sábado, fevereiro 21, 2009


Eugénio de Andrade

SEM TI

E de súbito desaba o silêncio
É um silêncio sem ti,
Sem álamos,
Sem luas.


Só nas minhas mãos
Ouço da música das tuas…




QUE MÚSICA ESCUTAS TÃO ATENTAMENTE


Que música escutas tão atentamente
Que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
Que tudo canta ainda?


Queria falar contigo,
Dizer-te apenas que estou aqui,
Mas tenho medo,
Medo que toda a música cesse
E tu não possas mais olhar as rosas.


Deixa-te estar assim,
Ó cheia de doçura,
Sentada, olhando as rosas,
E tão alheia
Que nem dás por mim…


Medo de quebrar o fio
Com que teces os dias sem memória.
Com que palavras, beijos
Ou lágrimas
Se acordam os mortos sem os ferir,
Sem os trazer a esta espuma negra
Onde corpos e corpos se repetem,
Parcimoniosamente
No meio de sombras

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