domingo, março 20, 2016

Porta de Santarém
Hoje é Domingo

(Na minha cidade Santarém em 20/3/16)















Era uma vez... assim podia começar a história da vida de Lula da Silva:

- Era uma vez um menino pobre que escapa ao destino de ser operário para se tornar Presidente do Brasil, de todos, “o mais popular político das Américas” na opinião de Obama.

Outros Presidentes, como Lincoln e Kubitschek, também tiveram origens humildes mas um fez-se advogado e o segundo médico.

Lembram-se, com certeza, da luta de Sócrates para ser Engenheiro, ou do Miguel Relvas, que ainda foi Ministro de Passos Coelho, e pretendeu ser Dr. de um ano para o outro recorrendo a equivalências. 

Todos comprovam como em política os estudos superiores são reconhecidos como instrumentos indispensáveis para a ascensão social e política. 

Lula, difere de todos eles porque a sua trajectória foi mágica, prescindiu dos estudos como alavanca na sua ascensão, chegando a Presidente em “estado de operário”.

Fala apenas a sua língua, e incorrectamente, com uma expressão corporal de homem do povo e uma conversa que flui com gosto quando o assunto é futebol.

Ainda hoje, com 70 anos e uma longa vida política, ao falar, o sujeito não bate certo com o verbo e os “s” dos plurais raramente aparecem.

Não quis sair da sua condição de operário com uma intuição genial de que, quando aprendesse a falar inglês, deixaria de ser o Lula.

Contudo, nunca deixou de ser um poderoso orador e um mestre do gesto, efusivo como os brasileiros comuns, toca as pessoas, dá-lhes palmadinhas.

Como homem do poder, e bem à maneira latino-americana, de uma forma populista, combinou a protecção aos pobres na forma de programas sociais com dádivas que garantiam fartura para os bancos e para as construtoras das obras-públicas.

Foi assim, abraçando estratos sociais opostos, agradando a toda a gente, que Lula da Silva se transformou no mais popular Presidente do Brasil.

O PT, Partido dos Trabalhadores, o seu partido, representa uma corrente com raízes na sociedade que vai sobreviver e é bom para o Brasil que sobreviva, mas a fábula de Lula, do menino pobre que chegou a Presidente, tem o seu final em “suspense” e tanto pode acabar esquecido e ignorado, como em herói ou fantasma.

Se for provado, com evidências cabais, de forma insofismável, que terá sido o mestre da roubalheira e dela beneficiou pessoalmente, será varrido para o lixo da história.

Se nada se provar contra a sua honestidade de político poderoso, sairá em glória como um herói mas, se sobre os seus comportamentos restarem dúvidas sobre a sua lisura, então pairará como um fantasma na memória do país.

Não o favorece ter-se envolvido, nesta fase actual, com a Presidente Dilma, de quem se deveria ter mantido afastado, na qualidade de ex-presidente.

A sociedade política brasileira, com os escândalos do “mensalão” e da Petrobrás, empresa pública que explora as riquezas do petróleo, e deram origem à operação Lava Jacto, constitui um campo altamente minado que põe em risco a parte final da fábula do menino que nasceu pobre...

Falta escrever o último capítulo dessa história e a nós, que não nos cabe outro papel para além do de leitores, vamos apenas aguardar o desfecho e expressar o desejo de que a fábula acabe bem para o nosso menino que nasceu pobre.

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