quinta-feira, abril 28, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 252





















Braga, Novembro de 1130





Em finais de Outubro desse ano, Afonso Henriques foi chamado de urgência a Braga, pois sua mãe estava a morrer. Depois e uma ano presa em Lanhoso, Dona Teresa ainda subira à Galiza, acompanhando o seu amante, mas adoecera, entretanto, rumando à cidade arcebispal para se tentar curar de um mal de respiração.

Já Fernão Peres de Trava continuava a engendrar a sua desforra contra os portucalenses. Agora, que seu pai, Pedro Froilaz morrera, era o mais poderoso rico-homem da Galiza e aproximara-se de Afonso VII, tentando convencê-lo a subjugar o irrequieto primo.

Quando naquele dia chegámos a Braga, dei-me conta de que o meu melhor amigo não voltara a ver a mãe depois da batalha de São Mamede. Antes uma presença tão turbulenta e determinante, desde essa data a rainha já nada contava no governo do Condado.

O príncipe perdoara-lhe os desvarios do passado mas sentia pouco afecto por ela. A sua verdadeira mãe fora Dordia,  a minha mãe e de Afonso e Soeiro.

Dona Teresa sempre o ignorou, o tratou com distanciamento, com pouco carinho ou ternura, e era difícil ela amá-la de volta. Os danos irreparáveis eram anteriores ao Trava, que só cavara um fosso ainda mais profundo.

Apesar de um esforça final do príncipe, a última conversa que tiveram não fechou as feridas existentes, como sempre escreveram os cronistas do reino.

Afonso Henriques aproximou-se da cama de Dona Teresa e viu aquela mulher pálida, magra, quase cadavérica, mas não sentiu nenhuma comoção especial, apenas uma vaga pena.

A sua mãe fora bonita mas a doença envelhecera-a. Impressionado, esboçou um ligeiro esgar de espanto, o que a levou a lavrar um imediato protesto.

- Fazeis-me sentir ainda mais velha!

Sem o olhar Dona Teresa perguntou-lhe:

- Vindes pedir-me perdão por me teres lançado a ferros?

O filho sentou-se na borda da cama, e suspirou.

-Não venho pedir perdão mas posso dá-lo. E vós também mo podeis dar pelos erros que ambos cometemos.

Ela sacudiu-se com uma tosse profunda e cavada, perigosa e letal, que a fez cuspir sangue. Não iria durar muito, a sua hora chegara, mas depois de se acalmar constatou:

 - Sois muito orgulhoso. Vosso pai também era assim.

Afonso Henriques olhou-a, desiludido. O amor entre eles nunca existira, mas queria aproveitar aquela última oportunidade para uma pacífica despedida e alguns esclarecimentos essenciais.

 - Foi Dona Urraca que envenenou meu pai? – perguntou.

Ouviu-se o zumbido da respiração de Dona Teresa, quando afirmou:

 - Vosso pai zangou-se com minhas irmã, exigindo ficar com a Galiza. Dizia que tinha uma relíquia sagrada, que iria dar-vos, ao futuro rei dos portucalenses, que com ela expulsaria os infiéis para alem de Lisboa!

A mãe de Afonso Henriques riu-se, como se aquilo fosse absurdo, o que lhe provocou novo ataque de tosse, no final do qual voltou a falar.

Minha irmã quis obrigá-lo a revelar onde escondera a relíquia, mas ele nunca cedeu. Dias depois começou a espumar da boca um líquido escuro. Eram os efeitos da peçonha.

O príncipe de Portugal interrogou-a:

- A ideia de o envenenar era conhecida de vós?

Dona Teresa jurou que não.

Posso ter muitos defeitos mas jamais mataria o meu marido.

Então, o príncipe perguntou-lhe se sabia onde o pai escondera a relíquia que trouxera da terra santa, e ela disse:

 - Sei que meu marido parecia outro homem desde que voltou de Jerusalém. Mas não sei onde a escondeu. Desconfio que Paio Soares sabia mas morreu às vossas mãos.


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