(Domingos Amaral)
Episódio Nº 192
Naquela tarde, aqui lo
pareceu-nos um pormenor irrelevante. Só quando revolvemos a memória é que
encontramos, com surpresa pontos no passado em que tudo era óbvio.
Quem fora o percept or
de Afonso VII? O pai do Trava! Quem era aliado de Gelmires, desde Lanhoso? O
Trava! Quem doara Soure à Ordem de Gondomar? Dona Teresa, ou seja, o trava! A
quem servia Paio Soares? Ao Trava!
Tui, Outubro se 1127
No regresso de Compostela dividimo-nos.
Meu tio Ermígio, meu pai e eu seguimos para Guimarães, enquanto Afonso
Henriques e Gonçalo rumaram a Tui.
Quando o revelei à minha Maria, ela levou
as mãos à cabeça, aflitíssima e perguntou:
-
Lourenço, e se Paio Soares descobre? Se Chamoa o chifra, ele nunca mais se
juntará à causa dos portucalenses!
Infelizmente já era tarde para parar o
tortuoso destino que Deus traçou para todos nós.
No dia seguinte, Afonso Henriques e Gonçalo
entraram pela porta da muralha de Tui. Na alcáçova, junto a uma grande casa,
apareceu-lhes Gomes Nunes, que perguntou alarmado:
-
Príncipe, vamos ser outra vez invadidos por Afonso VII?
Desmontando, Afonso Henriques contou que
pusera termo ao cerco de Guimarães e viajara até Compostela com o Rei poupando
a região a batalhas inúteis.
Como o haveis convencido? Perguntou Gomes
Nunes.
O príncipe apenas relatou um acordo
pacificador, realizado para que a guerra aos sarracenos fosse bem sucedida.
- E vossa mãe, onde está? – interrogou o
pai de Chamoa.
Afonso Henriques olhou em volta admirando
o castelo de Tui.
-
Minha mãe e o Trava traíram-me. E a vós também.
Depois enfrentou o senhor de Tui e
perguntou.
-
Estais do meu lado?
Gomes Nunes, esperto, não perdeu tempo.
Olhando para trás berrou:
-
Elvira, vem beijar o nosso salvador!
A esposa, esbaforida e corada, veio
oscular a mão direita do príncipe.
Valeis mais do que os meus dois irmãos! –
exclamou.
Queixou-se de Fernão e de Bermudo, que a
tinham deixado à mercê de um cerco de mais de três mil homens. Amargurada,
balbuciou:
- Sofri de pesadelos, nos meus sonhos vi
Tui a arder!
Afonso Henriques acalmou-a, dizendo que o
rei não voltaria ali, e logo Gomes Nunes prometeu ceder uma centena de homens
que marchariam, quando necessário, para Guimarães.
- Irei à frente das minhas tropas, leal ao
meu paladino!
Afonso Henriques sorriu-lhe, contente
Elvira, desejosa de agradar, perguntou:
- Quereis pernoitar em Tui? Podeis cear
por cá!
De repente, fingindo-se atrapalhada, levou
a mão à testa:
- Ora que cabeça a minha! Sei bem o que
desejais!
Dando meia volta entrou na habitação,
enquanto o marido os convidava a fazer o mesmo. Um pouco atrás, Gonçalo
comentou:
-
Ouvi dizer que as mouras de Córdova estão por cá.
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