sexta-feira, novembro 07, 2008


MUDANÇA






Esta foi a palavra-chave da campanha de Obama.

Mudança, objectivo que não deve ser fácil de alcançar porque, logo de seguida, dizia-se : “Ies, Whe Can”, como forma de estímulo e encorajamento para se chegar a ela.

Quem nasceu em Portugal em 1939, compreende melhor esta coisa da mudança porque, durante a primeira parte das suas vidas nada mudou, mais, ela era rigorosamente proibida e quem a tentasse corria sérios riscos.

Obama é um candidato a operar essa mudança de acordo com as promessas e objectivos que anunciou ao povo americano e se alguém tem créditos e apoios para o conseguir é exactamente ele.

Em todas as sociedades existe uma espécie de “desequilíbrio estável” que se mantém enquanto as tensões que o suportam resistem.

Trata-se de situações dinâmicas nas quais, permanentemente, se fazem ou tentam fazer-se reajustamentos para que esse “desequilíbrio estável” não se quebre pois há uma resistência natural à mudança.

Nós somos, bem vistas as coisas, conservadores natos, mais não seja por uma questão de comodismo, os nossos genes estão mandatados para fazerem cópias fiéis de si próprios para que na geração seguinte nada mude, e se atentarmos bem na história das revoluções lembramo-nos que quando elas se anunciam pretendem mudar tudo para depois, mais tarde, descontadas as alterações registadas ao nível dos protagonistas, no essencial, é muito pouco aquilo que muda.

Mas há erros de sistema, quer ao nível político, quer económico que se acumulam, agravam até provocarem rupturas a exigirem mesmo mudanças.

Aconteceu em Portugal com a revolução do 25 de Abril, tinha acontecido antes na Rússia com a revolução bolchevique em Fevereiro de 1917.

As mudanças anunciadas por Obama não são fruto de nenhuma revolução, ele conquistou o direito de as implementar através de eleições, não porque a sociedade americana tenha deixado de ser o que é, maioritariamente conservadora, mas porque os americanos estão desesperados como nunca estiveram há muitas décadas e no momento destas eleições, Obama apareceu providencial e magistralmente a falar de esperança quando esta parece ser a última coisa que resta a milhões de seus concidadãos.

O desequilíbrio registou-se ao nível do sistema financeiro que vivia num equilíbrio cada vez mais precário até ao seu desmoronamento e agora atrás do financeiro, inevitavelmente, vem o económico, aquele que dá trabalho às pessoas e cria a verdadeira riqueza.

Fala-se de um desregulamento do sistema de crédito ao imobiliário pelos bancos de financiamento americanos, mas há também outros problemas de fundo provenientes de relações comerciais que se liberalizaram em condições de desigualdade.

Nos últimos 15 anos centenas de milhões de chineses foram tirados da miséria dos campos para integrarem uma actividade industrial num país autoritário em que os direitos dos trabalhadores não existem e a moeda é mantida artificialmente a baixas cotações para facilitar as exportações o que tem permitido à China taxas de crescimento económico de dois dígitos.

A melhoria do nível de vida das populações dos países que agora se chamam de emergentes era um problema que a humanidade tinha e tem que resolver e a globalização parecia ser, e é, o caminho para atingir esse objectivo mas há regras, princípios que têm de ser observados.

Os negócios à escala planetária atingiram dimensões nunca vistas, os milionários passaram a bilionários e os interesses destas pessoas sobrepôs-se aos interesses dos cidadãos sejam eles de que país forem.

Esqueceu-se que o sistema de economia de mercado que permite que as pessoas enriqueçam pela sua natural ambição, qualidades de trabalho e de imaginação, não dispensa um acompanhamento atento do poder político que tem a estrita obrigação de defender o normal funcionamento desse sistema que é aquele que melhor nos garante a liberdade e se ajusta à nossa natureza.

Mas este problema ultrapassa Barack Obama.

Restabelecer a confiança no mercado e nos seus agentes é uma questão que só pode ser resolvida por todos e com algum tempo, independentemente do muito que há a fazer no campo das reformas, principalmente do sistema financeiro e fiscal.

A confiança e a credibilidade são aspectos de natureza psicológica que têm mais a ver com comportamentos instintivos do que racionais.

Personalidades como Obama com responsabilidades no plano internacional emprestam credibilidade e ajudam à confiança no sistema político, mas é evidente que só por si não o podem resolver.

De resto, ele próprio já afirmou que relativamente a muitas das suas promessas e objectivos, dois ou três anos ou mesmo um único mandato, serão insuficientes o que significa que os problemas estruturais com que a sociedade americana se debate levam anos a resolver, especialmente numa situação de crise económica e financeira a qual, se é certo que o ajudou a ganhar as eleições, vai agora criar-lhe dificuldades acrescidas na governação.

Mas, com a ajuda da crise ou sem ela, os americanos ao elegerem Obama como seu Presidente, com mais 4.572.813 votos populares e 338 votos eleitorais contra 156 de Mcain, estão de parabéns e subiram muito, um pouco por todo o mundo, no conceito das pessoas, cansadas de Bush que acabou o seu mandato de forma perfeitamente humilhante com 27% de simpatizantes.

Em 1957, Luther King dizia:

- “Dêem-nos um boletim de voto e desta noite negra nascerá uma aurora de justiça”, mas só em 1965 o Presidente Lyndon Johson assinou a lei que acabava com as restrições de voto dos negros em todo o país, e em 4 de Novembro de 2008, 43 anos mais tarde, deram-lhe um Presidente!

Estou perfeitamente certo que Obama irá deixar a América e o mundo melhores do que os recebeu porque as suas enormes qualidades humanas e de inteligência, demonstradas ao longo de toda a sua vida sem falhas ou hiatos, nos obrigam a criar essa expectativa e a história é feita por homens e o futuro será o que eles construírem e…tenhamos esperança e façamos todos por isso.

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