terça-feira, fevereiro 10, 2009


A Festa de Darwin




Comemora-se este ano o 150º Aniversário do livro mais incendiário da história da Ciência e, por coincidência, 200º do aniversário do inglês de modos suaves que o escreveu.

Charles Darwin não inventou a ideia da evolução, tal como Abraham Lincoln não inventou a ideia da liberdade. O que Darwin ofereceu com “A Origem das Espécies” foi uma teoria consistente sobre a forma como a evolução pode ocorrer unicamente através de forças naturais, dando aos cientistas liberdade para explorarem a gloriosa complexidade da vida em vez de a aceitar simplesmente como mistério impenetrável.

“Nada em biologia faz sentido excepto à luz da evolução” escreveu há 36 anos o geneticista Theodosius Dobzansky.

Se criaturas vindas do espaço algum dia visitarem a Terra, a primeira pergunta que farão, para se aperceberem do nível da nossa civilização, será:

“Eles já descobriram a evolução ?”.

Os seres vivos existiam na Terra sem saberem porquê durante mais de 3 biliões de anos antes da verdade ocorrer, finalmente, a um deles. O seu nome foi Charles Darwin. Na verdade, outros antes dele também tinham suspeitado dela mas foi Darwin quem, pela primeira vez, construiu uma explicação coerente e defensável da razão da nossa existência.

À pergunta, “Porque Existem Pessoas” já podemos dar uma resposta sensata em vez de recorrer à superstição.

- Há um sentido para a vida?

- Para que existimos?

- O que é o Homem?

“Antes de 1859 todas as tentativas de responder a estas perguntas eram desprovidas de valor e estaremos melhor se simplesmente as ignorarmos completamente” diz-nos o eminente Zoólogo G.G. Simpson.

Hoje, a Teoria da Evolução está tão sujeita à dúvida quanto a Teoria de que a Terra anda à volta do Sol, contudo, as implicações profundas da revolução de Darwin ainda estão para serem completamente compreendidas.

A maior Exposição do mundo dedicada a este famoso naturalista inglês não vai ser inaugurada em Londres, Paris ou Nova York, mas sim em Lisboa, a 12 de Fevereiro, dia em que se completam 150 anos da publicação da sua principal obra “A Origem das Espécies por Selecção Natural”.

No entanto, as celebrações, começaram em Portugal ainda em 2008 com conferências, debates, exposições, edição de livros e concursos escolares.

Entre Outubro de 2008 e Janeiro de 2009 a Gulbenkian (quem haveria de ser? !) realizou quatro conferências de divulgação com especialistas e auditórios esgotados por pessoas de todas as idades, obrigando a instalar monitores e cadeiras nos átrios de acesso para que os interessados pudessem ouvirem tudo de perto.

Cem mil visitantes são esperados até Maio. As visitas guiadas - mais de 600 – estão esgotadas desde Dezembro e nove especialistas da Evolução, de renome mundial, vão realizar Conferências na Gulbenkian.

A Evolução é um tema entusiasmante, mobilizador, que desafia a nossa inteligência e imaginação e, por tudo isto, o nosso país está de parabéns e a Câmara de Oeiras, muito especialmente, porque através de um protocolo com a Gulbenkian, já garantiu a instalação definitiva, a partir de 2011, desta exposição num Museu da Ciência de Oeiras, a funcionar na antiga Fábrica da Pólvora.

Como se explica a popularidade de Darwin em Portugal, foi perguntado ao Professor e Paleontólogo do Cento de Geologia da Universidade de Lisboa Carlos Marques da Silva que responde:

- “As suas teorias vêm ao encontro da diversidade de formas de vida no mundo que nos rodeia, o que fascina muitas pessoas. São, sem dúvida, um dos pilares da nossa cultura”;

- “A evolução não é um processo caótico, uma espécie de roleta russa. Ela tem um fio condutor, uma lógica de adaptação ao meio físico e biológico, mas o resultado final é contingente”;

- “O homem vai continuar a evoluir e é natural que se modifique, simplesmente, ninguém sabe é como, porquê e em que direcção ela vai acontecer, porque o processo evolutivo é imprevisível”.

Os argumentos apresentados por Darwin no seu livro, cujo título completo é: “Sobre a Origem das Espécies Através da Selecção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta Pela Vida” não convenceu logo muitos cientistas tal como membros do clero vitoriano e isto, durante décadas.

Apenas em 1940, depois da clarificação que lhe proporcionou a genética das populações, é que, a realidade da evolução se tornou amplamente aceite.

Hoje, para compreender a história da evolução, a sua narrativa e o seu mecanismo, os Darwins modernos não precisam de conjecturar, basta consultarem o código genético, e que melhor prova para a crença de Darwin na origem comum de todas as espécies do que encontrar um gene, o mesmo gene, a cumprir a mesma função em aves e peixes de diferentes continentes?

A genética moderna defende o legado de Darwin e esse é o aspecto mais importante para o cientista que, de todos, terá tido a ideia mais brilhante de quantas já afloraram ao espírito humano. No entanto, também cometeu erros:

- As suas ideias sobre o mecanismo da hereditariedade estavam erradas.
Ele pensava que o organismo fazia uma mistura das características dos seus progenitores e, mais tarde, defendeu que também transmitia as características adquiridas em vida.

Ao contrário do monge Gregor Mendel, Darwin nunca compreendeu que um organismo não é uma mistura dos seus dois progenitores, mas o resultado composto de características individuais, transmitidas pelo pai e pela mãe, por sua vez provenientes dos seus próprios pais e avós.

O trabalho de Mendel sobre a natureza independente da hereditariedade foi publicado numa obscura revista em 1866, sete anos depois da Origem das Espécies. Alguns cientistas proeminentes da época receberam-no mas ignoraram-no.

O destino do monge foi morrer anos antes do significado da sua descoberta ser reconhecido, tal como Darwin, que morreu dois anos antes, em 1882.

Mas o importante é que o legado de ambos nunca esteve tão vivo.

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