domingo, novembro 26, 2017

Paz e Amor Para Todos

 Menos Para Mim










                           Esta criança não teve Natal. Vinha fugida do Norte de África para a liberdade da Europa... Não sobreviveu ao desembarque.







"O Natal que se aproxima é tempo de paz, tempo de amor, tempo de lamentar a existência de pessoas como eu. Não admira que seja uma época que toda a gente aprecia.

No dia que assinala o nascimento do salvador, o cardeal-patriarca não resistiu a lembrar que há quem não tenha salvação possível. Acaba por ser uma observação animadora. Se alguma coisa pode transtornar quem mereceu um lugar no paraíso é o facto de haver fila para entrar. 

Pois bem, eu serei menos um a obstruir os portões do céu; na homilia da missa de 25 de Dezembro, D. José de Policarpo saudou os judeus, e todos os que acreditam num Deus único – mas, ostensivamente, não me saudou a mim, que sou ateu.

Os judeus acreditam tanto como eu que o menino cujo aniversário se celebrava é o filho de Deus. No entanto, receberam uma saudação. Para mim, nem um caridoso aceno de cabeça.

O ateísmo tem sido, para mim e para tantos outros incréus, a luz que me tem conduzido na vida. Às vezes fraquejo, em momentos de obscuridade e de dúvida, mas mesmo sendo incapaz de provar a inexistência de Deus, tenho conseguido manter a fé – uma fé íntima fundada numa peregrinação que tem a grandeza e a humildade da longa caminhada da vida – em que ele não exista.

Todos os dias busco a não-existência do Senhor com renovada crença, ciente de que a Sua inexistência é misteriosa demais para que eu a tenha inventado.

É certo que o mesmo D. José Policarpo já havia dito que o ateísmo era o maior drama da humanidade – acima da fome, da guerra e do próprio “time sharing”. Fê-lo, porém em data menos misericordiosa. Sonegar saudações no Natal é particularmente cruel.

O anátema mais duro é o que é lançado no tempo do perdão. Estou habituado a receber anátemas e garanto aos menos experientes que os anátemas natalícios são os que aleijam mais. Em todo o caso, no fundo, eu sei bem que não sou digno de ser saudado. Acreditar que Deus existe é uma convicção profunda, mas acreditar que não existe, curiosamente, não o é.

Alguém, munido de um aparelho próprio, mediu a profundidade das convicções e deliberou que as do crente são mais fundas do que as do ateu. Quando alguém diz acreditar em Deus, está a exprimir legitimamente a sua fé; quando um ateu ousa afirmar que não acredita, está a agredir as convicções dos crentes.

Ser crente é merecedor de respeito, ser ateu é um crime contra a humanidade.
Ainda assim esperava ter sido saudado.
Eu não acredito em Cristo mas sempre acreditei nos cristãos.É a primeira vez que vejo um deles recusar ao menos uma saudação a um pecador."


Nota - Estejamos atentos à saudação do Natal de 2017. Iremos novamente ser ignorados pelo representante da Igreja Católica como se não existíssemos na sociedade portuguesa e no conjunto da humanidade?
Pessoalmente, é-me indiferente  mas a eles não lhes fica bem nem está de acordo com a moral cristã.

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