TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 187
EPISÓDIO Nº 187
Ali os dois casais se deram e se possuíram, também ela e Lucas, quando o jovem médico lhe revelou os requintes do prazer, as loucas e absurdas regras do ipicilone. Nada se compara, porém, ás noites de Tieta e Cardo, o fogo do sobrinho adolescente, a ardida fogueira da tia em plena madurez.
Virá após o Te Deum e o foguetório; deve esperar na rede que Perpétua e Leonora se recolham e durmam para somente então cruzar numa passada o corredor e vir aninhar-se no seu regaço. Tieta chega à janela aberta sobre o beco, dali não enxerga a Matriz mas distingue o distante rumor das rezas.
O povo de Agreste agradecendo a Deus. Também ela deveria fazê-lo mas nunca foi chegada a orações e missas, pouco sabe de religião. Padre Mariano, interesseiro e adulador, declara que ela, Tieta, viúva de comendador do Papa, é parte integrante da Igreja de Roma. Devido a Felipe, reverendo? Não era seu marido, apenas seu marchante, ilícita relação. Talvez devido a Ricardo, levita do santuário, menino de Deus, seu menino. Ligação pecaminosa também, padre, em Tieta tudo é espúrio, tudo é farsa.
Volta ao espelho, examina o rosto em geral alegre, nesse instante melancólico. Como acusar os demais de hipocrisia e fingimento? Ela, a viúva Antonieta Esteves Cantarelli, não passa de uma invenção, de uma intrujice armada peça a peça.
Em Agreste houve Tieta, pastora de cabras, cabra ela própria, em cio. Em São Paulo, existe, famosa e rica proxeneta, Madame Antoinette, francesa de Martinica. Antonieta Esteves Cantarelli não existe.
Será que não existe, que não serve para nada? Ricardo lhe fizera desprezar o lucro de um bom investimento do coqueiral para sair em defesa do clima, do céu, das águas de Agreste, dando realidade e vida a Antonieta Esteves Cantarelli, ao lhe dar uma causa e uma bandeira. Seu menino. Sorri para a imagem no espelho, nem triste nem cansada.
Despe a camisola, estende-se nua na cama para esperá-lo, vestida apenas com as marcas roxas dos lábios e dos dentes de Ricardo e vagos vestígios das queimaduras. Estará dormindo quando ele entrar, acordará em seus braços, juntos romperão o Ano-Novo. Com atraso e sem champanha, detalhes de pouca importância se comparados à ternura e ao desejo desmedidos. Acenderão os fogos de madrugada para saudar o Ano-Novo e, na barra da manhã, em homenagem, praticarão o ipicilone duplo. O duplo, não o simples. Para executá-lo como devido, na exactidão das regras absurdas, loucas e no entanto rígidas e inalteráveis, necessita-se de matrona experiente de cama, da máxima competência, e de adolescente ávido de gozo. Ou vice-versa, um veterano de mil batalhas e uma recruta apenas púbere. Em qualquer dos casos, no desvario da paixão.
Virá após o Te Deum e o foguetório; deve esperar na rede que Perpétua e Leonora se recolham e durmam para somente então cruzar numa passada o corredor e vir aninhar-se no seu regaço. Tieta chega à janela aberta sobre o beco, dali não enxerga a Matriz mas distingue o distante rumor das rezas.
O povo de Agreste agradecendo a Deus. Também ela deveria fazê-lo mas nunca foi chegada a orações e missas, pouco sabe de religião. Padre Mariano, interesseiro e adulador, declara que ela, Tieta, viúva de comendador do Papa, é parte integrante da Igreja de Roma. Devido a Felipe, reverendo? Não era seu marido, apenas seu marchante, ilícita relação. Talvez devido a Ricardo, levita do santuário, menino de Deus, seu menino. Ligação pecaminosa também, padre, em Tieta tudo é espúrio, tudo é farsa.
Volta ao espelho, examina o rosto em geral alegre, nesse instante melancólico. Como acusar os demais de hipocrisia e fingimento? Ela, a viúva Antonieta Esteves Cantarelli, não passa de uma invenção, de uma intrujice armada peça a peça.
Em Agreste houve Tieta, pastora de cabras, cabra ela própria, em cio. Em São Paulo, existe, famosa e rica proxeneta, Madame Antoinette, francesa de Martinica. Antonieta Esteves Cantarelli não existe.
Será que não existe, que não serve para nada? Ricardo lhe fizera desprezar o lucro de um bom investimento do coqueiral para sair em defesa do clima, do céu, das águas de Agreste, dando realidade e vida a Antonieta Esteves Cantarelli, ao lhe dar uma causa e uma bandeira. Seu menino. Sorri para a imagem no espelho, nem triste nem cansada.
Despe a camisola, estende-se nua na cama para esperá-lo, vestida apenas com as marcas roxas dos lábios e dos dentes de Ricardo e vagos vestígios das queimaduras. Estará dormindo quando ele entrar, acordará em seus braços, juntos romperão o Ano-Novo. Com atraso e sem champanha, detalhes de pouca importância se comparados à ternura e ao desejo desmedidos. Acenderão os fogos de madrugada para saudar o Ano-Novo e, na barra da manhã, em homenagem, praticarão o ipicilone duplo. O duplo, não o simples. Para executá-lo como devido, na exactidão das regras absurdas, loucas e no entanto rígidas e inalteráveis, necessita-se de matrona experiente de cama, da máxima competência, e de adolescente ávido de gozo. Ou vice-versa, um veterano de mil batalhas e uma recruta apenas púbere. Em qualquer dos casos, no desvario da paixão.
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