Centro de Santarém |
Hoje é Domingo
(Na minha cidade de Santarém em 22/5/16)
Em poucos países, um
Presidente da República se permite, numa cerimónia pública, com o Chefe do
Governo sentado na primeira fila, chamar-lhe opt imista
crónico e às vezes ligeiramente irritante, sem que isso se venha a traduzir
numa zanga com futuro corte de relações.
Pelo contrário, há um tom de
bonomia com um sorriso instalado nos respectivos rostos.
Estas “confianças” vêm do
tempo em que António Costa
era aluno de Marcelo Rebelo de Sousa, na Faculdade de Direito de Lisboa, e
depois deste, há uns anos, ter reconhecido, num dos seus comentários semanais
na televisão, que António Costa foi um aluno brilhante.
Recordo, até, que António Costa
apostou que a sua melhor nota do Curso seria o Prof. Marcelo a dar-lha o que,
na realidade, veio a acontecer.
De resto, o estatuto de Professor, mais do que o de Presidente, permitiu-lhe o desabafo, que em
particular nada teria de anormal, mas em discurso público pode ter outras
leituras.
Para o país, e para a oposição
que bate esta tecla das previsões opt imistas,
em sentido crítico à política do governo, as apreciações bem dispostas do
Presidente, ele, que também se confessa opt imista
mas não tanto, podem criar nos cidadãos um estado de espírito de desconfiança,
de falta de credibilidade, especialmente, claro, se elas não se confirmarem.
Todos os poderes políticos são
opt imistas, faz parte da sua
natureza. Se estão lá é porque acreditam que as coisas podem melhorar, caso
contrário, não fazia sentido serem governo.
As pessoas, por seu lado,
precisam também de estímulos positivos, mas não só as as pessoas, as empresas, a
economia vivem dessas boas novas como se fossem, por vezes, balões de oxigénio.
Até à data, no entanto,
nenhuma notícia das que se lêem nos jornais dão lugar a pensamentos opt imistas, e os cidadãos percebem isso.
Com excepção do nosso
radioso sol, da benignidade do clima, da paz e ordem social que se vivem no nosso país, das águas
azuis das nossas praias, da sua limpeza, da maravilha das paisagens do nosso
interior, devendo, tudo junto, fazer prever um acréscimo de turistas, o resto dos sinais que vêem do exterior não são sintomas que levem a pensamentos optimistas.
Haja em vista, os que nos visitam chegam cada vez mais com menos dinheiro para gastarem, excepção feita para
aos passageiros daquelas maravilhosas cidades flutuantes que
aportam no cais, junto à estação de comboios de Santa Apolónia, como se me
esperassem quando eu chego a Lisboa.
Mas eles vêm como um
foguete... ainda mal chegaram já estão a partir e, provavelmente, já vêm com tudo incluído no pacote que pagaram pela viagem.
Importante, mesmo, são as
receitas da nossa balança comercial, do produto da venda dos sapatos, dos têxteis,
dos nossos belíssimos vinhos, da cortiça e seus produtos derivados, por esse
mundo fora.
Mas, voltando ao optimismo, lembro-me de uma
expressão que aprendi há muitos anos na disciplina de Economia Política, de que
“a pior hipótese é a melhor hipótese de trabalho”.
O próprio Mário Centeno,
actual Ministro das Finanças, o tal das previsões opt imistas,
quando era técnico do Banco de Portugal e apreciava os projectos que lhe
chegavam às mãos para análise, perguntava se havia já fotografias dos
investimentos que estavam por detrás das receitas estimadas...
Como é diferente ser técnico
ou político...
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