(Domingos Amaral)
Episódio Nº 78
Os meus netos assustam-se,
poupai-os a este inferno! – pedia ele.
Naquela manhã, o seu neto
mais velho, Pêro Pais, relatara ao avô o choro pungente de Chamoa, desesperada
com tanta gritaria e com as insónias matinais dos seus quatro rebentos.
Minha filha diz que
enlouquece, se isto continuar – dissera o petiz.
Com um arremesso de
autoridade, pois afinal era o dono daquele castelo, Gomes Nunes foi ter com o
Trava acompanhado pelo neto.
Encontrou-o no pátio da
alcáçova junto ao Velho e a Men Tougues.
Dirigindo-se a este último
implorou pela sanidade de Chamoa e do filho que ambos tinham, o mais novo dos
seus quatro netos e o mais choroso todas as manhãs.
O primo, que ainda tinha
sentimentos por ela, perguntou:
- Chamoa chora?
Antes que Gomes Nunes ou
Pêro Pais respondessem, o Trava antecipou-se e ditou a sua decisão tortuosa:
- Ela que se dê aqui
ao Mem Tougues que nós acabamos com isso hoje mesmo.
O nomeado sorriu
entusiasmado com a possibilidade mas Gomes Nunes perguntou espantado:
- Torturais Gonçalo para que a minha filha se
deite com um primo?
O Trava mirou-o com frieza e
depois em voz pausada replicou:
- Estamos em guerra, Gonçalo está contra nós,
Chamoa também. Se qui ser leal a nós
será bem recebida. Caso contrário...
- Acercando-se de Gomes
Nunes murmurou: - e vós tendes cuidado, só por seres casado com a minha irmã é
que vos poupo.
Calado e assustado, o senhor
de Toronho e empalideceu mas junto às suas pernas, Pêro Pais empertigou-se e
perguntou ao trava:
- Estais a ameaçar o meu avô?
Sem aviso, o nobre galego
deu-lhe um tabefe que atirou com o petiz ao chão. Gomes Nunes indignou-se, não
admitia que os seus netos fossem tratados assim, ao que o Trava ripostou que,
se Chamoa se juntasse a Mem Tougues, alinhando com os partidários de Afonso
VII, todos seriam bem tratados.
Porém, se ela persistisse
naquela teimosia desleal, todos sofreriam.
Está nas mãos da vossa mãe-
declarou Fernão Peres sorrindo maldosamente para Pêro Pais, que já se levantara
mas ainda esfregava a cara.
Nessa mesma tarde, o rapaz
foi ter com a mãe e disse-lhe que queria ir a Guimarães avisar Afonso
Henriques. Em Tui estavam três cavaleiros – vilões portucalenses, vindos de Compostela,
que iriam atravessar o rio Minho na manhã seguinte, podendo levá-lo com eles.
- Quem vos meteu isso na
cabeça? - inqui etou-se Chamoa.
Pêro Pais denunciou o estalo
do tio, a preocupação impotente do avô, os desejos permanentes do Tougues, a
responsabilidade última e severa que o Trava colocava aos ombros dela.
Alarmado, perguntou:
- Ides ceder ao Tougues, minha mãe?
O coração de Chamoa
enraiveceu-se. Era inaceitável o tio bater-lhe no filho, mas como impedi-lo?
Fernão Peres controlava Tui
com o apoio da sua irmã Elvira e, sobretudo com a presença do maldoso Velho.
Abraçando o filho, Chamoa louvou a sua firmeza e declarou:
- Prefiro morrer do que me dar ao Tougues
outra vez!
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