segunda-feira, julho 13, 2009


TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 181







- Agora prestem atenção, vamos conversar uns assuntos. – Deposita em cima da mesa o maço de dinheiro recebido de Josafá, reduzido da parte de Perpétua e do pagamento das despesas feitas e das missas a rezar. À vista do dinheiro, Elisa estanca o choro, Tonha olha, curiosa:

- São as economias do Velho – diz Tieta.

Tonha reconhece a fita cor-de-rosa ainda a atar o pacote:

- Até tinha me esquecido. Você encontrou dentro do colchão, não foi? Ele fez um buraco no pano, todo mês botava mais, amarrado com essa fita, embrulhado num pedaço de jornal. Me fez jurar, pela alma da minha mãe, nunca dizer nada a ninguém. Todo o dia tirava para ver; acordava de noite se punha a contar.

- Foi pai quem retirou antes de morrer, daqui a pouco explico para quê. Antes quero da a vosmicê a sua parte.

- Minha parte?

- Metade do dinheiro que ele deixou é seu, é da esposa. A outra metade é das filhas, Perpétua, Elisa e eu. Paguei a Perpétua as despesas que ela fez com o funeral: caixão, cova, padre, os gastos com a sentinela, os guaranás e os sanduíches. Já dei também a parte dela, o que está aí é o que sobrou. – Com a minúcia de quem está habituada a fazer contas, a manobrar crédito e débito, informa sobre o total do pé-de-meia, o montante das despesas, as divisões feitas e quanto cabe a Tonha e a cada irmã. Conta as notas sujas e gastas, muitas vezes manuseadas, entrega uma parte à viúva. – Esse dinheiro é seu, mãe Tonha, não dê a ninguém, guarde para alguma necessidade urgente. Depois que se vender o relógio vai ter um pouco mais.

Separa o resto em dois montes, sua quota e a de Elisa, deixa-os sobre a mesa, ignorando a mão estendida da irmã:

- Um momento, Elisa, ouça primeiro o que eu vou dizer. O Pai morreu quando tinha acabado de fazer negócio com Jarde Antunes para comprar a terra e o rebanho dele, uma propriedade que não é grande mas, pelo que sei, é muito bem cuidada e dá uma boa renda. Faz divisa com a fazenda de Osnar. O Velho me pediu para completar o pagamento, queria ter um pedaço de terra e umas cabras. Acho que não era tanto pelo lucro, era mais pela satisfação. Gostava dos bichos e gostava de ter importância.

- Se gostava… - concorda dona Carmosina até então ouvinte silenciosa. Para ela, a existência de dinheiro escondido por Zé Esteves não constituíra surpresa.

- Sabia disso, Elisa? Dessa compra?

- Astério me contou, seu Jarde disse a ele.

Tieta estende a mão, afaga os cabelos da irmã, quem lhe dera possuir aquela crina negra.

- Então, ouça: o preço que Jarde e Josafá estão pedindo pela propriedade é bem convidativo, eles precisam de dinheiro contado. Até seu Modesto Pires achou barato e Osnar me aconselhou a fechar negócio sem discutir. – Assume um ar executivo, acostumada a lidar com dinheiro, a resolver negócios.

- Meu plano é o seguinte, juntamos as duas partes, a tua e a minha, eu boto o que falta e compramos para tu e Astério, a escritura passada em nome de vocês. Para não continuarem a viver nesse aperto, contando os níqueis. Com a loja e o criatório, vai dar de sobra. A propriedade dá uma boa renda e ainda por cima é vizinha da de Osnar, ideal para Astério. Estou ajudando os meninos de Perpétua, quero ajudar vocês também. Com a morte do Velho, quando a casa ficar pronta, vocês vão morar lá, com Tonha. Era o que eu queria dizer. – Na voz, aquela satisfação
provinda
da alegria de dar, de concorrer para melhorar a vida da irmã e do cunhado.

Site Meter