quarta-feira, janeiro 21, 2009


“O Coveiro da Pátria”



Já lá vão vários dias após Manuela F. Leite ter acusado José Sócrates de ser o “coveiro da pátria”. Entretanto, Barack Obama foi empossado Presidente dos EUA, e responsáveis pelo Partido Socialista reagiram àquela estapafúrdia acusação afirmando que a líder da oposição estava a ficar desesperada.

Mas esta expressão de “coveiro da pátria” ficou-me a matraquear a cabeça talvez porque coveiro faz-me lembrar cemitérios e eu sou alérgico a cemitérios que me recordam que a vida é finita.

Mas, fazendo um esforço e pensando melhor, há um aspecto que seria bom esclarecer:

Das duas, uma:

- Ou a pátria já estava morta e José Sócrates, num acto de higiene pública em defesa do ambiente, limitou-se a enterrá-la;

- Ou foi ele próprio que a matou.

No primeiro caso temos que o louvar e não censurá-lo, no segundo, teremos que apurar se ele esteve sozinho nesse tresloucado acto ou teve cúmplices e, falando em cúmplices, seria bom que Manuela F. Leite estivesse muito caladinha porque, parece, há uns anitos atrás fez negócios muito pouco vantajosos para a pátria com umas dívidas que ela negociou, enquanto que, José Sócrates, conseguiu grandes recuperações no défice público.

Mas morre não morre ou já morreu, está ou não enterrada, o que me angustia nesta conversa do “coveiro da pátria” é o tom fúnebre e odiento das palavras de Manuela F. Leite a quem estou a imaginar de luto cerrado, casaco preto até aos pés, mala da mesma cor pendurada na mão direita, ar compungido, passo lento, olhos no chão, a acompanhar a carreta onde segue esta que era a nossa ditosa pátria bem amada.

A seu lado, ombro a ombro, no seu ar de intelectual assumido e prestigiado, seu apoiante incondicional nas lides partidárias, Vasco Graça Moura segue triste a remoer as estrofes do discurso fúnebre que, por certo, não deixará de fazer.

A sua versão é, contudo, um pouco diferente: afinal, a pátria de que José Sócrates terá sido coveiro, na versão F. Leite, foi antes, de acordo com o seu comentário político de hoje no DN, metida a pique, afundada sem alma nem coração, pelo 1º Ministro.

De qualquer forma, “enterrada” por José Sócrates ou “afundada” por ele nas águas oceânicas - esta versão mais de acordo com a nossa história trágico – marítima - o que me impressiona e aflige nestes discursos lúgubres é que eles são tudo menos o recomendado para os portugueses escutarem nesta hora difícil.

Queremos ouvir falar da vida e não da morte, da esperança para além da crise e não de missas de “requiem”, queremos discursos que nos estimulem e apelem para as nossas energias em vez de nos dizerem que estamos mortos e enterrados ou jazemos no fundo do mar.

Estes políticos que nos falam desta maneira deprimem-nos, não nos interessam e muito menos à pátria.

Para baixarem as expectativivas no futuro dos portugueses já bastam os Telejornais.

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