terça-feira, setembro 20, 2016

...muito bonita e benza-a Deus muito puta...
A Bela do Bairro














Ela era muito bonita e benza-a Deus

muito puta que era sempre à espera

dos pagantes à janela do rés-do-chão

mas eu teso e pior que isso néscio desses amores

tenho o quê? quinze anos

tenho o quê uns olhos com que a vejo

que se debruçava mostrando os peitos

que a amei como se ama unicamente

uma vez um colo branco e até as jóias

que ela punha eram luzentes semelhando estrelas

eu bato o passeio à hora certa e amo-a

de cabelo solto e tudo não parece

senão o céu afinal um pechisbeque ainda agora as minhas narinas fremem

turva-se o coração desmantelado

amando-a amei-a tanto e sem vergonha

oh pecar assim de jaquetão sport e um cigarro

nos queixos a admiração que eu fazia

entre a malta não é para esquecer nem lá ao fundo

como então puxo as abas da farpela

lentamente caminho para ela

a chuva cai miúda

e benza-a Deus que bonita e que puta

e que desvelos a gente

gastava em frente do amor


Fernando de Assis Pacheco (1937- 1995 )

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