(Domingos Amaral)
Episodio Nº 219
Chamoa começou a chorar e
Zaida abraçou-a.
Quem o feriu? – perguntou
Fátima já suspeitando do que acontecera – Aposto que foi o príncipe, quer vê-lo
morto para ficar com esta!
Chamoa esperou ansiosa, o
esclarecimento de Raimunda, mas ela fez uma pausa maliciosa, para aumentar o
sofrimento da galega
- Dizei-me que não é
verdade! – exclamou Chamoa.
Então, Raimunda contou que
Afonso Henriques atingira Paio Soares nas pernas, na barriga e na cara, e o
berro de Chamoa foi altíssimo. Levou as mãos à cara num choro compulsivo,
provocado não só pelo estado do marido, mas sobretudo pelo desgosto que lhe
causara o príncipe, por ter falhado a promessa feita em Tui.
Foi nesse momento que entrei
na tenda, juntamente com Afonso Henriques e meu pai. Ao ver-nos, Chamoa berrou,
descontrolada:
- Haveis matado meu marido!
O meu amigo, siderado pela
violência daqueles gritos, tentou justificar-se, mas a rapariga não o deixou
continuar.
Odeio-vos, haveis quebrado a
vossa promessa! Fora daqui !
Descontrolada, agarrou num
vaso e atirou-o na direcção de Afonso Henriques, que teve de se desviar, para não
levar com ele na cara. Para evitar o pior as três mouras cercaram-na, enquanto
eu e meu pai tentávamos convencer o príncipe a abandonar a tenda.
Vimos então uma padiola
entrar carregando paio Soares, coberto de sangue e em grande sofrimento. Chamoa
desatou aos uivos, desesperada e Fátima e Zaida tiveram de agarrá-la para não
cair.
Zulmira correu para um canto
da tenda e agarrou num preparado qualquer. A padiola havia sido pousada no chão,
os homens que a carregavam afastaram-se um pouco e Zulmira colocou uma mistela
nas feridas do marido de Chamoa.
Esta, vendo que Afonso
Henriques ainda não saíra, voltou a berrar:
- Ide-vos embora, nunca mais vos quero ver!
Furiosa, Fátima avançou na
nossa direcção. Temi que ela tivesse um punhal nas mãos e coloquei-me à frente
do príncipe, mas a moura apenas sorriu e exclamou:
- Finalmente haveis vencido um mulher na luta!
Mas continuais o mesmo burro de sempre!
Ao ouvi-la, Zulmira
gritou-lhe:
- Calai-vos!
Depois, virando-se para o
meu pai, pediu:
- Por favor, é o marido
dela!
A contragosto, lá
abandonamos a tenda de Paio Soares, e logo Afonso Henriques se dirigiu à de sua
mãe. Porém, ao chegar perto da entrada, estacou.
À porta encontrava-se a
loira alta, descendente dos normandos, que agora tomava conta das filhas de
Dona Teresa. Tinha a mais pequena, Teresa, ao colo, enquanto Sanchinha brincava
no chão.
Sorrindo, ao príncipe,
Elvira disse:
- São as vossas irmãs.
Virando-se para Sanchinha,
ordenou-lhe:
- Meu anjinho, dá um beijo ao príncipe. A
criança mostrou-se envergonhada, mas Elvira pegou nela ao colo, aproximou-se do
príncipe e colocou a cara da pequenina perto da dele, para que se beijassem.
Como nada aconteceu, a
criança mantinha-se encolhida e o príncipe aguardava, Elvira sugeriu.
- Beijai vossa irmã.
Ligeiramente contrariado,
Afonso Henriques assim fez.
- Porque as carregas ao
colo? – perguntou depois.
A descendente de normandos,
quase tão alta como ele, explicou-lhe que Dona Teresa lhe pedira que tomasse
conta das meninas.
- É melhor do que servir
vinho a bêbados – sorriu Elvira, olhando de soslaio para Gonçalo.
Afonso Henriques, sempre
muito tenso, apenas ordenou:
- Levai-as para o castelo.
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