segunda-feira, julho 06, 2009


TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 175






ONDE SE ENTERRA O VELHO ZÉ ESTEVES, LIVRANDO DE SUA RÚSTICA E INSOLENTE PRESENÇA AS APRAZÌVEIS PÁGINAS DESTE EMOCIONANTE FOLHETIM



O enterro de Zé Esteves serviu para provar o prestígio de Tieta. Tivesse o Velho batido as botas antes de ela voltar à cidade, paulista, viúva e rica e, além da família, talvez o acompanhamento não reunisse sequer uma dúzia de pessoas.

Devido à estada de Tieta transformou-se num acontecimento. Antes da saída do féretro, padre Mariano celebrou missa de corpo presente em casa de Elisa, rogando a Deus receber em seu seio aquela alma, amparando-a com a sua infinita misericórdia. De muita misericórdia precisa a alma de Zé Esteves, pensa o padre enquanto pronuncia palavras de louvor e sentimento. Buscou qualidades do finado a elogiar e, não as encontrando, elogiou as filhas, possuidoras as três de virtudes peregrinas, citando a devoção de Perpétua, um dos pilares da paróquia, modelo de mãe católica, a modéstia de Elisa e o seu devotamento ao marido, esposa exemplar e, por fim, os excelsos predicados de Antonieta, cujo cônjuge portara, devido a méritos excepcionais, título e consideração do Vaticano, concedido pelo Pai da Cristandade, Sua Santidade o Papa, o que a fazia pessoa da Igreja. Com sua frutuosa visita, propiciara a Agreste benfeitoria de incalculável valor, a luz de Paulo Afonso, e à Matriz concedera a nova instalação eléctrica. Dera, ademais, heróica prova de dedicação e amor ao próximo, atirando-se às chamas, com risco de vida, para salvar de morte horrível uma pobre anciã. Pouco faltou para os assistentes aplaudirem a eloquência do reverendo ma exaltação das virtudes das irmãs Esteves, a Batista, a Simas e a Cantarelli; da última as virtudes e os feitos.

A população compareceu em massa. Nas alças do caixão além de Astério, os notáveis da cidade: o vate Barbozinha, Modesto Pires, o comandante, Doutor Vilasboas, Osnar, Ascânio Trindade, Ascânio apresentara pêsames em nome do padrinho, coronel Artur de Figueiredo, prefeito em exercício que se deixara ficar na Tapitanga. Não comparece a enterro de velho. Morte e funeral de menores de sessenta não lhe fazem mossa. Mas falecimentos de ancião deixam-no amofinado. Manda pedir desculpa às irmãs e a Astério, aparecerá depois para as condolências.

Do bolso de Ascânio sobram as páginas dos jornais enviadas pelo doutor Mirko Stefano. Pretende esfregá-los nas fuças do Comandante, fazendo-o engolir o insulto, a acusação de desonestidade. Esfregar, engolir: força de expressão. Tais pretensões não em violências físicas e sim em reparação moral. Segurando a alça do caixão, ajudando a depositar na cova o corpo de Zé Esteves, Ascânio Trindade estufa o peito, eleva e exibe o altivo
penacho de capitão dos
mosquiteiros de Agreste, D’Artagnan da aurora.

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