domingo, março 22, 2009


Bento XVI e
o
Preservativo





A Sida é um dos grandes flagelos de África, infelizmente longe de ser o único mas é, sem dúvida, dos mais graves.

Num continente em que 70% das pessoas estão infectadas, no ano passado, aos 22 milhões de seropositivos na África Subsariana, juntaram-se mais 1,9 milhões.

E o que diz Bento XVI à sua chegada aos Camarões, na sua visita ao continente africano?

Textualmente:

- “Não se resolve o problema da Sida com a distribuição de preservativos. Pelo contrário, o seu uso só o agrava”.

O mundo reagiu com espanto e indignação, excepção feita aos seus cardeais e a João César das Neves mas, na verdade, não há razão para surpresas.

As pessoas têm que desfazer nos seus espíritos a ideia de que a religião católica ou qualquer outra, prossegue como finalidade, a vida e a felicidade humanas e só este equívoco é que explica a surpresa e indignação face às palavras do Papa.

A Igreja Católica é um edifício construído para ser um instrumento de Poder e de Controle de Consciências e com esta finalidade perpetuar-se no tempo, aproveitando-se de um “espaço de crença” que, por questões de sobrevivência da espécie, se desenvolveu no cérebro humano ao longo do seu processo de desenvolvimento.

Homens muito inteligentes, ambiciosos e perspicazes construíram-no de princípios, dogmas, preceitos, regulamentos, tudo ditado por Deus, e uma história nem sempre bem construída – o espírito santo, a virgindade de Maria, a ressurreição – mas para aqual o sentimento de crença não tem nenhum tipo de exigência quanto ao rigor.

Certo, é que a Igreja não se preocupa com o homem mas consigo própria e quem julgar que não é assim corre o risco de se surpreender.

Se a religião católica transigisse relativamente ao uso do preservativo, amanhã no que respeitasse à morte medicamente assistida em situações previstas na lei, ao divórcio, ao aborto, igualmente nas condições das leis etc, estaria a pôr-se em causa a si própria no futuro porque estaria a fragilizar os seus alicerces.

O sofrimento e o pecado são peças indispensáveis da doutrina da Igreja e no seu controle das consciências. Na sua óptica, as pessoas não nasceram para ser felizes mas para amarem e respeitarem o seu Deus da forma que ela, Igreja, estipula sob pena de serm castigadas depois da morte por toda a eternidade.

A Igreja precisa de candidatos a pecar e para isso tem que criar proibições, regras de vida desumanas, daquelas em que o incumprimento é obvio porque é a nossa própria natureza que está a ser atingida e o sexo, fonte da vida, de prazer e de felicidade é, por isso, um campo excelente.

A “ordem” do Papa para os africanos é:

- Submetam-se à Igreja, sejam castos, não tenham relações sexuais fora do casamento. Se assim não procederem serão duplamente castigados: primeiro, pela Sida e após a morte irão para o inferno.

A intimidação é a forma mais eficaz testada pela Igreja ao longo dos séculos para obter disciplina e respeito e Bento XVI, como o mais intransigente e rigoroso dos Papas não podia, mesmo que isso vá contribuir para mais uns milhares de seropositivos, fragilizar o edifício da doutrina, num dos seus aspectos essenciais: abrir mão de uma proibição que leva directa e garantidamente ao pecado.

Se um dia, por hipótese, as pessoas deixassem de pecar, a religião, esta ou qualquer outra, deixaria de ser necessária.

Bento XVI velará para que isso não aconteça…



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