Escritor, filósofo e neurocientista americano. |
Pensar é Melhor
Que
Rezar
(Manifesto Ateísta de
Sam Harris )
Por que razão a
Religião há-de ser fonte de violência?
As nossas religiões são
intrinsecamente incompatíveis uma com a outra.
Ou Jesus subiu dos mortos e está a chegar à terra como um super herói ou não;
ou o Alcorão é a palavra de Deus ou não é.
Todas as religiões fazem reivindicações explícitas sobre o mundo e a profusão
destas reivindicações incompatíveis cria uma base duradoura para o conflito.
Não há nenhum outro campo no qual os seres humanos estejam tão completamente
cientes das suas diferenças ou lance essas diferenças em termos de recompensas
ou castigos perpétuas.
Se uma pessoa acredita realmente que chamando Deus pelo nome certo pode fazer a
diferença entre a felicidade e o sofrimento eterno, então é razoável tratar os
hereges e os incrédulos bastante mal, será até mesmo razoável se os matar.
Se uma pessoa pensa que há algo que outra pessoa possa dizer a uma criança que
ponha em perigo a sua alma para toda a eternidade, então o herege que mora na
porta ao lado é mais perigoso do que um molestador de crianças. As “estacas”
das nossas diferenças religiosas são mais altas e profundas do que aquelas que
resultam do mero tribalismo, racismo ou políticas.
Fé “religiosa” é uma conversão-tampão. A religião é uma área do nosso discurso
no qual as pessoas não são obrigadas a apresentarem evidências sobre convicções
das quais estão tão seguras.
De tal forma seguras que são elas que vão determinar, frequentes vezes, a razão
porque vivem, morrem e até matam.
Este é um problema porque quando as “estacas” são demasiado altas o ser humano
apenas tem uma escolha simples entre a conversão e a violência.
Por isso, a nossa vontade fundamental, para ser razoável, tem que assentar em
convicções sobre o mundo baseadas em evidências e argumentos novos. Só assim será
garantido que o diálogo entre os homens é possível.
Certezas sem evidências são factores de divisão. Nada garante que pessoas
racionais estejam de acordo mas é certa a divisão irracional entre pessoas
aprisionadas dentro dos seus dogmas.
É muito pouco provável que consigamos ultrapassar as nossas divisões
multiplicando as oportunidades de diálogo entre as religiões.
O desfecho para a nossa civilização não pode ser a tolerância mútua entre
irracionalidades patentes.
Enquanto o discurso dos religiosos liberais, não fundamentalistas, concordar em
seguir pontos onde as suas visões do mundo colidem, esses mesmos pontos
permanecerão fontes perpétuas de conflito para os seus correligionários.
A justiça política, só por si, não oferece uma base duradoura para a cooperação
humana.
Tendo dispensado o dogma da fé a guerra religiosa passou, simplesmente, a ser
inconcebível do mesmo modo que, para outros, o canibalismo e a escravidão
parecem equi librados.
Quando temos razões para aqui lo que
acreditamos não precisamos para nada da fé e quando não temos nenhuma razão
perdemos a conexão com o mundo e entre uma pessoa e outra.
O ateísmo não é mais nada do que um compromisso para o padrão mais básico da
honestidade intelectual.
As convicções das pessoas deveriam ser proporcionais às suas evidências. Fingir
estar certo sobre proposições relativamente às quais nenhuma evidência é até
mesmo concebível, constitui uma falha intelectual e moral e só ateu percebeu
isto.
O ateu é simplesmente uma pessoa que percebeu as mentiras da religião e recusou
fazer parte dessa mentira.
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