Os organizadores do Carnaval brasileiro decidiram, em obediência ao “politicamente correto”, excluir sambas que incluam a palavra “mulato” para já não referir outras expressões como, por exemplo, “é dos carecas que elas gostam mais”, por serem consideradas ofensivas aos calvos e idosos.
Lembro que se dizia, em tempos, que Deus
criou o branco e o preto e o português o mulato. Pois bem, “mataram o mulato”,
que era uma criação nossa e por isso ficamos mais pobres...
Felizmente, que vultos conhecidos da
intelectualidade cultural brasileira, como Caetano Veloso, Djovan
ou Ney Matogrosso, vieram em nosso
socorro e só lhes faltou acrescentar que, do ponto de vista genético, tal
representou um enriquecimento, para além do mais importante ainda, que foi a fusão
de culturas.
Mas as coisas chegaram a este ponto:
- Num auto-carro de São Paulo, o vulgar
Bus, uma mulher branca, que disse sofrer de cancro, levava um turbante na
cabeça e uma outra, negra, que seguia a seu lado, solicitou-lhe que o retirasse
com a alegação de que o turbante era uma característica das baianas negras, e
que, portanto, o que ela estava fazendo era apropriação cultural.
Estranho, muito estranho, que num país
onde judeus e árabes convivem, casam e reproduzem-se e não há registos históricos
de seitas do tipo Ku Klux-Klan, apareça agora alguém a implicar com um turbante que, no entendimento dela, estaria na cabeça errada...
A grande influência da cultura dos povos
latinos nos países da América do Sul, por razões óbvias relacionados com a colonização,
parecia pô-las a salvo deste tipo de atitudes mais possíveis, pensávamos nós,
entre pessoas oriundas da cultura anglo-saxónica e da infeliz experiencia do apartheid na África do Sul e, daí, a minha surpresa. Engano meu.
A sociedade brasileira está hoje
infiltrada por todo o tipo de imigrantes portadores de preconceitos que eram
inexistentes há umas décadas atrás e que não se fundiram ainda na sociedade
multicultural que aceita os outros, naturalmente, tal como eles são nas suas
terras de origem com os seus tipicismos próprios.
Ser-se capaz de ultrapassar, falando
neles, sem preconceitos raciais que realmente existiram e hoje, aqui e ali, continuam em surdina, envergonhados, é a
melhor forma de dizer ao mundo que eles pertencem ao passado e hoje apenas
servem de chacota em desfiles de carnaval.
Um ou outro ainda os leva a sério talvez
porque lá no fundo, no fundo, não sejam assim tão coisa do passado...
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