Tieta do Agreste
EPISÓDIO Nº 160
EPISÓDIO Nº 160
-Porque desistiu, Comandante. Como o loteamento não foi para a frente, ele desistiu. Mas agora disse que não volta sem ter descoberto quais são realmente os proprietários – informa o genro – Pelo que ele soube pelos técnicos da Brastânio que apareceram por aqui, antes de eu ter chegado, o local ideal para a fábrica, aliás, as fábricas, pois são duas, interligadas, fica um pouco mais abaixo dos terrenos dele, nas margens do rio. O tal cara queria saber a quem pertenciam para informar os directores com vistas a negócio. Seu Modesto fez boca-de- siri, é claro.
- Se andaram se informando na cidade devem estar certos que o coqueiral pertence aos pescadores ou que não tem dono, é o que todo mundo pensa em Agreste.
- Seu Modesto me disse que comprou toda a área de propriedade dos pescadores.
- É verdade.
- Agora quer o resto para revender à Brastânio. A estas horas, deve estar no cartório, infernando doutor Franklin.
Entretidos na conversa, não repararam na aproximação do austero doutor Caio Vilasboas. No veraneio, o médico abandona o formalismo habitual, despe-se do colarinho duro, passa o dia de pijama e, se é obrigado a sair de casa, acrescenta o guarda pó azul que usa quando toma a marinete de Jairo. Ao passar por eles, cumprimenta mas evita parar, leva pressa, anda em direcção à praia. Seguem-no com os olhos, curiosos.
- Será que tem alguém doente? – preocupa-se o Comandante ao ver o médico desviar o rumo para as casas dos pescadores. – Doutor Caio nunca vem por essas bandas.
O engenheiro palpita:
- Não será outro candidato a comprar o coqueiral? Pensando que pertence aos moradores?
- É isso, não é outra coisa, você acertou em cheio. A corrida está começando. Sabe, doutor Pedro, na canoa eu vinha dizendo a Tieta que a gente precisa de reagir, protestar, impedir essa monstruosidade.
- De acordo mas de que jeito? Como diz Giovanni Guimarães, o pessoal do cacau tem força política, o de Recôncavo, também. Mas aqui todo o mundo vai achar que pode ganhar dinheiro com a instalação da fábrica.
- Se Tieta tomar a frente, o povo fica do nosso lado.
O engenheiro concorda, sorri para Tieta:
- Isso é verdade. Seu Modesto diz que o povo botou dona Antonieta no altar, junto da Senhora Sant’Ana. E teve porquê
- O ruído de um motor, descendo o rio.
- É o barco de Pirica – reconhece o Comandante.
O barco enfrenta a rebentação, trás um passageiro. Olho de marujo, comandante Dário o identifica:
- Edmundo Ribeiro por aqui? Não me diga que…
O colector, acompanhado do filho Leléu, desembarca na praia, em frente às cabanas para as quais se encaminha, os pés afundando na areia. O engenheiro completa a frase do Comandante, deixada pelo meio:
- … veio em busca dos proprietários do coqueiral, sim, senhor. Com certeza.
Mais um. Vai ser uma loucura. Temos de fazer alguma coisa, logo.
- O que é que se pode fazer? - pergunta o barbudo: - Se fosse em Salvador, a gente mobilizava os estudantes, ia aos jornais, ameaçava com uma passeata. Mas aqui…
O Comandante coça a cabeça, pensativo. Protestar, sim, era indispensável. Mas como? Que diabo podiam fazer mesmo com Tieta à frente, obtendo o apoio do povo?
- Fazer o quê, também Tieta deseja saber.
Vestido de calção de banho, descalço, torso nu, cor de bronze, parecendo mais um jovem pescador do que um levita do santuário, Ricardo volta a se fazer ouvir, voz sem apelação:
- No dia em que esses sujeitos aparecerem de novo em Agreste ou em Mangue Seco, a gente bota eles para correr.
- Hein? – Exclama o Comandante antes de explodir de entusiasmo. – Cardo, exulta Tieta, voltada para o sobrinho, seu menino, bode inteiro e macho, bodastro.
- Toque aqui – o engenheiro estende a mão ao seminarista.
Por entre a meia dúzia de choupanas, os vultos do Doutor Caio Vilasboas e do colector Edmundo Ribeiro cruzam-se, inaugurando a bolsa de imóveis na praia de Mangue Seco.
- Se andaram se informando na cidade devem estar certos que o coqueiral pertence aos pescadores ou que não tem dono, é o que todo mundo pensa em Agreste.
- Seu Modesto me disse que comprou toda a área de propriedade dos pescadores.
- É verdade.
- Agora quer o resto para revender à Brastânio. A estas horas, deve estar no cartório, infernando doutor Franklin.
Entretidos na conversa, não repararam na aproximação do austero doutor Caio Vilasboas. No veraneio, o médico abandona o formalismo habitual, despe-se do colarinho duro, passa o dia de pijama e, se é obrigado a sair de casa, acrescenta o guarda pó azul que usa quando toma a marinete de Jairo. Ao passar por eles, cumprimenta mas evita parar, leva pressa, anda em direcção à praia. Seguem-no com os olhos, curiosos.
- Será que tem alguém doente? – preocupa-se o Comandante ao ver o médico desviar o rumo para as casas dos pescadores. – Doutor Caio nunca vem por essas bandas.
O engenheiro palpita:
- Não será outro candidato a comprar o coqueiral? Pensando que pertence aos moradores?
- É isso, não é outra coisa, você acertou em cheio. A corrida está começando. Sabe, doutor Pedro, na canoa eu vinha dizendo a Tieta que a gente precisa de reagir, protestar, impedir essa monstruosidade.
- De acordo mas de que jeito? Como diz Giovanni Guimarães, o pessoal do cacau tem força política, o de Recôncavo, também. Mas aqui todo o mundo vai achar que pode ganhar dinheiro com a instalação da fábrica.
- Se Tieta tomar a frente, o povo fica do nosso lado.
O engenheiro concorda, sorri para Tieta:
- Isso é verdade. Seu Modesto diz que o povo botou dona Antonieta no altar, junto da Senhora Sant’Ana. E teve porquê
- O ruído de um motor, descendo o rio.
- É o barco de Pirica – reconhece o Comandante.
O barco enfrenta a rebentação, trás um passageiro. Olho de marujo, comandante Dário o identifica:
- Edmundo Ribeiro por aqui? Não me diga que…
O colector, acompanhado do filho Leléu, desembarca na praia, em frente às cabanas para as quais se encaminha, os pés afundando na areia. O engenheiro completa a frase do Comandante, deixada pelo meio:
- … veio em busca dos proprietários do coqueiral, sim, senhor. Com certeza.
Mais um. Vai ser uma loucura. Temos de fazer alguma coisa, logo.
- O que é que se pode fazer? - pergunta o barbudo: - Se fosse em Salvador, a gente mobilizava os estudantes, ia aos jornais, ameaçava com uma passeata. Mas aqui…
O Comandante coça a cabeça, pensativo. Protestar, sim, era indispensável. Mas como? Que diabo podiam fazer mesmo com Tieta à frente, obtendo o apoio do povo?
- Fazer o quê, também Tieta deseja saber.
Vestido de calção de banho, descalço, torso nu, cor de bronze, parecendo mais um jovem pescador do que um levita do santuário, Ricardo volta a se fazer ouvir, voz sem apelação:
- No dia em que esses sujeitos aparecerem de novo em Agreste ou em Mangue Seco, a gente bota eles para correr.
- Hein? – Exclama o Comandante antes de explodir de entusiasmo. – Cardo, exulta Tieta, voltada para o sobrinho, seu menino, bode inteiro e macho, bodastro.
- Toque aqui – o engenheiro estende a mão ao seminarista.
Por entre a meia dúzia de choupanas, os vultos do Doutor Caio Vilasboas e do colector Edmundo Ribeiro cruzam-se, inaugurando a bolsa de imóveis na praia de Mangue Seco.
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