(Domingos Amaral)
Episódio Nº 231
A balbúrdia só terminara com a nomeação de
um novo wali que apreciava Abu Zakaria e logo o apoiou nos seus desejos.
Semanas antes, quando deixou Santarém, Mem
soubera que Abu Zakaria se dirigira à taifa de Badajoz, e que estaria já a
juntar mercenários, preparando-se para novo assalto a Coimbra, com o propósito
de recuperar as mouras.
-Diz-se que o emir de Badajoz também apoia
Abu Zakaria, mesmo contrariando as ordens do califa de Marraquexe – contou Mem.
Ao ouvi-lo, Fátima rejubilara:
-
Ele vem buscar-me outra vez, ele ama-me! Serei sua esposa e regressaremos a Córdova
para lá reinar!
Mem ficara surpreso com esta afirmação, Córdova
integrava a taifa de Sevilha, que também estava sob o jugo do califa Ali Yusuf.
Abu Zakaria talvez conseguisse atacar
Coimbra e resgatar as três mouras, embora o almocreve duvidasse que isso fosse
assim tão fácil, agora que Afonso Henriques chegara à cidade.
Mas mesmo que o cordovés fosse
bem-sucedido, como se tornaria Fátima rainha de Córdova?
A sua pergunta ficara sem resposta, pois a
moura ignorara-o, enquanto Zaida lhe sorrira com um olhar carregado de
intenções prazenteiras, e Zulmira o abraçara dizendo:
-
Deixa-a falar... Tive tantas saudades vossas, querido Mem.
Porque não vindes até aos nossos aposentos
amanhã depois das festas?
Assim ficara combinado, entre sorrisos e
ternuras, que fizeram Gonçalo de Sousa levantar o sobrolho, desconfiado.
Quando todos se encaminharam para a
alcáçova, este interrogou Mem.
- Sois da família? Tantos abraços só se dá
a primos.
O almocreve sentiu ciúme. Gonçalo andava
de volta de Zaida, que lhe retribuía os sorrisos constantemente, embora não
fosse possível ter certezas sobre o seu significado, pois ela era sempre assim
com quem simpatizava, homens ou mulheres.
Foi nesse momento que nos cruzamos com
eles. Eu, Afonso Henriques e Peres Cativo, e também Jean e Ramiro, encontrámos
as mouras, Mem e Gonçalo.
O príncipe dirigiu-se às mulheres
muçulmanas e ao almocreve e ordenou:
-
Amanhã tereis de estar presentes na Sé para as celebrações!
Lembro-me de que, desde que as recolhera à
porta do Mosteiro de Vairão, meu amigo Afonso Henriques desenvolvera uma nova curiosidade
sobre aquelas três mulheres e as espantosas narrativas das suas existências.
Porque queria um assassino a soldo do
califa e porque queria um cordovés libertá-las dos cristãos?
Tais perguntas continuavam sem resposta,
mas o meu amigo sabia que elas representavam um perigo permanente.
Esperemos que os vossos amigos sarracenos
não nos estraguem a cerimónia – comentou o príncipe.
Irritada logo a impetuosa Fátima exclamou:
-
Abu Zakaria virá salvar-nos. Olhai que ele não é o Trava!
Não gostei daquela insinuação dirigida ao
príncipe e preparava-me para a repreender, quando aquele, nada incomodado,
afirmou:
-
Fátima, já lá vai o tempo em que lutava contra mulheres.
A rapariga, sempre de olhar desdenhoso,
provocou-o:
- -
Com mulheres nunca vos dais bem! Haveis prendido vossa mãe, Chamoa fechou-se
num mosteiro, Raimunda atirou-se ao rio e a normanda preferiu tomar conta das
vossas irmãs!
- Adoro ver-vos zangada, bela Fátima!
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