quinta-feira, fevereiro 28, 2008

A Pobreza e a Riqueza no Macroscópio


A Pobreza e a Riqueza
No Macroscópio


A propósito dos considerandos semanais que o Macroscópio apresenta sobre o programa “As Notas Soltas” de António Vitorino, o Rui Matos fala-nos, desta vez, sobre o fenómeno da Pobreza e da Riqueza.

Não propriamente dos ricos e dos pobres, que sempre os houve, mas antes da Pobreza e da Riqueza à escala dos países, dos povos, dos continentes para chegar à conclusão que nunca, até agora, qualquer um dos muitos especialistas nestas matérias conseguiu apresentar uma razão ou conjunto de razões que, de uma vez, nos explique porque há nações ricas e outras pobres ou, de outra maneira, porque os países ricos continuam ricos e os pobres continuam pobres chegando ao ponto de brincar com a situação dizendo que, “quando chove sopa as pessoas nos países pobres são sempre surpreendidas com garfos na mão”.

Este tema devia pôr toda a gente a pensar porque é intrigante, porque se trata de uma realidade tão persistente que se corre o risco de a aceitar como algo de inelutável, daquelas coisas que fazem parte da natureza, que são hoje assim porque sempre o foram e sempre o serão.

O Rui Matos do Macroscópio, que estudou e é especialista destas coisas, foi buscar duas escolas de pensamento segundo as quais a riqueza não era mais que o triunfo do Bem sobre o Mal ou, vice versa, do Mal sobre o Bem.

Para uma dessas escolas, os europeus eram mais inteligentes, estavam melhor organizados, eram trabalhadores mais conscienciosos; os outros, eram ignorantes, arrogantes, indolentes, retrógrados, supersticiosos.

Para a outra, e continuo a citar o Rui, invertem-se as categorias: os europeus eram agressivos, cruéis, gananciosos, hipócritas e sem escrúpulos; as suas vítimas eram infelizes, fracas, inocentes.

A primeira corrente de pensamento deve ter feito as delícias dos nazis para quem este tipo de argumentos vinha mesmo ao encontro da supremacia da dita raça ariana…

Mas, brincadeiras à parte, às vezes dou comigo a pensar duas coisas:

-A primeira, é se, para alguns, não foi reposta a luta pela sobrevivência dos primórdios da humanidade em que todos os nossos antepassados até ao “homo sapiens sapiens” pura e simplesmente não conseguiram sobreviver e desapareceram da face da terra.

Igualmente teriam já desaparecido milhões de pessoas do continente africano se os alimentos não lhes fossem atirados de avião ou levado em camiões, porque a imagem recolhida por um observador externo, chegado ali de repente e desconhecedor de tudo o resto, era a de uma população que se extingue.

E, no entanto, estes mesmos milhões de pessoas, são “homo sapiens sapiens” como nós, que passaram o grande teste inicial da sobrevivência e correm hoje o risco, não de desaparecer geneticamente, mas de verem os seus efectivos populacionais reduzidos drasticamente pela guerra, fome e doença.

-Em segundo lugar, a pergunta que apetece fazer é: então, em que espécie de armadilha caíram eles para, depois de um tão longo percurso terem voltado ao ponto zero das suas existências, quando a população mundial é hoje de 6,6 biliões de pessoas comparadas com as dezenas de milhar ao tempo em que a sobrevivência da nossa espécie se colocou efectivamente?

-Entretanto, uma outra espécie de pobreza, provavelmente respeitante ainda a um maior número de pessoas é aquela que encontramos nos subúrbios das grandes cidades por todo o mundo, que se traduz numa miséria material e, acima de tudo, moral que, não eliminando fisicamente, degrada e desvirtua as pessoas constituindo o mais grave problema social de todos os países quer sejam eles do grupo dos Ricos ou dos Pobres.

Mas, a Riqueza de que fala o Macroscópio, a que persiste, em contraposição com a Pobreza que não despega, faz-me lembrar uma espécie de comboio que passou: quem o apanhou, apanhou, os outros ficaram a vê-lo ou então não estavam na Estação onde ele se formou e de onde partiu.

Nós, portugueses, tivemos imensa responsabilidade na formação deste comboio quando abrimos as vias marítimas ao comércio do mundo e proporcionamos a imensa gente que ganhasse dinheiro com esse comércio.


De seguida, toda essa movimentação comercial preparou as condições para que, juntamente com as descobertas científicas e tecnológicas dos séculos XVIII e XIX, o comboio da Riqueza fosse posto em marcha puxado pela máquina do Capitalismo e os europeus, por razões históricas, culturais e geo-estratégicas, estavam lá.

As sociedades Rurais deram lugar à sociedade Industrial, a que esteve na origem dos países Ricos e Pobres, da exploração das matérias primas, da produção em série, da educação em massa e, finalmente, chegamos agora à sociedade do Conhecimento, a do Click, a do ensino diversificado e especializado, aquela em que os filhos, porque nasceram nela, ensinam os pais.

Será que esta nova sociedade do Conhecimento irá contribuir, com a ajuda dos fenómenos da Globalização e mais oportunidades para todos em todo o mundo, a esbater progressivamente esta realidade do mundo Rico e do mundo Pobre mesmo à custa de algumas convulsões temporárias na sociedade dos ricos?

Eu tenho muitas dúvidas, pois a sociedade do Conhecimento parece-me ser um mundo de Grupos, uma vez que o conhecimento muito especializado e diversificado, mesmo quando se nasce no tempo dele não se nasce com ele, e se o mesmo não for acessível à generalidade das pessoas teremos ainda mais desigualdades.

Assim, um mundo especializado poderá ser um mundo cada vez mais difícil para a generalidade das pessoas que se confrontarão com dificuldades crescentes numa sociedade de elites.

Por esta razão, qualquer avanço na resolução deste mistério dos Países Ricos que continuam Ricos e dos Países Pobres que continuam Pobres terá de resultar de políticas.

Exige-se a intervenção de pessoas, determinadas, convictas, suficientemente influentes e poderosas na vida política internacional que consigam desencadear um movimento que tenha a ousadia de ir aos alicerces desta questão.

Aquilo a que estamos a assistir na actual campanha eleitoral nos EUA dá-me esperanças de que alguma coisa deste género possa vir a acontecer no futuro.

Não teve já a humanidade líderes políticos que ficaram na história pela coragem de fazerem a guerra para imporem religiões, ideologias políticas e para construírem impérios, então, por que não há-de haver um líder que fique na história por declarar guerra à injustiça e desigualdade que vai no mundo, porque é disto que se trata?

Algum cidadão americano, desde já envolvido na campanha eleitoral em curso, tem alguma dúvida de que Hillary Clinton, com 10 anos de Casa Branca, não tem mais experiência e conhecimentos políticos do que o seu colega de partido, Barack Obama?

Se a resposta é aquela que eu julgo expliquem-me, então, por que razão as intenções de voto em Hillary passaram, de 44% em Dezembro/07 para 38% em Fevereiro/08 e as de Obama de 27% em Dez/07 para 54% em Fevereiro.

Tudo está em aberto, as eleições só terminam quando as urnas encerram e os votos são contados mas o que importa, neste momento, é assinalar um sentimento de esperança, indesmentível, do povo americano em alguém que se apresenta como um Messias para a paz e o entendimento entre o seu país e o resto do mundo.

E mesmo que Obama não venha a ganhar, esse sinal está dado e como, para mim, o importante são as intenções, aquilo que nos vai cá dentro, o povo americano, de forma substancial, através da sua juventude, já se revelou nas suas intenções, “já ganhou as eleições” e o mundo, esse, poderá ficar a ganhar.

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