(Domingos Amaral)
Episódio Nº 253
Afonso Henriques ainda se
sentia culpado pela morte do marido de Chamoa. Apaixonado pela rapariga aniqui lara o único homem que lhe poderia contar o
segredo da relíqui a.
Depois de um curto e
embaraçado silêncio, perguntou:
- Devo ser vassalo do meu primo Afonso VII ou
lutar contra ele?
Dona Teresa defendeu que o
filho deveria batalhar por aqui lo
que era de seu pai e dela, fosse no Sul contra os sarracenos, fosse no Norte,
na Galiza, Lisboa e Santarém eram dos portucalenses; Zamora, Astroga, Tui,
Límia e Celanova também.
Incomodado o príncipe
levantou-se.
Mas Fernão Peres quer
guerrear-me para me tirar essas terras!
Dona Teresa baixou os olhos,
nunca seria capaz de dizer uma palavra contra o dono do seu coração. Então, o
príncipe relembrou que se a mãe o tivesse deixado casar com Chamoa, não teria
existido guerra.
- Quer queiram ou não, irei
casar com ela! – acrescentou.
Dona Teresa reagiu àquela
afirmação intempestiva com uma careta repugnada, que a fez parecer ainda mais
zangada e envelhecida.
- Chamoa não é mulher para
vós. É uma tola só pensa em homens!
- Quem sois vós para falar
assim?
Dona Teresa ignorou-o e
defendeu que qualquer casamento era uma aliança: faziam-se filhos para termos
quem nos acudisse na guerra.
Amigos e amores eram coisas
diferentes. Ainda por cima, Chamoa, já tinha três filhos de Paio Soares.
Indignada, como se fosse uma mãe que zela pelo futuro de um filho casadoiro,
acrescentou:
- Roma jamais aceitaria o vosso matrimónio. Se
desejais ser rei, despojai uma princesa estrangeira, não uma galega duvidosa,
que até no mosteiro dorme com o primo, o Mem Touges!
O príncipe olhou-a, intrigado.
Porquê tanto asco à rapariga? E seria verdade que a rapariga se encontrara com
o primo? Depois de novo ataque de tosse, Dona Teresa avisou-o:
- O Fernão e o arcebispo Gelmires que já nos
roubaram muitas relíqui as no passado,
vão procurar a que meu marido trouxe da Terra Santa. Querem oferecê-la a Afonso
VII quando ele for coroado imperador.
Colocando no rosto um
sorriso cínico reforçou a intriga:
- Sabeis quem os ajudou? Chamoa! Só ela sabia
o segredo do marido! Traiu-vos, está feita com o tio e o Gelmires!
Enervado com a possível
deslealdade da rapariga galega, Afonso Henriques fez um esforço para reprimir
os seus sentimentos, e imaginou um futuro alternativo.
Lembrando-se do que Mem lhe
contara depois da viagem à serra morena, sugeriu:
- Posso sempre desposar uma
princesa de Córdova.
Dona Teresa esboçou nova
careta desdenhosa. Já sabia que Zulmira morrera e o califa de Marraquexe
continuava a tentar eliminara as filhas dela, mas não esquecera as bulhas
antigas entre as crianças.
Se bem me lembro a Fátima
odeia-vos.
Depois, quase espantada,
perguntou:
- Quereis casar com a mais
nova, a Zaida.
Afonso Henriques fez uma
pausa antes de dizer, num tom solene que muitas vezes usava quando se referia
ao seu célebre avô:
- O imperador da Duas Religiões casou com a
moura Zaida. O neto de Afonso VI pode também casar-se com a neta dessa Zaida.
Não esqueçais que a filha de
Zulmira é também neta do último califa de Córdova. Se eu desposasse a princesa
Zaida reinaria não só no condado Portucalense, mas também nas taifas de
Sevilha, Badajoz e Mértola. Lisboa e Santarém voltariam a ser nossas sem
guerras!
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