma coruja piar, algures nos
túneis e a velha vestida de negro pareceu preocupada. Levantou-se e observou o
fogo.
Vejo muitos mortos – murmurou.
Enquanto Zaida se encolhia junto à mãe, a
mulher de negro deu uns passos até ao canto da gruta, onde pegou num cantil e
num pote que trouxe para junto deles.
Colocou o pote em cima da fogueira e
deitou lá para dentro umas pequenas pedras misturando-as com ervas. Depois,
ofereceu a Mem o seu cantil e informou:
- É
hidromel. Elas devem beber também, para dormirem melhor.
Agarrou no cajado e avançou na direcção de
um túnel, diferente daquele por onde tinham chegado Mem e as três mulheres. Sem
se virar para trás declarou antes de desaparecer:
-
Não saiam daqui .
Mal ela partiu o almocreve contou às
mouras onde conhecera aquela mulher e o que havia combinado com Abu Zhakaria
para Agosto.
Zulmira e Zaida estavam embevecidas, admirando-o
e Fátima ficou num total êxtase, a pontos de recusar comer e beber. Afastou-se
para o fundo da gruta e adormeceu rapidamente,
Junto à fogueira Zaida e a mãe recordaram
a descoberta terrível de Dona Teresa, que reconhecera Zulmira.
A gruta estava com um cheiro intenso
devido às ervas do pote e Mem sentiu-se confortável pela primeira vez em muitas
horas. Serviu mais hidromel e olhou para Zulmira:
-
Sois neta do antigo rei de Sevilha, Al-Mutamid; a vossa mãe teve um filho de
Afonso VI; haveis fugido de Toledo; casado com o pai de Zaida e de Fátima; e
depois dele morrer com Taxfin.
Que vida...
Zulmira, sorriu-lhe e, sempre curioso, o
almocreve, perguntou.
- E
porque quer o assassin matar-vos a
mando do califa?
Zaida bebeu também um gole de hidromel e
largou uma rizada.
É melhor do que vinho! – exclamou.
Zulmira riu também, antes de se indignar:
- O
califa berbere é um canalha! Mata quem lhe faz sombra. Matou o Taxfin e
quer-nos mortas também!
Faltava a explicação para a sombra que
elas faziam ao califa, e mem insistiu, mas Zulmira apenas exclamou:
-
Os almorávidas são berberes dos desertos, não são árabes da Andaluzia, como
nós! Odeiam-nos!
Dando um apressado gole no hidromel, fez
um esgar de desprezo.
- São fanáticos! Nós somos diferentes,
somos de Córdova! Foi uma grande cidade, no tempo dos antigos califas, antes
dos almorávidas chegarem.
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