quinta-feira, agosto 27, 2009


Estamos a Dançar com Fantasmas Diferentes






Tanto quanto sabemos, baseando-nos na informação de que dispomos actualmente, os nossos antepassados saíram de África, ou permaneceram, no caso dos africanos, há aproximadamente setenta mil anos e espalharam-se pelo planeta, tendo chegado à Austrália há aproximadamente sessenta mil anos e às Américas há cerca de trinta mil.

Podemos agradecer à inteligência esta expansão, pois ela exigiu a solução para diversos problemas a uma grande escala.

Para onde quer que fôssemos, descobríamos como extrair comida do ambiente, até estarmos a comer tudo, desde sementes até baleias.

Em seguida descobrimos como produzir os nossos próprios alimentos, não uma mas numerosas vezes em várias regiões do planeta, como Jared Diamond relatou no seu livro mais conhecido: “Guns, Germs and Steel”, 1997, vencedor do Prémio Pulitzer. (Jared Diamond é actualmente professor de Geografia e Ciências da Saúde Ambiental na Universidade da Califórnia, Los Angeles).

Em cada população humana, a lenta sabedoria da selecção natural seguia para onde a rápida sabedoria da inteligência a conduzia.

Em civilizações que criavam gado, pela primeira vez na história dos mamíferos, o leite transformou-se um recurso para adultos. A princípio era difícil de digerir porque o corpo dos mamíferos está adaptado para encerrar o sistema digestivo dos bebés (plano A) e dar início ao sistema digestivo dos adultos (plano B) na altura do desmame.

Pôr os micróbios a fazerem a digestão fermentando o leite proporcionou uma solução de curto prazo. Mutações genéticas ocorridas então permitiram aos seres humanos adultos digerirem-no o que constituiu uma vantagem suficiente para se tornarem comuns em populações criadoras de gado.

Na década de 1950, os programas americanos de ajuda ao estrangeiro passaram a incluir leite em pó para todo o mundo, produzindo flatulência generalizada em regiões onde as pessoas não estão geneticamente adaptadas a digerirem leite em adultos.

Outras populações humanas começaram da mesma maneira a tornarem-se geneticamente adaptadas às suas dietas particulares.

Milhares de anos são tempo suficiente para permitir este tipo de diversificação genética. Lentamente, cada uma das diferentes populações humanas, começou a realizar os passos de dança certos para o seu ambiente, passos estes que podem ser estragados com as migrações em massa ou com as alterações ambientais.

Então, voltaremos a assistir ao sonho irreal em que os dançarinos, volteando no salão de baile, dançam com fantasmas até mergulharem, inexoravelmente, no abismo.



"Evolução Para Todos" de David Sloan Wilson

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