O crente, Padre João A. Teixeira |
Os Ateus Segundo o
Paternalismo
de um Crente
“O padre João
António Teixeira vem explicar aqui
que os ateus são crentes ao contrário. Que, explica, é claro que o ateu
"acha que a sua posição é racional, científica. Ele acha que tem provas
evidentes de que Deus não existe".
A
partir desta definição errada do ateu, o padre João António Teixeira avança por
trechos poéticos convenientes e divaga por afirmações sobre a experiência que
leva a deus ou à inexistência dele para concluir bondosamente que há quem não
negue deus, mas a "nós", isto é, aos homens de deus, aos crentes, aos
exemplos que se comportam como ateus, quando há ateus que se comportam como
crentes (como se fosse deus a inspirá-los).
Conclui
que ninguém está longe de deus.
Isto
cansa.
O
ateu, aquele que nega a crença na existência de deuses, seja um, seja mais de
um, não parte do princípio que tem de provar cientificamente e racionalmente
que não existe um deus ou que não existem vários deuses.
Pelo
contrário, o ateu constata que não há nada de racional e de científico na
crença que afirma, precisamente, a existência de tais divindades. Como
facilmente se compreende, o ónus da prova não é do ateu, mas de quem afirma a
existência de seres transcendentais.
O verdadeiro ateu -
e não o poeta que está angustiado com a dúvida da fé -, sabe que a verdade das
coisas se atesta pela demonstração e não aceita o salto (i)lógico do teísta que
consiste em resolver uma dúvida para a qual a ciência ainda não tem resposta
com a palavra deus.
Concretizando,
já conhecemos explicações para muita coisa que se atribuía a deus, explicações
essas que foram negadas como blasfémias e punidas com a morte, hoje
pacificamente aceites. Afinal não era deus. O ateu acredita nessa aventura
interminável que é a busca de respostas para os mistérios do universo e da
humanidade. Simplesmente, quando não obtém respostas não apela aos céus.
Por
tudo o que aqui se explica,
naturalmente não pode o ateu estar "desiludido" com deus ou com os
crentes.
Essa
afirmação resulta de um paternalismo recorrente que considera que para se ser
ateu tem de se ter padecido de alguma maleita, no caso espiritual. Alguém fez
mal ao coitadinho do ateu. O ateu está ferido com deus ou com o comportamento
de alguns crentes que mais parecem ateus, esses malvados. Isto - pasme-se -
quando até há ateus que se comportam "como se fosse Deus a
inspirá-los".
Imagino
que isto deva querer dizer que há ateus decentes.
Agradecida.
Isabel Moreira
Nota
Tem toda a razão a Drª Isabel
Moreira neste texto, chamemo-lo de "desabafo", às afirmações do padre
João António Teixeira sobre os não crentes.
Este "pastor"
de um dos grandes "rebanhos" de crentes da humanidade arroga-se a
sobranceria própria de quem pertence ao grupo dos "iluminados da fé"
dotados de uma "bondade" e "complacência" para os que eles
julgam de tresmalhados.
Eu compreendo o fenómeno
da fé, respeito-o, embora não o leve em consideração quando avalio o meu
semelhante. Há de uns e outros fora e dentro do mundo das crenças, embora tema
o que o homem é capaz de fazer por causa delas.
Esses
"dotes"- razão e inteligência - que permitiram aos meus antepassados
vencerem a luta pela sobrevivência e afirmarem-se como a espécie dominadora,
perigosamente dominadora, ajudaram-me a tomar consciência profunda da minha
condição de integrante do conjunto da natureza à face da Terra com especiais
responsabilidades e não mais do que isso.
Por
esta razão, não tenho nenhum motivo, para abandonar uma atitude de humildade
sem pretender "protecções", "prémios" ou recear
"castigos" provenientes de deuses ou entidades que a minha capacidade
de entendimento se recusa a aceitar.
Sei
que existe no nosso cérebro um "espaço da fé" , tal como nele existem
outros "espaços". "Acreditar", foi muito importante, talvez
decisivo em fases recuadas da nossa luta pela sobrevivência. Mais tarde foi
naturalmente aproveitado por alguns homens que mobilizaram e arregimentaram
outros para as religiões que encontraram um eco sincero dentro de nós... por isso
é mais fácil ser crente do que não crente.
Vamos
respeitar-nos todos, uns aos outros, sem preconceitos ou complexos de superioridade
ou inferioridade... está bem, senhor padre?
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