domingo, outubro 19, 2008


Guerra dos Sexos

(Continuação)





Pelo menos entre os mamíferos, os filhos repartem-se igualmente por ambos os sexos e essa parece ter sido a Estratégia Evolutiva Estável (EEE), uma vez que, qualquer gene que provoque um desvio, para um ou para outro lado, só perderá com isso, como vimos a propósito da população de leões marinhos no texto anterior.

Na sua longa viagem através das gerações, um gene gastará aproximadamente metade do seu tempo em corpos de machos e a outra metade em corpos de fêmeas.

Alguns efeitos dos genes só se evidenciam nos corpos de um dos sexos, constituindo os chamados efeitos genéticos ligados ao sexo.

Um gene que controla o tamanho do pénis só se exprime em corpos masculinos mas também é transportado em corpos femininos, onde poderá ter um efeito bastante diferente mas não há nenhum motivo para supor que um homem não possa herdar da mãe a tendência para desenvolver um pénis longo.

Seja qual for o tipo de corpo em que o gene se encontre é de esperar que ele aproveite o melhor possível as oportunidades que esse corpo lhe oferece e que podem muito bem ser diferentes consoante o corpo seja masculino ou feminino.

Uma coisa é certa, cada corpo individual é uma máquina egoísta tentando fazer o melhor pelos seus genes porque são eles que a programam nesse sentido.

Voltando à população de leões-marinhos, já vimos que tanto machos como fêmeas, na qualidade de máquinas egoístas, “querem” filhos e filhas em igual número.

Neste aspecto estão de acordo; onde discordam é sobre qual deles irá recair o pesado fardo de criar cada uma desses filhotes, porque cada um deles quererá ter o maior número de filhos que for possível e a melhor maneira para o conseguir é induzir o respectivo parceiro a investir mais que a sua parte devida deixando-o a ele livre para ter filhos com outros parceiros.

Esta é uma estratégia desejada por ambos os sexos mas de muito mais difícil concretização por parte da fêmea pois elas ficam mais “comprometidas” com os filhos do que o pai.

Se ela experimentasse a táctica de deixar o filho ao pai para fugir com outro macho era relativamente fácil a este retaliar abandonando também a criança.

Portanto, pelo menos nas primeiras etapas do desenvolvimento do filho, é mais provável que seja o pai a abandonar a mãe do que o contrário.

Da mesma forma, pode-se esperar que as fêmeas invistam mais nos filhos do que os machos, não só no início mas também durante todo o seu desenvolvimento.

Assim, por exemplo, no caso dos mamíferos, é a fêmea que incuba o feto no interior do seu próprio corpo, que produz o leite para o amamentar quando ele nasce e que carrega grande parte do fardo de o criar e proteger.

O sexo feminino é explorado e a base evolucionária essencial para essa exploração reside no facto de os óvulos serem muito maiores que os espermatozóides.

Claro que há exemplos de pais que trabalham árdua e fielmente para tomarem conta dos filhos mas, de qualquer forma, existe uma pressão evolucionária sobre os machos para que eles invistam um pouco menos em cada criança e para que tentem ter mais filhos de outras fêmeas.

É como se houvesse uma tendência para os genes dizerem:

-“Corpo, se fores masculino, abandona a tua parceira sexual um bocadinho mais cedo do que o meu alelo rival te levaria a fazer e procura outra fêmea para serem bem sucedidos na pool genética".

Até que ponto esta pressão evolucionária prevalece na prática vária muito de espécie para espécie, mas a estratégia de o pai abandonar mais cedo a mãe e o seu filho só será compensadora se ela tiver uma forte probabilidade de criar o filho sozinha.

Mas haverá alguma coisa que a fêmea possa fazer para reduzir a exploração que o seu parceiro exerce sobre ela?

Ela tem um grande trunfo nas suas mãos: pode recusar-se a copular e num mercado de vendedores, é dela que há maior procura e isto porque transporta consigo o dote de um óvulo grande e nutritivo e um macho que tenha sucesso em copular ganha uma reserva valiosa de alimentos para a sua prole.

A fêmea, potencialmente, está em condições de regatear antes de copular, mas haverá alguma forma realista pela qual, qualquer coisa equivalente a regatear, possa evoluir por selecção natural?

Richard Dawkins considera duas Estratégias:

- A Idílio Doméstico e

- A do Macho Viril;

A estratégia mais simples é a do Idílio Doméstico e consiste no seguinte:

- A fêmea examina todos os machos e tenta detectar sinais de fidelidade e de domesticidade, admitindo que na população de machos haja variações na predisposição para ser um parceiro fiel.

Se as fêmeas puderem reconhecer essas qualidades de antemão, poderão beneficiar-se a si próprias fazendo as escolhas certas.

E qual será o comportamento adequado da fêmea para conseguir detectar quais os machos com maior predisposição para serem fiéis?

- Serem recatadas, “tornarem-se difíceis” durante muito tempo pois qualquer macho que não seja suficientemente paciente para esperar até ao momento em que a fêmea consinta em copular não será, provavelmente, um marido fiel.

- Insistindo num noivado prolongado, a fêmea excluirá os pretendentes casuais a favor daqueles que provaram as suas qualidades de perseverança e fidelidade sendo certo que os machos também beneficiam do noivado prolongado quando existe o perigo de serem ludibriados e cuidarem do filho de outro macho.

No próximo texto abordaremos a estratégia do “Macho Viril”.

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