quarta-feira, agosto 06, 2008


AS ELEIÇÕES AMERICANAS




A minha convicção é de que as eleições americanas, as mais democráticas e participadas ao longo dos seus 50 Estados se, por um lado, constituem um duro teste para os candidatos, e sobre isso não há qualquer espécie de dúvida, representam-no também, ainda mais, para toda a população dos EUA com capacidade para votar.

Sem desmerecer nas qualidades que, naturalmente, também as tem, o povo americano é muito pouco culto e não revela grande inteligência quando, pela segunda vez, elegeu George Bush para Presidente dos EUA, completamente cego a tudo o que de negativo aconteceu no seu primeiro mandato por mais evidente que isso fosse:

- Recessão económica;
- Desemprego;
- Corte em programas sociais;
- Corte em direitos civis datados do século XVIII;
- Completo desfasamento com os interesses do meio ambiente;
- Gigantesco rombo fiscal, o maior da história do país;

No campo externo o panorama não era melhor:

- Tentativa de coagir o mundo a invadir o Iraque usando argumentos falsos e ameaças o que colocou o país numa situação de grande isolamento;

- A guerra contra a Al-Qaeda se não estava perdida estava pior, fruto de uma diplomacia unilateral que enfraqueceu amigos e fortaleceu inimigos proporcionando àquela organização terrorista não só a sua ramificação como também como lhe permitiu alcançar uma projecção mundial que nunca conseguira anteriormente;
- O Iraque, que antes da invasão, tinha uma posição irrelevante na relação EUA/ Al-Qaeda, foi transformado numa inesgotável fonte de novos combatentes para a Organização e num óptimo campo de treino para os seus combatentes onde os “exercícios” são ataques aos soldados americanos;

- A decisão de torturar os prisioneiros de Guantânamo sob o argumento de que estavam fora da Convenção de Genebra colocou os EUA ao nível de um país de bandidos;

- A corrupção e os crimes resultantes da entrega de contratos à Halliburton, empresa ligada ao Vice-Presidente Cheney, para além da perseguição a opositores políticos.

Pois, não obstante tudo isto, o povo americano reelegeu George Bush contra a evidência dos factos e contra a razão.

A mesma razão que foi tão exaltada pela corrente filosófica do pensamento Iluminista que impregnou aquele país no seu nascimento e que pelo primado da razão deveria ter conduzido os homens à escolha dos melhores caminhos para si próprios e para os seus semelhantes, numa sociedade onde todos tivessem voz e as regras fossem claras e pré estabelecidas.

Mas na prática, este modelo Iluminista foi traído por dois factores:

- O primeiro é a imprensa, verdadeiro quarto poder que se intrometeu sem a legitimidade e a responsabilidade de uma instituição do Estado, um poder que é conivente com interesses e movido a dinheiro, uma imprensa que censurou as imagens mais chocantes da guerra e nega-se a mostrar ao povo americano a verdadeira face do desprezo que o seu país despertou no mundo.

- O segundo e principal factor é a submissão da razão a outros factores mais básicos e obscuros da mente humana porque, no fundo, não é a razão dos iluministas que comanda o homem mas antes impulsos mais profundos e primitivos como o medo e o ódio que podem fazer desaparecer a razão com a facilidade de um estalar de dedos e por isso, Bush, na sua campanha, utilizou apenas dois argumentos:

- “11 de Setembro”

-“Eu sou um líder forte”

- O 11 de Setembro despertou o medo e a ferida no orgulho narcisista de um povo de cidadãos acostumados a verem-se a si próprios com intocáveis, sentimentos ainda mais insuportáveis porque dentro de peitos presunçosos precisavam de ser exorcizados sob a forma de ódio e aqui entrou o segundo argumento;

-“Eu sou um líder forte” e vocês não precisam de carregar no vosso peito esse fardo de ódio que estão sentindo, esqueçam as frustrações porque nós vamos lá e damos cabo deles pouco importando que sejam terroristas sauditas ou crianças iraquianas…

Bush foi o alívio, o produto da incontinência, da imaturidade, da irresponsabilidade de todos aqueles que o elegeram e agora... Como será?

- A estratégia está montada, as forças retrógradas, conservadoras e fundamentalistas de índole religiosas afectas ao partido republicano preparam-se para transformar as eleições num referendo a Obama, mais uma vez explorando os instintos mais profundos, primitivos e irracionais:
- de que o candidato é jovem, 47 anos de idade contra 42 de Roosevelt, 43 de Kennedy e 45 de Bill Clinton;
- inexperiente, como se fosse possivel ter experiencia da função de Presidente sem ter sido eleito para o cargo a primrira vez?
- e, sendo negro e talvez, quem sabe, até já tenha sido muçulmano, não poderá receber o voto dos americanos…

Ao encontro dos seus interesses, as grandes companhias petrolíferas já deram mais de 2 milhões de dólares à campanha de McCain que, por sua vez, quer cortar os seus impostos em 4 milhões.

A favor de Obama o grande apoio da população jovem, mais descomprometida, menos corrompida e sensível aos argumentos de mudança e de esperança num país e num mundo mais justo, solidário e dialogante.

Mas não só os jovens, também as mulheres e as minorias estão a reforçar a actual posição de Obama na disputa pela Presidência dos EUA.

Segundo os dados divulgados na última 3ª feira, dia 5, pela Associated Press-Ipsos, Obama retomou os 6 pontos de vantagem sobre o seu adversário.

Esta sondagem revela ainda que a liderança entre as mulheres é de 13 pontos, entre os eleitores com menos de 34 anos, de 30 pontos e entre os negros, os hispânicos e outras minorias é de 55 pontos.

McCain leva 10 pontos de vantagem entre os brancos e empata com Obama na preferência dos homens, grupo que tradicionalmente dá vantagem aos republicanos nas eleições presidenciais.

Numa outra sondagem feita pela Liftime Network, só para mulheres, Obama é o favorito para49% e McCain 38%.

As mulheres brancas favorecem McCain, 47 para 38% mas 89% das negras e 62% das hispânicas votam em Obama.

Questionadas sobre com quem queriam ir de férias 49% das entrevistadas preferiram a família Obama, 26% os McCain e 18% optaram por nenhuma das opções.

Espera-se que mais votos femininos venham a cair para o candidato democrata com a entrada em campanha de Hillary que confirmou que participará no próximo dia 8 na campanha de Obama no Nevada e em Agosto na Florida, na comemoração 88º aniversário do direito da mulher ao voto.

Como curiosidade, diga-se que a palavra mais frequente no blog de McCain é…Obama e sem surpresa nenhuma as pessoas de mais baixos rendimentos preferem Obama.

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