terça-feira, outubro 21, 2008


Guerra dos Sexos


(continuação)



Na “nossa” Guerra dos Sexos, vimos no último texto, que as fêmeas, na tentativa de diminuírem a exploração de que são alvo por parte do machos, adoptaram, de acordo com a opinião de Richard Dawkins, duas estratégias, a do “Idílio Doméstico” e a do “Macho Viril”.

A primeira, de que já falamos, consistia em escolher entre os potenciais parceiros sexuais os que dessem garantias de maior fidelidade e domesticidade.

Na estratégia do “Macho Viril”, que iremos agora desenvolver resumidamente, o objectivo das fêmeas será escolher, não os que oferecem maior apoio na criação e desenvolvimento dos filhos, mas sim optando por aqueles que dão garantias de possuírem melhores genes e, mais uma vez, a arma utilizada continua a ser a recusa da cópula.

Efectivamente, alguns machos contêm um número maior de genes bons do que outros, genes que beneficiariam as perspectivas de sobrevivência dos filhos de ambos os sexos.

Por esta razão, e de acordo com esta estratégia, ela usará indicações bem visíveis dadas pelos machos e como todas elas têm a mesma indicação para se guiarem, a maioria concordará entre si sobre quais são os melhores que uma vez “eleitos” constituirão a “elite” de felizardos que realizarão a maior parte das cópulas.

As fêmeas apenas permitem a alguns machos porem em prática a estratégia ideal de exploração egoísta a que todos os machos aspiram mas elas certificam-se que esse luxo esteja apenas reservado aos melhores.

E quais são as evidências que as fêmeas procuram no machos?

-Uma delas será a habilidade para sobreviverem e se estão a cortejá-las é óbvio que provou a sua habilidade para sobreviver até à idade adulta, mas não provou necessariamente que sobreviva muito mais tempo.

Escolher machos velhos poderia ser uma boa política para a fêmea pois quaisquer que sejam as suas desvantagens, eles provaram, pelo menos, que podem sobreviver e ela poderá estar a associar os seus próprios genes com outros para a longevidade.

Mas viverem muito tempo sem garantias que lhes dêem muitos netos não adianta e por isso a virilidade constitui uma evidência mais importante que a longevidade.

- Outras evidências poderão ser músculos fortes, habilidade para caçar e obter alimentos, talvez pernas compridas como evidência da habilidade para fugir de predadores, etc.

Temos, assim, de imaginar as fêmeas a escolherem os machos com base em etiquetas ou indicadores perfeitamente genuínos, que tendem a ser evidentes da existência de bons genes.

No princípio a selecção seria feita com base em qualidades obviamente úteis, como os músculos fortes, por exemplo, mas depois dessas qualidades se terem tornado largamente aceites como atraentes entra as fêmeas de uma espécie, a selecção natural continuaria a favorecê-las simplesmente por serem atraentes.

Vejamos o exemplo do pavão:

- No começo, a cauda ligeiramente mais comprida que o normal poderá ter sido seleccionada pelas fêmeas talvez por indicar uma constituição apta e saudável quando, uma cauda curta poderia ter sido indicadora de alguma deficiência vitamínica o que significaria pouca habilidade para procurar alimento.

Tenha sido por esta razão ou por qualquer outra, estabeleceu-se que a cauda comprida era um factor atraente e de tal forma ele se generalizou que a regra para as fêmeas era simples:

- “Examine todos os machos e escolha aquele que tenha a cauda mais longa” e, desta forma, todas as fêmeas que se desviassem desta regra seriam penalizadas porque, se assim não o fizessem, os seus filhos teriam menos probabilidades por não serem considerados atraentes, mesmo quando o comprimento das caudas, por ser excessivo, não só atrapalhava como passava a constituir factor de risco acrescido para a sobrevivência.

Nas florestas indianas, onde vivem, os pavões são presas dos tigres e quando se refugiam, voando para os ramos das árvores, os que tiverem a cauda mais comprida estão mais sujeitos a serem caçados pelos enormes saltos que os tigres conseguem dar.

Por analogia, faz pensar nos automóveis americanos de uma certa época, anos 50 e 60, em que as longas traseiras eram um factor atraente e só quando se tornaram grotescas de tão longas que eram, as suas evidentes desvantagens superaram a vantagem da atracção sexual.

Mas, esta “história” das caudas compridas pode conter, para as fêmeas, uma mensagem escondida, subliminar, do género:

-“Repara em mim, que apesar desta cauda enorme que só me atrapalha, tenho força suficiente para competir com os outros e sobreviver”.

Pense numa mulher que observa dois homens numa corrida e ambos chegam à meta na mesma altura mas um deles, deliberadamente, carrega um saco às costas, naturalmente, ela concluirá que o homem com o saco às costas era o corredor mais rápido.

Esta teoria foi desenvolvida por Amotz Zahavi, eminente biólogo evolucionista, Prof. Emeritus de Zoologia da Universidade de Telavive, e relativamente a ela Richard Dawkins foi bastante céptico argumentando que a conclusão lógica desta tese deveria ser a evolução dos machos apenas com uma perna ou um olho…a isto contra argumentou Zahavi, que nasceu em Israel: “Alguns dos nossos melhores generais têm apenas um olho”.

Resumindo este capítulo, os diferentes tipos de sistemas de reprodução entre os animais – Monogamia, Promiscuidade, Haréns, etc. – podem ser compreendidos em termos de conflitos de interesses entre machos e fêmeas porque os indivíduos de cada um dos sexos “quer” maximizar a sua capacidade reprodutiva durante a sua vida.

Na base, a diferença fundamental entre o tamanho e número de espermatozóides e óvulos leva a que, os machos, em geral, sejam mais dados à promiscuidade e à ausência de investimento parental.

As fêmeas têm dois estratagemas defensivos disponíveis os quais, Richard Dawkins, denominou de “idílio doméstico” e “macho viril”, e são as circunstâncias ecológicas, ambientais, que vão determinar, espécie a espécie, que as fêmeas se inclinem mais para um ou para outro e quais as respostas dos machos.

Como um macho produz muitos milhões de espermatozóides por cada óvulo produzido por uma fêmea estes, em muito menor número, são mais valiosos pois têm muito maior probabilidade de entrar em fusão sexual do que qualquer um dos muitos milhões de espermatozóides.

Por isso, as fêmeas não têm necessidade de serem tão atraentes como os machos para garantirem que os seus óvulos sejam fertilizados.

Outra diferença é que as fêmeas são mais exigentes do que os machos quanto ao parceiro sexual.

Richard Dawkins, ao longo deste capítulo, não falou explicitamente sobre o homem mas é difícil não pensarmos nele quando abordamos o tema deste capítulo.

A recordação dos longos namoros, mais comuns há uns anos atrás, sugere que as mulheres, na nossa sociedade, jogam na estratégia do “Idílio Doméstico” e, na maioria dos casos, as sociedades humanas são monogâmicas e o investimento parental dos pais é grande e equilibrado.

Existem, no entanto, algumas sociedades que são promíscuas e outras têm por base haréns, e esta surpreendente variedade sugere que no nosso caso, as soluções são determinadas mais pela cultura do que pelos genes, mas é possível descortinar uma tendência para a promiscuidade nos homens e para a monogamia nas mulheres como seria de prever do ponto de vista evolutivo.

Uma característica anómala na nossa sociedade é a questão da propaganda sexual uma vez que, do ponto de vista evolutivo, deviam ser os homens a ostentarem-se e as fêmeas a serem pouco atraentes.

Na realidade, e abstraindo as excepções que já foram em menor número, são as mulheres que se vestem de forma a chamar as atenções, que pintam o rosto, põem pestanas postiças, etc., num comportamento equivalente, por exemplo, ao do pavão e ao das aves-do-paraíso macho.

Quando uma mulher é descrita numa conversa, é bastante provável que a sua atracção sexual, ou a ausência dela, seja salientada e isto quer por mulheres quer por homens mas, se forem estes a serem descritos, os adjectivos usados, provavelmente, nada terão a ver com o sexo.

Um biólogo, observando esta realidade, diria que estava na presença de uma sociedade em que são as fêmeas que competem pelos machos e não o contrário.

O que aconteceu ao homem ocidental moderno?

Será que o macho se tornou realmente o sexo procurado, aquele que está em demanda, o sexo que se pode permitir ser exigente?

Se assim for, qual o motivo?

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