segunda-feira, dezembro 18, 2006

Natal....Again


NATAL.....AGAIN


Lamento que os Iraquianos não sejam Católicos, não porque o Catolicismo seja melhor que o Islamismo ou vice-versa, mas apenas para poder ter a esperança de ouvir noticiar, no próximo dia 26, nos meios de Comunicação Social de todo o mundo, que: “ontem, por ter sido Natal, não morreu ninguém em Bagdad vítima de ataques suicidas”.

Mas que estranha loucura desceu naquelas paragens que leva pessoas com a mesma fé, o mesmo passado histórico, falando a mesma língua, seguindo apenas linhas diferentes de uma mesma religião resultantes de disputas de liderança religiosa após a morte do Profeta Maomé, a suicidarem-se brutalmente a troco da morte do maior número possível de concidadãos seus?

Como reagiriam os habitantes da antiga Mesopotâmia que pela primeira vez se fixaram nas terras férteis entre os rios Tigre e Eufrates, berço de civilizações, se soubessem que milhares de anos depois descendentes seus se comportariam desta forma desumana que está na origem de um êxodo de 100000 pessoas por mês?

Infelizmente, nesta matéria, todos temos telhados de vidro mas o que se está a passar no Iraque ultrapassa a nossa compreensão porque já não se trata de uma reacção contra o invasor, um qualquer inimigo que tivesse ocupado o país, os americanos, por exemplo, não, os suicidas procuram os mercados, as paragens dos transportes públicos, os locais de culto, os ajuntamentos de pessoas para arranjar trabalho e é aí que fazem explodir viaturas ou a si próprios para destruírem o maior número de vidas humanas, pessoas inocentes, mulheres, crianças seus conterrâneos e compatriotas.

E como estamos no Natal, gostava de perguntar com toda a ingenuidade deste mundo:

Então, Jeová, Jesus Cristo, Alá e outros deuses que por ventura superintendam naquela região não vêm o que está a acontecer?

E se vêm não fazem nada? Por que existem, então?

Para responsabilizarem os homens por todas as maldades e loucuras que cometem como se não bastasse o peso das suas próprias consciências para se atormentarem?

Será que se eles não existissem nós não teríamos a noção do Bem, do Mal e dos Crimes que cometemos?

Pessoalmente, vivida que foi uma vida, perdida a fé religiosa, ficaram os sonhos, os sonhos de uma vida e as memórias de uma infância de onde se destacam as celebrações de Natal.

Em Roma, no dia 25 de Dezembro comemorava-se, então, o nascimento do misterioso deus persa de seu nome Mitra, o Sol da Virtude e o novo poder religioso emergente em vez de o proibir associou-lhe simbolismos cristãos num esforço de atrair pagãos fazendo parecer que essas festas eram cristãs.

Aproveitaram-se, assim, festividades de há muito já existentes comemorativas do solstício de Inverno, “ o nascimento do deus sol invencível “ que tinham lugar em Roma entre 17 e 22 de Dezembro, cujo período era conhecido pela Satornália e durante o qual era hábito trocar presentes num ambiente de festa e alegria.

E a festa que se chamava Satornália continuou com o nome de Natal, agora já não para comemorar o nascimento do deus sol invencível mas de um novo deus que se queria igualmente invencível.

Quem mais ganhou foram as crianças que se transformaram nos maiores destinatários das Festas de Natal e todos nós que um dia fomos pequeninos e tivemos a sorte de ter posto o sapatinho na chaminé ficámos marcados por esse momento mágico do encontro com as prendas nas manhãs do dia Natal.

Conta-se, que o padre Martinho Lutero de regresso a casa olhou para o céu através de uns pinheiros que ladeavam o caminho numa noite estrelada e ficou deslumbrado porque as estrelas pareciam fazer um colar à volta das copas das árvores.

Então, cortou um ramo da árvore e levou-o para casa. Chamou a mulher e os filhos, colocou-o num vaso com terra e enfeitaram-no com papéis de cor e velas acesas afincadas nas pontas dos ramos que pareceram ter ganho vida e em tudo se parecer com os pinheiros da beira do caminho recortados contra o céu estrelado.

…Tinha nascido a árvore de Natal.

Não consigo, no entanto, quando recordo hoje os Natais da minha infância esquecer os milhões de meninos que não têm Natal, o que seria o menos, se lhes tivessem concedido o elementar direito de viverem.

Os seus olhares vítreos, os seus corpitos deformados impedem-me de falar dos Natais da minha infância… por pudor, por respeito.

Quando eu era criança, o mundo começava e acabava no conforto da minha casa, no carinho da minha família.

Hoje, começa, igualmente, na minha casa, na minha família, mas acaba no olhar daqueles meninos, nos seus corpitos deformados para vergonha dos homens poderosos dos seus países e do mundo e um pouco, também, de todos nós.











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