quinta-feira, setembro 17, 2009


TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 235



Devo acrescentar que me bati por sua terra, gostei muito de Agreste, especialmente da praia. Outros centros, dotados de maior infra – estruturas, tentaram ganhar nossa preferência, oferecendo vantagens diversas, inclusivé isenção de impostos. Não é o que nos interessa. Sendo uma empresa pioneira, a Brastânio preferiu uma zona mais distante, desamparada até agora, da qual seremos a alavanca do progresso. Como você disse muito bem: a Brastânio será a redenção de Agreste. Custa-nos mais dinheiro porém atingimos o nosso maior objectivo: servir.

Toca o botão de uma campainha, em cima da mesa, levanta-se, vem até Ascânio, estende-lhe a mão:

- Em sua qualidade de prefeito, ou de representante do prefeito do município de Sant’Ana do Agreste, receba minhas calorosas felicitações.

Ascânio põe-se de pé, o aperto de mão parece-lhe insuficiente, parte para o abraço. Bety surge, seguida pelo boi: bandeja de acrílico, vermelha, taças de cristal, escura garrafa de champanha. Vendo apenas taças, o Magnífico ordena uma terceira, corre o boi a buscá-la. Enquanto desarrolha a garrafa, com extremo cuidado, quase devoção, doutor Mirko, em seu elemento, esclarece:

- Don Perignon. Conhece certamente…

Teve vontade de dizer que sim, mas confessa:

- Não, dessa nunca bebi. Uma vez provei uma chamada… Viúva…

- Veuve Clicquot.

A rolha salta no festivo ruído habitual, o Magnífico serve, entrega uma taça a Bety.

- Ela e eu fomos os primeiros a pisar em Agreste. Os descobridores.

- Houve quem pensasse que fossem marcianos, gente do espaço – conta Ascânio.

Riem, recordando o assombro do povo de Agreste. Bety tem boa memória:

- O lindo me perguntou se eu era marciana ou polaca. Uma graça.

- Boa gente – conclui doutor Mirko, erguendo a taça – Bebo à prosperidade de Agreste e do homem valoroso que comanda seu destino, meu amigo Ascânio Trindade. Tchim – Tchim.

Tocam-se as taças no brinde, sons de cristal. Assim é o riso de Leonora. Ela ficaria orgulhosa se estivesse ali, naquele momento, e modularia o verso do poema renegado de Barbozinha: Ascânio Trindade, capitão da aurora. Bety se aproxima e o beija nas faces: parabéns, amor. Depois, retira-se.

Doutor Mirko volta a servir, senta-se na borda da mesa, faz sinal para que Ascânio se acomode na cadeira. Expõe ideias e planos:

- Queremos que, quando entrarmos com nossa proposição, você já esteja eleito, se possível. Tratamos de apressar a data da eleição, doutor Bardi interessou-se pessoalmente, o Tribunal Eleitoral colocou em pauta, ontem doutor Bardi falou com amigos em São Paulo, por telefone, para garantir que a resolução fosse tomada sem falta na sessão de hoje – o Tribunal se reúne uma vez por semana. Tudo certo, tudo OK. Pois não é que o juiz presidente resolveu ter um enfarte hoje de manhã e capotar? Resultado: não há sessão hoje, agora só na próxima semana. Mas, viagem descansado: daqui a oito dias teremos a data.

Serve novamente com delicadeza; o champanha lhe merece respeito e estima. Realmente aprecia e conhece:

- Bebo uísque quando estou em companhia de amigos, num bar, numa festa. Mas do que gosto mesmo é de champanhe – Jamais pronuncia champanha, parece-lhe um palavrão grosseiro – Como Rosalvo lhe adiantou, seguiu uma equipa de técnicos para Mangue Seco. Ao mesmo tempo estamos preparando toda a documentação necessária para requerer ao Governo do Estado e, em seguida, à Prefeitura do Agreste, a autorização para dar início às obras. Pensamos em recrutar trabalhadores em toda a região, inclusive em Sergipe. Em breve, receberemos os estudos para a rectificação e pavimentação da estrada que liga Agreste a Esplanada. Está tudo em marcha, mon
vieux.

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