quinta-feira, agosto 21, 2008



Pensar é Melhor Que Rezar


Manifesto Ateísta de Sam Harris (Última Parte)




Por que razão a Religião há-de ser fonte de violência?


As nossas religiões são intrinsecamente incompatíveis uma com a outra.

Ou Jesus subiu dos mortos e está a chegar à terra como um super herói ou não; ou o Alcorão é a palavra de Deus ou não é.

Todas as religiões fazem reivindicações explícitas sobre o mundo e a profusão destas reivindicações incompatíveis cria uma base duradoura para o conflito.

Não há nenhum outro campo no qual os seres humanos estejam tão completamente cientes das suas diferenças ou lance essas diferenças em termos de recompensas ou castigos perpétuas.


Se uma pessoa acredita realmente que chamando Deus pelo nome certo pode fazer a diferença entre a felicidade e o sofrimento eterno, então é razoável tratar os hereges e os incrédulos bastante mal, será até mesmo razoável se os matar.

Se uma pessoa pensa que há algo que outra pessoa possa dizer a uma criança que ponha em perigo a sua alma para toda a eternidade, então o herege que mora na porta ao lado é mais perigoso do que um molestador de crianças. As “estacas” das nossas diferenças religiosas são mais altas e profundas do que aquelas que resultam do mero tribalismo, racismo ou políticas.

Fé “religiosa” é uma conversão-tampão. A religião é uma área do nosso discurso no qual as pessoas não são obrigadas a apresentarem evidências sobre convicções das quais estão tão seguras.

De tal forma seguras que são elas que vão determinar, frequentes vezes, a razão porque vivem, morrem e até matam.

Este é um problema porque quando as “estacas” são demasiado altas o ser humano apenas tem uma escolha simples entre a conversão e a violência.

Por isso, a nossa vontade fundamental, para ser razoável, tem que assentar em convicções sobre o mundo baseadas em evidências e argumentos novos. Só assim será garantido que o diálogo entre os homens é possível.

Certezas sem evidências são factores de divisão. Nada garante que pessoas racionais estejam de acordo mas é certa a divisão irracional entre pessoas aprisionadas dentro dos seus dogmas.

É muito pouco provável que consigamos ultrapassar as nossas divisões multiplicando as oportunidades de diálogo entre as religiões.


O desfecho para a nossa civilização não pode ser a tolerância mútua entre irracionalidades patentes.

Enquanto o discurso dos religiosos liberais, não fundamentalistas, concordar em seguir pontos onde as suas visões do mundo colidem, esses mesmos pontos permanecerão fontes perpétuas de conflito para os seus correligionários.

A justiça política, só por si, não oferece uma base duradoura para a cooperação humana.

Tendo dispensado o dogma da fé a guerra religiosa passou, simplesmente, a ser inconcebível do mesmo modo que, para outros, o canibalismo e a escravidão parecem equilibrados.

Quando temos razões para aquilo que acreditamos não precisamos para nada da fé e quando não temos nenhuma razão perdemos a conexão com o mundo e entre uma pessoa e outra.

O ateísmo não é mais nada do que um compromisso para o padrão mais básico da honestidade intelectual.

As convicções das pessoas deveriam ser proporcionais às suas evidências. Fingir estar certo sobre proposições relativamente às quais nenhuma evidência é até mesmo concebível, constitui uma falha intelectual e moral e só ateu percebeu isto.

O ateu é simplesmente uma pessoa que percebeu as mentiras da religião e recusou fazer parte dessa mentira.

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