sábado, abril 16, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 242




















Desiludida e triste, Zaida, observou o corpo de Zulmira e murmurou.

 - Não foi um cristão que matou a nossa mãe.

Fátima ficou momentaneamente entupida e a irmã prosseguiu:

- O assassin era muçulmano. E foi um príncipe cristão que impediu que ele vos degolasse!

De imediato, Fátima colocou nova careta desdenhosa e provocando-a:

- Em agradecimento, aposto que ides abrir as pernas para ele!

Zaida abanou a cabeça desolada.

Não sei porque o odiais, nunca vos fez mal.

Indignada, Fátima exclamou:

 - É cristão e basta! Só isso me faz revirar as tripas!

Zaida ficou uns momentos em silêncio e depois disse:

 - Parece-me um homem forte e gentil.

Mas logo Fátima deu uma pequena gargalhada e escarneceu:

- A vós, qualquer homem vos parece bom!

A irmã encolheu os ombros e disse, comovida:

 - Nossa mãe ensinou-me a ser meiga e ternurenta, tal como ela era. Com os homens e com as mulheres.

Desdenhosa e sempre implacável, Fátima relembrou:

 - Isso vi eu! Nunca percebi porque nossa mãe se entregou assim ao Mem ou à galega!

Em defesa da memória da mãe, Zaida contrapôs:

 - Porque se sentia sozinha e precisava de ser amada! E perante o silêncio da irmã, recordou as origens de ambas.

- Esses eram os costumes de Sevilha, onde o nosso avô Al-Mutamid reinou. Ou dos haréns de Córdova! Somos mulheres de paixão, de amor, de poesia, de sentimentos e sentidos.

Não somos mulheres de guerra... Sou como a minha avó Zaida, não herdei só o seu nome.

Cada vez mais enervada, Fátima ripostou-lhe com desprezo:

 - Essa enganou o marido com um núbio! E depois casou-se com um rei cristão, de quem teve um filho. Cometeu a maior traição, converteu-se ao deus deles só para poder chupar a piça ao imperador!

- É isso que quereis também?

Zaida respirou fundo e muito calma respondeu:

 - E que mal teria? O sonho de Afonso VI, o império das Duas Religiões! Porque não? Nós, os muçulmanos de Andaluzia, de Córdova, Badajoz, Saragoça e Sevilha, somos mais parecidos com os cristãos do que com os berberes de Marraquexe!

Preferia, mil vezes beijar a mão a Afonso Henriques do que a Ali Yusuf!

Ao ouvi-la falar assim, a maliciosa Fátima logo adiantou:

 - A mão e não só!

Desesperada, Zaida, tapou a cara com as mãos


 - Só pensais em luta, em guerra! Não gostais de sentir o calor de um corpo ao vosso lado? Precisamos de amor...

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