(Domingos Amaral)
Episódio Nº 96
- Sois o culpado da morte de
Zulmira! Quem vos mandou trazê-la para aqui ?
E Sohba só fugiu porque a haveis salvo da fogueira! – perante a completa
perplexidade dos outros, prosseguiu: - Trabalhais para Zahkaria ou sois um
lacaio do califa Ali Yusuf?
O espantado Mem, que deixara
o arco e as flechas no casão, viu Ramiro desembainhar a sua espada e apontá-la
à sua barriga.
- Devia furar-vos, mouro
estúpido! E agora quereis o Rato?
Vamos lá ver se continuais
bonito depois de vos rasgar esse focinho!
Enquanto o incrédulo
almocreve dava um passo atrás, o aflito Rato meteu-se entre eles, tentando
acalmar o colega templário.
- Ramiro, sois um monge
guerreiro, não podeis matá-lo!
Mas o companheiro, possuído
por uma cólera enciumada, acusou-o:
- Estais mortinho por o chupar, cabrão de
merda! Não pensais noutra coisa! Sois todos uns traidores como o Velho e a estúpida
galega!
Assustado com tamanha ira o
Rato gritou-lhe que deixasse Mem ir embora, caso contrário acabaria pendurado
numa forca, lançando a vergonha sobre a Ordem do Templo.
Contudo, como Ramiro não
pareceu temer tais consequências, o Rato baixou o tom de voz baixo,
reconhecendo que não desejava o almocreve, que não era como eles!
- Nunca vos traí, só gosto
de vós!
Aquelas promessas íntimas
acalmaram ligeiramente Ramiro, que baixou os olhos, recuperando por momentos a
noção do disparate que se preparava para cometer.
O Rato aproveitou a acalmia
para sugerir a Mem que se fosse dali, e o almocreve partiu, escutando nas suas
costas um último insulto de Ramiro:
- Ide ter com a vossa soldadeira mouro de
merda!
Só quando viu o almocreve
virar a esqui na é que o Rato
perguntou:
- Que vos deu?
Alarmado, notou o olhar de
Ramiro de novo esgaseado. O corpo do colega agitava-se numa espécie de
turbulência animalesca e ouviu-o gritar-lhe, como se o qui sesse
castigar ali mesmo, em plena ruela.
- Quereis um homem a sério?
Eu mostro-vos um!
Sem aviso, empurrou o Rato,
obrigando-o a avançar, mas estas ferozes insinuações de violência mas também de
desejos carnais, produziram um efeito estranhamente tranqui lizador.
O Rato ansiava pelas
ternuras do amigo e se tivesse de haver dureza na sua administração, que fosse,
até gostava. Assim, deixou-se ser conduzido à bruta para dentro do casão de
Mem.
No final da luta amorosa, os
dois deixaram-se ficar nus e deitados na palha, no mesmo local onde anos antes
tinham encontrado Zulmira degolada.
Ramiro parecia mais calmo,
mas os seus pensamentos depressa vaguearam e interrogou-se em voz alta:
- Como é que o Velho roubou daqui o punhal?
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