sábado, fevereiro 21, 2009


Tieta do Agreste

EPISÓDIO Nº 57


DO BANHO DO RIO COM OS SOBRRINHOS, O ATREVIDO E O RECATADO


Diverte-se Tieta com os sobrinhos. Peto, um espoleta, reinador, matreiro a rondar em torno delas, da tia de são Paulo e da formosa enteada, quando não está no bar instruindo-se no que não deve. No que não deve?

- Esse menino é a minha cruz. Ponho-o de castigo, arreio-lhe a taça com vontade, nem assim. Em vez de estudar, vive no bar aprendendo porcarias… tenho um desgosto! Lastima-se Perpétua, constatando a ausência do filho menor.

- Porcarias? – Antonieta adora arreliar a irmã, escandalizá-la – pois fique sabendo que já estão ensinando essas coisas na escola, li nos jornais que vai ser obrigatório, desde o primário.

- Nas escolas, o quê?

- Aulas de educação sexual para meninos e meninas.

- Cruz credo! – benze-se, puxa do terço, o mundo está perdido.

Peto desemboca na varanda, contente da vida, o ar sonso, o olho velhaco regalando-se nos seios entrevistos, nas pernas e coxas à mostra; vai ter uma indigestão, sorri Tieta. Vem recordar o banho no rio, programado para aquela manhã. Perpétua ordena a Ricardo que se prepare e acompanhe a tia. Irão à Bacia de Catarina.

No caminho, carregado com os instrumentos de pesca, Peto conversa com Leonora:

- Mãe me disse que você é minha prima. É mesmo?

- Sou sim, Peto. Está contente com essa prima feiosa?

No bar, Peto escuta Osnar provocando Seixas sempre ocupado a levar as primas sempre ao cinema, ao banho de rio, a passear com elas, são várias: minha prima Maria das dores para cá, minha prima Lurdinha para lá, minha prima Lalita chegou da roça. Osnar cantarola a paródia de certa melodia italiana, come prima… quem tem prima come prima. No bar, aplicado, Peto se educa.

- Contente, pacas. Feiosa? Pô – o olho atrevido atravessando a saída de banho – Só é bonita. Seu Ascânio está gamado.

- Quem?

- Morda aqui – estende o dedo mínimo – diga que não sabe. Pô!

Mistura as expressões da terra com a gíria que ouve na rádio, freguês de programas de música jovem. Tieta e Ricardo ficaram para trás.

- A tia é legal, gosto dela pacas.

A Bacia de Catarina é uma pequena enseada na curva do rio, onde as margens se afastam na maior distância. A correnteza serpenteia entre pedras, seixos, rochedos, águas claras, límpido abrigo. Dali se avista o ancoradouro, os barcos, as canoas, a lancha de Elieser. Escondidos entre as rochas, à margem, recantos discretos, pousos de namoro e frete, o capim amassado pelos corpos.

Antigamente havia horário para homem e mulheres banharem-se separados na Bacia de Catarina, duas vezes por dia, pela manhã e à tarde. Com o aparecimento dos maiôs e a evolução dos costumes – mesmo em Agreste os costumes evoluem – desapareceram os horários e a separação. De manhã cedinho é certo encontrar seu Edmundo Guerreiro, Aminthas e Fidélio. Seixas na farra com Osnar até ao alvorecer, aparece mais tarde comboiando primas. Lavadeiras batem roupa sobre as pedras. Lavadeira foi Catarina, conta a lenda

Lá vai Catarina
Com sua bacia
O patrão atrás
De fala macia
A água é fria
Quente a bacia
De Catarina


Por volta das seis surge Carol, passa em silêncio, sem dar trela a ninguém, todos espiam. A água é fria, é quente a bacia, na de Carol mergulha somente Modesto Pires, um despropósito!

Site Meter