quinta-feira, março 17, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 215


















A barafunda era tremenda, o pó levantava-se, ouviam-se gritos misturados com o trote dos animais, ordens e contra-ordens. De repente, Paio Soares esporeou o cavalo e atacou.

A sua espada caiu sobre o escudo do príncipe que a conseguiu suster a custo, mas o mordo-mor foi mais rápido e com malícia espetou a ponta da arma no flanco do cavalo de Afonso Henriques.

A montada ajoelhou com dores, atirando o príncipe ao chão. Desarmado, este levantou-se com dificuldade, mas logo Paio Soares lhe apontou a espada ao peito.

Naquele momento bastava um gesto e o príncipe de Portugal era um homem morto. Contudo, Paio Soares não investiu e limitou-se a dizer:

 - Só não vos mato porque Chamoa me pediu.

Depois acrescentou:

 - Temos de falar.

Nunca ninguém soube o que queria, pois Afonso Henriques insultou-o e cuspiu na sua direcção.

Irritado o mordomo ordenou:

 - Dai ordem para o fim da batalha e rendei-vos!

Afonso Henriques começou a descer a elevação a pé e pouco depois agarrou um cavalo que passava e afastou-se, derrotado.

Raimunda deduziu que ele se dirigia para castelo de Guimarães, humilhado e de cabeça baixa, mas várias centenas de metros à frente um grupo de nobres aproximou-se.

Eram meu tio Ermigio, meu pai e Soeiro de Sousa que montados nos seus cavalos e vestidos nas suas dalmáticas coloridas, pararam junto de Afonso Henriques.

Onde ides? - perguntou o pai de Gonçalo.

O príncipe apenas mordia os lábios e o nobre acrescentou:

 - Meu filho e o Lidador resistem, e o Lourenço está a vencer o Bermudo. Voltai ao combate, príncipe de Portugal!

Meu pai, Egas Moniz, ergueu então uma enorme espada, e disse ao príncipe:

- Eis a espada de vosso pai, guardei-a para um dia como hoje.

O príncipe pegou na espada com que se armara cavaleiro em Zamora, dois anos antes. As lágrimas corriam-lhe pela cara, estava desanimado e de olhos no chão, disse:

 - Se avanço contra eles morro. Se recuo, irão ao castelo matar-me.

Então, Soeiro de Sousa, olhando-o fixamente perguntou:

 - Nesse caso porque haveis de recuar?

Afonso Henriques cerrou os dentes e compreendeu o que tinha de fazer. Beijou a espada de seu pai, deu meia volta e cavalgou de novo na direcção do combate.


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