terça-feira, junho 09, 2009


SALGUEIRO MAIA


De todos os oficiais do Movimento dos Capitães que participaram na Revolta Militar do 25 de Abril de 1974, Salgueiro Maia foi aquele que mais conquistou a nossa simpatia e admiração o que aumentou ainda mais a grande consternação que sentimos pelo seu desaparecimento prematuro, vítima de um cancro, em 1992, sem que as instâncias militares, em vida, tenham reconhecido os seus méritos.

É verdade que o filme de Maria de Medeiros sobre a Revolução dos Cravos e o Documentário da SIC, focados na intervenção e na pessoa dele, que todos os anos têm passado na Televisão para celebrar a data – não perco nenhum embora já os saiba de cor - , contribuíram decisivamente para que esses sentimentos se desenvolvessem e com o tempo criado raízes, atrevo-me a dizer, na generalidade dos portugueses.

Ambos os espectáculos foram concebidos no rigor e na verdade dos acontecimentos, pelo que nos foi possível, a todos nós, espectadores, avaliar em todos os momentos decisivos da missão que lhe foi atribuída, o rigor, competência, coragem, firmeza e determinação, que não lhe diminuíram em nada, o cuidado, a preocupação e o sentido cívico com que pautou toda a sua intervenção para tentar evitar qualquer acção de confronto pelas armas que poderia ter descambado numa luta fratricida, e conseguiu-o.

Eis a missão que lhe foi atribuída para ser cumprida sob o seu comando:

- “Instalar em Lisboa controlando os acessos ao Banco de Portugal, Companhia Portuguesa Rádio Marconi e Terreiro do Paço e estabelecer ligação com o PC na sede de ligação”

A História conta-nos, depois, que esta missão foi cumprida por Salgueiro Maia com êxito total, de tal forma que um confronto entre militares que poderia ter acontecido e dado origem a um “banho” de sangue fratricida, transformou-se e ficou conhecido em todo o mundo pela Revolução dos Cravos.

A simplicidade do Relatório que Salgueiro Maia redigiu e deixou para a História sobre a “OPERAÇÃO FIM DE REGIME” que ele executou como Comandante, diz tudo do carácter e do homem que ele foi. As pessoas são grandes quando conseguem fazer coisas grandes com a mesma simplicidade com que fazem as coisas simples.
Este espírito de simplicidade que sempre esteve presente em todos os momentos da sua missão e que ressaltam, depois, para a escrita do Relatório, salientado por José Niza, foi fundamental para o sucesso daquela que ficou conhecida pela Revolução dos Cravos em Portugal. Um homem simples e respeitador dos seus ideais e valores que integravam o respeito pelas hierarquias militares de que fazia parte, tanto elas estivessem do lado da sua barricada, como na barricada oposta.

Após ter terminado a sua missão reentrou à 01H30 do dia 26 de Abril, na sua Unidade, Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Desde entã0, recusou qualquer protagonismo político e participação no novo poder. Este facto conferiu-lhe o carácter “do herói romântico” tão do nosso agrado e tão pouco vulgar na vida real.

Das muitas Operações em que participou e sobreviveu, na Guiné e em Moçambique, durante a Guerra Colonial, não conseguiu ultrapassar a última, em 1991...faleceu a 4 de Abril de 1992 de cancro, com 48 anos.

A Câmara Municipal de Santarém decidiu publicar e fazer distribuir pelas escolas do Conselho, um documento sob a forma de revista, que apresenta na capa a fotografia de Salgueiro Maia encabeçada pelo título “Operação Fim de Regime” e que transcreve o relatório redigido por Salgueiro Maia da operação militar do 25 de Abril.

Este documento que me foi cedido, gentilmente, pela sua viúva, professora na Escola Ginestal Machado, tem dois pequenos prefácios, um do Presidente da Câmara, Moita Flores, e o outro de José Nisa, munícipe de Santarém, democrata, médico, poeta, político, que foi autor da letra da Canção “E Depois do Adeus” que serviu de Senha no Movimento Militar do 25 de Abril.

Pela muita admiração e apreço que nutro pelo Cap. Salgueiro Maia, transcrevo aqui, no Memórias Futuras, esse documento histórico que é o Relatório da Operação Fim de Regime, e faço-o no dia 10 de Junho, Dia de Portugal e das Comunidades, este ano celebrado em Santarém pelo Presidente da República e em que o seu momento alto é exactamente junto à estátua de Salgueiro Maia.

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