(Domingos Amaral)
Episódio Nº 97
Nesse momento, ouviram de
surpresa uma voz de um dos obscuros cantos daquele edifício de madeira.
- Não foi o Velho, foi a
minha irmã.
Os dois templários
levantaram-se num ápice, ainda nus e muito atrapalhados, enquanto Fátima saía
do seu esconderijo e se aproximava com um sorriso de gozo nos lábios, por os ver
assim, frágeis, envergonhados e desamparados.
Contudo, proferiu uma frase
tranqui lizadora, tentando aliviá-los
do desconforto:
- Sou de Córdova, homens nus nas piscinas era
o que mais havia por lá! E o meu bisavô, o poeta Al-Mutamid, também tinha desses
gostos.
Explicou que entrara sem
fazer barulho e sem notar que ali estava alguém, mas ao vê-los decidiu não se
revelar, o seu único desejo era ferrar no sono, pois não o podia fazer em casa.
O Mem está lá a foder a
minha irmã...
Os dois templários compuseram-se
à pressa, enquanto se espantavam com a revelação seguinte de Fátima. Ao
contrário de Zaida, adorava vir ao local onde a mãe morrera.
- Para manter viva a minha
raiva ao califa Ali Yusuf – explicou.
Só depois os elucidou. Zaida
roubara o punhal do casão, no dia da morte da mãe. Durante vários anos a irmã
guardara-o numa arca, mas o Velho assaltara a casa delas há tempos,
apoderando-se da misteriosa arma de Paio Soares.
- Haveis visto as inscrições
gravadas no cabo? – perguntou Ramiro.
A esperta Fátima não lhe
iria revelar tais segredos. Olhou-o com enorme desprezo:
- Se a Ordem sabe disto...
O bastardo de Paio Soares
ripostou, muito irritado:
- É a palavra de uma moura
contra a de dois tem0plários!
Fátima sorriu outra vez, sem
se atemorizar.
Correm muitos rumores sobre
vós, acho que têm mais a perder do que eu. Que me podeis fazer? Já estou presa.
Ramiro e Rato não estavam em
condições de suportar uma acusação tão clara, se ela a fizesse em público, por
isso calaram-se.
A princesa moura
observou-os, o seu espírito fervilhava de curiosidade sobre o que
verdadeiramente a interessava.
Os templários vão procurar a
relíqui a?
Ramiro alegou que Afonso
Henriques não os autorizara. Cristãos e muçulmanos iriam fazer uma pausa nos
confrontos, pois Zakaria também não estava em condições de atacar Coimbra.
- Isso é que é uma pena...
comentou Fátima.
Os templários sabiam que ela
era uma apaixonada de Abu Zakaria. Recordando-se que este fora nomeado wali de
Santarém pelo califa almorávida de Marraquexe, Ramiro espicaçou-a:
- Zakaria vendeu-se ao califa! Se um dia vier
não será para vos salvar, mas sim para vos matar.
Aquela cortante previsão
enfureceu Fátima, que enfrentou os templários, os olhos chispando de fúria.
Cuidado, cristão, posso ir daqui à Sé e denunciar-vos ao bispo.
Ramiro acanhou-se e foi o
Rato quem a tentou pacificar.
- Que quereis em troca do
vosso silencio? Que procuremos a relíqui a
para vós?
Obviamente, a oferta dos
seus préstimos à princesa, evitando que ela os denunciasse, não passava de uma
oportuna trapaça.
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