(Domingos Amaral)
Episódio Nº 252
Braga, Novembro de 1130
Em finais de Outubro desse
ano, Afonso Henriques foi chamado de urgência a Braga, pois sua mãe estava a
morrer. Depois e uma ano presa em Lanhoso, Dona Teresa ainda subira à Galiza,
acompanhando o seu amante, mas adoecera, entretanto, rumando à cidade
arcebispal para se tentar curar de um mal de respiração.
Já Fernão Peres de Trava
continuava a engendrar a sua desforra contra os portucalenses. Agora, que seu
pai, Pedro Froilaz morrera, era o mais poderoso rico-homem da Galiza e
aproximara-se de Afonso VII, tentando convencê-lo a subjugar o irrequi eto primo.
Quando naquele dia chegámos
a Braga, dei-me conta de que o meu melhor amigo não voltara a ver a mãe depois
da batalha de São Mamede. Antes uma presença tão turbulenta e determinante,
desde essa data a rainha já nada contava no governo do Condado.
O príncipe perdoara-lhe os
desvarios do passado mas sentia pouco afecto por ela. A sua verdadeira mãe fora
Dordia, a minha mãe e de Afonso e
Soeiro.
Dona Teresa sempre o
ignorou, o tratou com distanciamento, com pouco carinho ou ternura, e era
difícil ela amá-la de volta. Os danos irreparáveis eram anteriores ao Trava,
que só cavara um fosso ainda mais profundo.
Apesar de um esforça final
do príncipe, a última conversa que tiveram não fechou as feridas existentes,
como sempre escreveram os cronistas do reino.
Afonso Henriques
aproximou-se da cama de Dona Teresa e viu aquela mulher pálida, magra, quase
cadavérica, mas não sentiu nenhuma comoção especial, apenas uma vaga pena.
A sua mãe fora bonita mas a
doença envelhecera-a. Impressionado, esboçou um ligeiro esgar de espanto, o que
a levou a lavrar um imediato protesto.
- Fazeis-me sentir ainda
mais velha!
Sem o olhar Dona Teresa
perguntou-lhe:
- Vindes pedir-me perdão por
me teres lançado a ferros?
O filho sentou-se na borda
da cama, e suspirou.
-Não venho pedir perdão mas
posso dá-lo. E vós também mo podeis dar pelos erros que ambos cometemos.
Ela sacudiu-se com uma tosse
profunda e cavada, perigosa e letal, que a fez cuspir sangue. Não iria durar
muito, a sua hora chegara, mas depois de se acalmar constatou:
- Sois muito orgulhoso. Vosso pai também era
assim.
Afonso Henriques olhou-a,
desiludido. O amor entre eles nunca existira, mas queria aproveitar aquela
última oportunidade para uma pacífica despedida e alguns esclarecimentos essenciais.
- Foi Dona Urraca que envenenou meu pai? –
perguntou.
Ouviu-se o zumbido da
respiração de Dona Teresa, quando afirmou:
- Vosso pai zangou-se com minhas irmã,
exigindo ficar com a Galiza. Dizia que tinha uma relíqui a
sagrada, que iria dar-vos, ao futuro rei dos portucalenses, que com ela
expulsaria os infiéis para alem de Lisboa!
A mãe de Afonso Henriques
riu-se, como se aqui lo fosse
absurdo, o que lhe provocou novo ataque de tosse, no final do qual voltou a
falar.
Minha irmã qui s obrigá-lo a revelar onde escondera a relíqui a, mas ele nunca cedeu. Dias depois começou a
espumar da boca um líqui do escuro.
Eram os efeitos da peçonha.
O príncipe de Portugal
interrogou-a:
- A ideia de o envenenar era
conhecida de vós?
Dona Teresa jurou que não.
Posso ter muitos defeitos
mas jamais mataria o meu marido.
Então, o príncipe
perguntou-lhe se sabia onde o pai escondera a relíqui a
que trouxera da terra santa, e ela disse:
- Sei que meu marido parecia outro homem desde
que voltou de Jerusalém. Mas não sei onde a escondeu. Desconfio que Paio Soares
sabia mas morreu às vossas mãos.
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