Tieta do Agreste
EPISÓDIO Nº 157
EPISÓDIO Nº 157
- Pensa que vale a pena, Comandante? – cepticismo na interrogação de Tieta.
- É o que eu também pergunto – intervém dona Laura preocupada.
- Mesmo que não sirva de nada, não vou deixar que destruam Mangue Seco sem que eu proteste.
A canoa corta a água, margeando o rio que se alarga à aproximação da foz. A paisagem ganha em beleza, avista-se ao longe o oceano, a correnteza torna-se mais rápida, a embarcação mais leve. A voz do Comandante baixa de tom mas conserva o acento de paixão, busca convencer:
- Escute, Tieta, pense no que lhe vou dizer. Se eu abrir a boca em Agreste para protestar, não vou conseguir nada, é a pura verdade. Vão me ouvir porque me respeitam, alguns ficarão de acordo, ninguém fará nada. O mesmo acontece com Barbozinha, não vai adiantar nada ele escrever tanta poesia. Talvez A Tarde publique algum poema, qual a serventia? Nenhuma. É capaz até que haja alguém quem venha divertir-se à custa dele, acusando-o de vira-casaca: primeiro elogiou, chamou os homens da companhia de Reis Magos, depois, quando seu nome apareceu no jornal, mudou de lado. Você sabe como é a língua do povo.
- Coitado de Barbozinha, está magoado. Quando soube da crónica, ficou feito doido, disse que estava desmoralizado, me deu um trabalhão…
- Foi atrás de Ascânio, está aí o resultado.
- Ascânio não tem culpa, ele também não sabia nada dessa tal… Como é mesmo o nome?
- Brastânio.
- Falaram em progresso, mandaram brindes, Ascânio vibrou, podia acontecer o mesmo com qualquer um.
- Não nego. Ascânio meteu na cabeça que tem de reerguer o município, repetir a administração do seu avô que foi o melhor Intendente de Sant’Ana do Agreste no tempo da carochinha. Botou luz na cidade, calçou as ruas, construiu o ancoradouro, o sobrado da Prefeitura. Basta ouvir falar em progresso, Ascânio fica maluco, com isso pode botar a perder tudo quanto nós temos: o clima, a beleza, a paz. Uma coisa eu lhe digo, Tieta: meu voto ele não terá para Prefeito.
- Não diga isso, Comandante. Ascânio com o amor que tem a Agreste pode fazer muita coisa boa…
- … e muita coisa ruim. Antes, eu não duvidava da honradez de Ascânio. Mas ele praticou um acto muito feio.
- E qual foi?
- Ele sabia dos planos dessa gente, viu as plantas, os projectos, estava a par de tudo e calou a boca, ficou tapeando todo o mundo com histórias de turismo…
- O coitado não sabia do perigo de tal indústria… parece que é o fim não é? Pelo que diz o jornal…
- Se é… Não pode haver nada de pior. Vamos dar por certo que ele não soubesse do perigo. Mas como explicar que continue a defender a Brastânio mesmo depois do artigo de Giovanni Guimarães? Hoje mesmo, de manhã, na Agência dos Correios, ele disse as últimas a mim e a Carmosina. Conheço o mundo, Tieta, aprendi que a pior coisa para um homem é a ambição do poder. Não há honradez que resista.
- É o que eu também pergunto – intervém dona Laura preocupada.
- Mesmo que não sirva de nada, não vou deixar que destruam Mangue Seco sem que eu proteste.
A canoa corta a água, margeando o rio que se alarga à aproximação da foz. A paisagem ganha em beleza, avista-se ao longe o oceano, a correnteza torna-se mais rápida, a embarcação mais leve. A voz do Comandante baixa de tom mas conserva o acento de paixão, busca convencer:
- Escute, Tieta, pense no que lhe vou dizer. Se eu abrir a boca em Agreste para protestar, não vou conseguir nada, é a pura verdade. Vão me ouvir porque me respeitam, alguns ficarão de acordo, ninguém fará nada. O mesmo acontece com Barbozinha, não vai adiantar nada ele escrever tanta poesia. Talvez A Tarde publique algum poema, qual a serventia? Nenhuma. É capaz até que haja alguém quem venha divertir-se à custa dele, acusando-o de vira-casaca: primeiro elogiou, chamou os homens da companhia de Reis Magos, depois, quando seu nome apareceu no jornal, mudou de lado. Você sabe como é a língua do povo.
- Coitado de Barbozinha, está magoado. Quando soube da crónica, ficou feito doido, disse que estava desmoralizado, me deu um trabalhão…
- Foi atrás de Ascânio, está aí o resultado.
- Ascânio não tem culpa, ele também não sabia nada dessa tal… Como é mesmo o nome?
- Brastânio.
- Falaram em progresso, mandaram brindes, Ascânio vibrou, podia acontecer o mesmo com qualquer um.
- Não nego. Ascânio meteu na cabeça que tem de reerguer o município, repetir a administração do seu avô que foi o melhor Intendente de Sant’Ana do Agreste no tempo da carochinha. Botou luz na cidade, calçou as ruas, construiu o ancoradouro, o sobrado da Prefeitura. Basta ouvir falar em progresso, Ascânio fica maluco, com isso pode botar a perder tudo quanto nós temos: o clima, a beleza, a paz. Uma coisa eu lhe digo, Tieta: meu voto ele não terá para Prefeito.
- Não diga isso, Comandante. Ascânio com o amor que tem a Agreste pode fazer muita coisa boa…
- … e muita coisa ruim. Antes, eu não duvidava da honradez de Ascânio. Mas ele praticou um acto muito feio.
- E qual foi?
- Ele sabia dos planos dessa gente, viu as plantas, os projectos, estava a par de tudo e calou a boca, ficou tapeando todo o mundo com histórias de turismo…
- O coitado não sabia do perigo de tal indústria… parece que é o fim não é? Pelo que diz o jornal…
- Se é… Não pode haver nada de pior. Vamos dar por certo que ele não soubesse do perigo. Mas como explicar que continue a defender a Brastânio mesmo depois do artigo de Giovanni Guimarães? Hoje mesmo, de manhã, na Agência dos Correios, ele disse as últimas a mim e a Carmosina. Conheço o mundo, Tieta, aprendi que a pior coisa para um homem é a ambição do poder. Não há honradez que resista.
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