terça-feira, março 22, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episodio Nº 219




















Chamoa começou a chorar e Zaida abraçou-a.

Quem o feriu? – perguntou Fátima já suspeitando do que acontecera – Aposto que foi o príncipe, quer vê-lo morto para ficar com esta!

Chamoa esperou ansiosa, o esclarecimento de Raimunda, mas ela fez uma pausa maliciosa, para aumentar o sofrimento da galega

- Dizei-me que não é verdade! – exclamou Chamoa.

Então, Raimunda contou que Afonso Henriques atingira Paio Soares nas pernas, na barriga e na cara, e o berro de Chamoa foi altíssimo. Levou as mãos à cara num choro compulsivo, provocado não só pelo estado do marido, mas sobretudo pelo desgosto que lhe causara o príncipe, por ter falhado a promessa feita em Tui.

Foi nesse momento que entrei na tenda, juntamente com Afonso Henriques e meu pai. Ao ver-nos, Chamoa berrou, descontrolada:

 - Haveis matado meu marido!

O meu amigo, siderado pela violência daqueles gritos, tentou justificar-se, mas a rapariga não o deixou continuar.

Odeio-vos, haveis quebrado a vossa promessa! Fora daqui!

Descontrolada, agarrou num vaso e atirou-o na direcção de Afonso Henriques, que teve de se desviar, para não levar com ele na cara. Para evitar o pior as três mouras cercaram-na, enquanto eu e meu pai tentávamos convencer o príncipe a abandonar a tenda.

Vimos então uma padiola entrar carregando paio Soares, coberto de sangue e em grande sofrimento. Chamoa desatou aos uivos, desesperada e Fátima e Zaida tiveram de agarrá-la para não cair.

Zulmira correu para um canto da tenda e agarrou num preparado qualquer. A padiola havia sido pousada no chão, os homens que a carregavam afastaram-se um pouco e Zulmira colocou uma mistela nas feridas do marido de Chamoa.

Esta, vendo que Afonso Henriques ainda não saíra, voltou a berrar:

 - Ide-vos embora, nunca mais vos quero ver!

Furiosa, Fátima avançou na nossa direcção. Temi que ela tivesse um punhal nas mãos e coloquei-me à frente do príncipe, mas a moura apenas sorriu e exclamou:

 - Finalmente haveis vencido um mulher na luta! Mas continuais o mesmo burro de sempre!

Ao ouvi-la, Zulmira gritou-lhe:

 - Calai-vos!

Depois, virando-se para o meu pai, pediu:

- Por favor, é o marido dela!

A contragosto, lá abandonamos a tenda de Paio Soares, e logo Afonso Henriques se dirigiu à de sua mãe. Porém, ao chegar perto da entrada, estacou.

À porta encontrava-se a loira alta, descendente dos normandos, que agora tomava conta das filhas de Dona Teresa. Tinha a mais pequena, Teresa, ao colo, enquanto Sanchinha brincava no chão.

Sorrindo, ao príncipe, Elvira disse:

 - São as vossas irmãs.

Virando-se para Sanchinha, ordenou-lhe:

 - Meu anjinho, dá um beijo ao príncipe. A criança mostrou-se envergonhada, mas Elvira pegou nela ao colo, aproximou-se do príncipe e colocou a cara da pequenina perto da dele, para que se beijassem.

Como nada aconteceu, a criança mantinha-se encolhida e o príncipe aguardava, Elvira sugeriu.

 - Beijai vossa irmã.

Ligeiramente contrariado, Afonso Henriques assim fez.

- Porque as carregas ao colo? – perguntou depois.

A descendente de normandos, quase tão alta como ele, explicou-lhe que Dona Teresa lhe pedira que tomasse conta das meninas.

- É melhor do que servir vinho a bêbados – sorriu Elvira, olhando de soslaio para Gonçalo.

Afonso Henriques, sempre muito tenso, apenas ordenou:

 - Levai-as para o castelo.

Site Meter