terça-feira, dezembro 22, 2009


ADEUS,
TIETA do
AGRESTE








Ao fim de 311 episódios chegamos ao fim da história da Tieta e termino como a minha avó me costumava dizer:

- “Glória, glória e acabou-se a história…”

Creio que vamos sentir saudades da Tieta: personalidade marcante, frontal, corajosa, solidária, sensual e arrebatada que não mede os comportamentos quando se trata de satisfazer paixões. Mesmo assim, talvez o mundo fosse melhor se houvesse mais “Tietas”… como ela, também dotadas de sensibilidade e militância ecologista… sem dúvida que seria!

Ascânio Trindade não merecia ser feliz com Leonora. Esmagou sentimentos revelando total insensibilidade para com Leonora e ele próprio sob o peso dos preconceitos e uma pessoa preconceituosa, no dizer sincero e contundente do “nosso” Baptista-Bastos, “esconde um racista e um racista oculta um verdugo e dissimula um canalha”.

Perpétua é o exemplo chapado do que a fidelidade cega a uma pretensa moralidade religiosa pode fazer às pessoas: transforma-as em “monstros”.

E Ricardo, seguirá a via eclesiástica? Jovem de bom carácter, aprendeu a ser homem com Tieta e esclareceu as suas ideias com frei Timótio. Tem tudo para ser um bom cidadão, padre ou não padre.

Agradeço a Jorge Amado a lição de vida que nos deu: quem viveu em terras pequenas onde todos se conhecem sabe que “aquela” gente, com retoques aqui ou ali, existe e é fácil, nós próprios, leitores, transformarmo-nos em personagem fantasma que vive, convive, alegra-se e anseia, toma partido, embirra, simpatiza e preocupa-se com cada um dos personagens da história.

Na aldeia dos meus avós, para a parecença ser maior, até uma marinete havia…a camioneta da carreira, que chegava todos os dias, lá pelo fim da tarde.


Mas o nosso compromisso não é com Tieta mas sim com Jorge Amado, o mais famoso escritor internacional em língua portuguesa partilhado com orgulho por portugueses e brasileiros e que se tornou entre nós, portugueses, extremamente popular, sobretudo a partir da adaptação televisiva do seu romance “Gabriela, Cravo e Canela”.

O seu lugar único e inconfundível é a Baía, tendo nascido em Itabuna, 1912. Frequentou o Colégio de Jesuítas de Salvador, e logo aí se revelaram os seus dotes literários. Em 1927 torna-se jornalista e funda com alguns amigos a Academia dos Rebeldes.

Em 1931, publica o seu primeiro romance intitulado “País do Carnaval”. Vai começar então uma produção imensa que faz parte do mais profundo do imaginário brasileiro. As suas personagens passaram a viver na própria realidade em que o escritor as inventou, tornando-se símbolos de uma energia sensual e revoltada, para quem a liberdade e o amor são sempre valores essenciais tendo a sua literatura transformado-se num modelo socialmente empenhado.

Aderiu ao Partido Comunista Brasileiro mas com o tempo e as lições da história abandonou a ortodoxia comunista sem nunca deixar de ter uma ligação profunda com a realidade popular, que celebra através de figuras poeticamente boémias e literárias, possuídas pelo sonho e o gosto da paixão: negros, velhos marinheiros, prostitutas, aventureiros marginais.

Entre os muitos outros romances de Jorge Amado, “Dona Flor e os seus Dois Maridos”, diversas vezes adaptado para televisão e para o cinema, será a nossa próxima história, aqui, no Memórias Futuras.

Conta a história de Florinda, uma moça muito prendada, cuja mãe, megera, queria que ela arranjasse homem rico e…o resto logo se verá.

Aqueles que a partir de determinado momento começaram a seguir a história da Tieta, poderão agora, desde o princípio, acompanhar Dona Flor e seus Dois Maridos, romance que ainda não li pelo que irei ser mais um leitor interessado em cada episódio diário colocado no Memórias Futuras.

Jorge Amado é o autor preferido por 9 de cada 10 leitores brasileiros e isso só é possível porque nas suas dezenas de romances, demonstra uma poderosa capacidade de contar histórias num estilo veemente e apaixonado, tudo temperado com um humor vivaz e uma picardia erótica bem ao nosso gosto, de brasileiros e portugueses.

Dona Flor e seus Dois Maridos (1967) é um romance actual que se lê com prazer pois reúne dois temas que nos são muito caros: a boa mesa e a boa cama.

Ler e contar histórias era um velho hábito que entretanto se perdeu na voragem dos novos usos e costumes das telenovelas de “cordel”. Mas, mesmo quando baseadas em bons romances, como os de Jorge Amado, perdem muito para a obra escrita como, fatalmente, sempre acontece.

Juntamente com o Natal, entrará em cena Dona Flor…

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