terça-feira, junho 09, 2009




PREFÁCIOS DE MOITA FLORES E DE JOSÉ NIZA AO RELATÓRIO DE SALGUEIRO MAIA DA "OPERAÇÃO FREGIME"




O Testemunho Directo
(Francisco Moita Flores)

O documento que aqui se publica faz parte do conjunto de fontes históricas directas que explicam o 25 de Abril de 1974. Uma fonte decisiva e que nenhum historiador pode negligenciar ao abordar a Revolução dos Cravos. Por outro lado, é um testemunho de um comandante militar, de um herói cujas qualidades o tornaram um mito. E seguramente o Capitão mais amado do país. O José Niza explica, de seguida, de forma certa esta fonte da História, da nossa memória recente, dos nossos afectos. Agora, 35 anos depois do 25 de Abril, no ano em que a Escola Prática de Cavalaria é entregue ao povo de Santarém, este Testemunho Directo é uma bela maneira de evocar, de presentificar aquilo que sobre Abril não se disse. Enquanto Presidente
da Câmara desta luminosa cidade e cidadão que rememora emocionado esses dias de esperança límpida, sinto uma alegria extrema por deixar esta edilidade associada a este importante documento.


Um Relatório Militar
José Niza





Este Relatório da Operação “Fim de Regime”, escrito e assinado em 29 de Abril de 1974 por Fernando Salgueiro Maia, Capitão de Cavalaria e Comandante das Forças que da Escola Prática de Santarém se deslocaram a Lisboa para depor o regime e restaurar a democracia em Portugal, é um documento fascinante. Fascinante em todos os aspectos e em todas as leituras que dele possam fazer-se.

Muitas vezes acontece que as coisas essenciais, autênticas e puras são remetidas para trás dos biombos da História. E por lá ficam esquecidas.

Este Relatório chegou-me às mãos há 15 anos quando Santarém foi o palco da Homenagem Nacional a Salgueiro Maia e eu tive a honra de presidir à comissão organizadora. Foi nessa altura, já 29 anos passados sobre o 25 de Abril de 1974, que o li pela primeira vez. E espanta-me que hoje, 35 anos depois, este documento continue a ser desconhecido da esmagadora maioria dos Portugueses. Na verdade, é como se se tratasse de um texto inédito e esquecido, encontrado num qualquer armário da Escola Prática, agora vazia de heróis e de memórias.

O fascínio desta extraordinária história reside, antes de mais, na simplicidade objectiva e fria com que Salgueiro Maia relata os acontecimentos. Uma simplicidade tão simples que torna banal, rotineira e quase sem importância uma operação de enorme risco que podia ter custado a vida a muitos militares.

Outra vertente desta fascinante descrição reside no facto de Salgueiro Maia ser completamente omisso a qualquer tipo de abordagem polémica ou ideológica. O momento supremo da operação que consistiu na rendição e abdicação de Marcelo Caetano, Presidente do Conselho de Ministros, é relatada da seguinte forma: “Pedi audiência ao Prof. Marcelo Caetano no que fui atendido. A conversa decorreu a sós e com grande dignidade. Nela o Prof. Caetano solicitou que um oficial General fosse receber a transmissão e poderes para que o Governo não caísse na rua”.

Ponto final. Em três linhas de texto e quarenta e duas palavras, Salgueiro Maia – protagonista e testemunha de si próprio – contas como as coisas se passaram. E anote-se o respeito pelo inimigo derrotado. Ficámos também a saber, um a um, os nomes dos 160 heróis. Heróis anónimos, quase todos eles, uma espécie de soldados desconhecidos aos quais o Portugal de hoje tudo deve.

A divulgação deste Relatório, sobretudo para os mais novos, para os que nasceram depois do 25 de Abril de 1974, é um imperativo patriótico que agora se cumpre.

Viva Salgueiro Maia!
Viva o 25 de Abril!
Viva Portugal!

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