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Semana do Natal

Natal é todos os dias... não é nada! Natal é no Natal e ponto final. Não se percebe isso no ar que se respira, na cara e nos modos das pessoas?...

Mesmo que elas estejam tristes, zangadas porque estão a trabalhar quando preferiam estar em casa com a família, mesmo que..., etc..., etc..., há uma expressão no olhar quando falam connosco que é diferente da dos outros dias e tem a ver com o Natal.

Eu tive a sorte de ter uma mãe que me fez, a mim e ao meu irmão, sentir o que era o Natal com a grande vantagem de que à data éramos meninos ricos, tínhamos lá em casa árvore, presépio, consoada e tudo... não nos faltava nada. Mas era só vantagem porque a essência do Natal estava lá com riqueza ou sem ela:

- Os sapatinhos postos na chaminé, à noite, antes de ir para cama, juntamente com um cálice de vinho do Porto e uns fritos porque o Pai Natal, velhote que era, não podia deixar de ser guloso e apreciar um bolinho.

É verdade que lá no bairro onde nasci a maior parte dos meninos não tinha sequer sapatinhos quanto mais prendas e chaminé, mas eles não eram meninos como nós, eram miúdos da rua e quase todos andavam descalços porque na casa deles eram muitos filhos e o ordenado de operário do pai não dava para esses luxos e a mãe não ganhava dinheiro.

A Grande Guerra tinha acabado há pouco, ou ainda durava, e o povo dava graças a Salazar que logo em 1939, ano em que eu nasci, declarou a neutralidade do país apesar da nossa velha Aliança com a Grã- Bretanha.

O regime em Portugal era profundamente católico com uma grande predominância da Igreja e dos padres por todas as aldeias desse país que era, à época, essencialmente rural.

O Natal estava ligado à família e durante a época natalícia os padres eram apaparicados com todas as mordomias pelo povo que participava no alindar das Igrejas e capelas, temente que era a Deus e, portanto, da sua conveniência em agradar aos Seus representantes na terra, comandados, por Sua Eminência o Cardeal Cerejeira, que rivalizava com Salazar em importância, cada um no seu campo, já se vê.

O Natal puxava as pessoas para as Igrejas, para as tradicionais árvores de Natal e respectivos presépios, com a sagrada família do menino Jesus e seus pais, Maria e José, a Nossa Senhora e São José, que dizem ter sido carpinteiro mas outros, mais optimistas, afirmam que era dono de uma carpintaria mas, a sério, no fundo, fazia de tudo um pouco conforme a época do ano lá na Nazaré.

Depois havia os Reis Magos que vieram orientados por uma estrela cadente, daquelas que deixam rasto no céu, mas eu inclino-me mais para um GPS.

Vieram, ficaram, e todos os anos aí os temos. Desta vez, aqui Santarém, colocaram-nos até na Praça Central, em tamanho natural, muito bem parecidos. 

Um deles, muito mais tarde, haveria de dar o nome a um Ministro nosso das Finanças, um tal Gaspar, que olhos nos olhos e soletrando as sílabas das palavras, disse a todos os portugueses, em tom ameaçador, que iria provocar um "tremendo aumento de impostos" .

Depois, arrependeu-se, escreveu uma carta e foi-se embora para onde o Passos Coelho o tinha ido buscar, estilo salvador da pátria...

Por tudo isto, menos o "tremendo aumento de impostos" do Gaspar, o Natal é uma época querida não só nas nossas memórias da infância mas em todos os anos das nossas vidas, primeiro como filhos, depois como pais dos filhos, e agora avô dos netos...